Por Valesca de Assis, escritora
O primeiro verão da escritora Valesca de Assis guarda uma bela história de domingo. Enquanto pai e mãe se refrescavam no Rio do Mel, a comportada menina assistia a tudo rindo e batendo palmas.
Nenhum leitor acertou que a criança da foto da pa´gina 29 de Zero Hora de terça-feira era Valesca de Assis.
A menina ainda não podia banhar-se no Rio do Mel, em Iraí, mas foi ali que a família decidira passar o domingo. A menina era uma coisinha tão nova e delicada que nem conhecia um verão. A mãe e o pai também eram novos e, com medo de a criança se gripar, encheram-na de roupa e nunca souberam o calor que ela passou.
Depois do churrasco e da sesta, os pais procuraram um lugar seguro para deixar seu bebê; estavam doidos para irem se refrescar no rio. No cestinho não dava, pois o mato, ali atrás, era cheio de insetos, aranhas e até cobras. O pai achou que a carroceria de uma caminhonete que ali estava fosse o melhor. A mãe ajeitou a menina de pé, dentro da carroceria. Do lado de fora, a mãe começou a brincar de esconde-esconde.
Primeiro, desaparecia, agachando-se; logo depois, levantava-se:
- Uuú, nenê, uuú, a mamãe voltou!
O bebê ria e batia palmas. A mãe começou a demorar sempre um pouquinho mais a aparecer, e a menina olhou para baixo, pois descobrira ser por ali que a mãe sumia. O pai tirou um retrato, para não esquecerem jamais daquela esperteza. O avô estava junto, e também fez uuú, nenê, uma ou duas vezes, mas queria mesmo era pescar jundiás e se foi para mais longe, onde os banhistas não espantassem os peixes.
Quando a menina parecia estar bem acostumada a ver que todos os que sumiam voltavam, pai e mãe entraram na água. A mãe dava tchau e sumia no rio escuro. Mas logo voltava: uuú, nenê; uuú! O pai também.
Um de cada vez, para ficarem de olho na filhinha. Depois, os pais saíram da água, enrolaram-se em toalhas e foram beijar e abraçar aquele nenê tão comportado. Foi assim, já no primeiro verão, que a criança aprendeu a não ter medo.
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