Por Mariana Bertolucci, jornalista e escritora
Na praia que traz de volta a criança que há em Mariana Bertolucci, os dias se dividiam entre comer crepe, churros e melancia, andar de bicicleta, jogar baralho e sair à noite para o centrinho, tudo junto com uma turma divertida que não iria se separar nunca.
Nenhum leitor acertou que a criança da página 31 da Zero Hora de terça-feira era Mariana Bertolucci.
Não é exclusividade minha vincular o verão e a praia a boas e marcantes lembranças. Ou nosso litoral, não lá muito bem dotado de beleza física, não estaria sempre cheio de pessoas felizes esbaldando-se em pastéis, sorvetes, churrascos, milhos amanteigados, bolinhos de chuva e negrinhos embolotados na panela.
A praia da gente traz de volta as nossas crianças. Comendo churros, melancia, sonho ou crepe. A praia que a gente gosta é boa porque quase sempre foi por lá que aconteceram pela primeira vez as coisas mais bacanas da vida da gente. Onde era possível dormir tarde, acordar mais tarde ainda.
Comer fora de hora, andar descalço, sair à noite com os amigos sem dizer bem para onde, já que o centrinho podia ter mil desvios e cantos mais divertidos que a Adélia, a sorveteria ou o minigolfe. De preferência um lugar onde você pudesse espiar o guri que você passava o ano inteiro suspirando e contando os dias para encontrar de novo.
O vento fresco da liberdade batendo no corpo, o pé na areia, o mar gelado, marrom ou com mãe dágua. E surgem os primeiros vínculos de amizade. Juras de nunca mais se separar daquela turma tão divertida que fazia tudo junto: mergulhos, bici, War, canastra, sapata, cinco-marias e salada de fruta. Onde era possível construir castelos para, em seguida, destruí-los a gargalhadas e sem culpa nenhuma.
Bem diferente dos castelos que a gente segue erguendo e destruindo vida afora. Na praia, não é pecado mortal nem enterrar o irmão na areia só com a cabecinha de fora. Quando crescemos um pouco a praia deixa de ser tão deliciosa e pura para tornar-se um lugar mais emocionante. Tão emocionante que é para lá que você ficava com vontade de se esconder com os amigos no inverno.
Para fazer aquilo que talvez na sua cabeça não combinava com a cidade. Onde se acelera um pouco mais o carro. Se escuta música mais alta, sente-se as primeiras tonturas, arrepios e o primeiro e assustador beijo na boca na Saba depois do melhor Carnaval que poderia existir no mundo.
Onde você deu provavelmente as maiores risadas da sua vida e também onde talvez tenha derramado as mais desesperadas lágrimas. Enfim, por todos esses motivos é que a praia é um pouco da gente.
Se, às vezes, a nostalgia toma conta e lhe presenteia com doses de melancolia no cochilo depois do almoço naquela mesma rede onde você voava anos atrás, esqueça. Suspire com saudade, dê aquele mergulho gelado. A praia segue igual. A gente é que mudou um pouquinho.
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