Por Lauro Quadros, jornalista
A vida do jornalista Lauro Quadros se confunde com o Litoral, onde ele conheceu a mulher, trabalhou como locutor, viu os filhos crescer e, agora, coleciona lembranças
Cinco leitores acertaram que a criança da página 43 da Zero Hora de quarta-feira era Lauro Quadros.
Minha vida se identifica com a praia ou, pretensiosamente, a praia se confunde com a minha vida. Explico. À beira da Lagoa dos Quadros vivi de 1939 a 1945. Minhas primeiras lembranças são as viagens de vapor a Osório, partindo de Cornélios, porto pujante numa época (há 70 anos) sem estradas.
Para dar apenas uma ideia: até 1954, noivos da hoje tão desenvolvida Capão da Canoa, para casar, dirigiam-se ao cartório do Seu Bruno em Cornélios, agora decadente. De lá, no General Osório, uma espécie de catamarã, íamos consultar o Dr. Dani na cidade, até mesmo se o problema fosse um prosaico bicho-de-pé.
Naquela região, hoje municípios de Capão da Canoa, Xangri-lá, Terra de Areia e Arroio do Sal, localizavam-se os campos de meu pai. Se ele não tivesse morrido tão cedo, em 1943, talvez eu estivesse por lá até hoje. Em 1947, já em Porto Alegre, minha mãe foi alertada pelo tio Maneca:
- Comadre, os veranistas estão tomando conta das terras do Zequinha.
Já eram cerca de 80 casas, principalmente de porto-alegrenses (alguns bem conhecidos), onde hoje é Arroio do Sal. Ainda havia uns 200 lotes quando vendemos a praia, muitos anos depois. A escola do município recebeu o nome de meu pai, José Medeiros de Quadros. Arroio do Sal! Lá, há 61 anos, conheci minha mulher, Maria Helena. Eu com 11 e ela com oito anos.
Lá, há 51 anos, vacas magras, passamos nossa lua-de-mel. No hotel do Edgar, foi fabricado nosso filho Marcelo, agora com 50 anos. Na década de 60, quando não havia telefones disponíveis, nem estradas razoáveis, apresentei, durante oito anos, janeiro e fevereiro, um programa de utilidade pública com duas edições diárias.
Locutor e motorista, percorria as praias, de Torres a Quintão, recolhendo as mensagens e socorrendo os incautos que atolavam seus carros no batente da onda, com pá e corrente que eu carregava na brava Rural Willys. Há mais de quatro décadas que veraneamos em Capão da Canoa. Só na casa da Rua Moacir foram 30 anos.
Lá cresceram nossos quatro filhos, mais o Dudu, meu afilhado, e começaram a nos acompanhar os primeiros netos, que agora são seis. Hoje, no Calçadão, o mar visto da janela, as lembranças são muitas. Tantos verões, tantas histórias. Como o desfile de monoquini à beira da praia, para que a loja vendesse ao menos um. Não vendeu.
Ou a transmissão de um eclipse total do sol, no Cassino, em Rio Grande. Três horas ininterruptas, com direito a foguetes da Nasa de 15 em 15 minutos. Querem mais? Chega!
Sabe quem é a pessoa na foto? Clique e dê seu palpite! A resposta será publicada na Zero Hora de sexta-feira.