* Por Gabrieli Chanas, apresentadora do Supersábado, da Rádio Gaúcha, e criadora do blog Noivas.com
Fazer aniversário durante as férias é um drama que acompanha a jornalista Gabrieli Chanas desde seus primeiros verões, em Areias Claras (SC). Ela é a convidada de hoje na série em que personalidades relatam histórias de veraneios marcantes.
Não consigo lembrar de passar o verão em outro lugar além de Areias Claras. A praia, que fica no sul de Santa Catarina, é bem pequena. Dos meus tempos de criança até hoje, pouca coisa mudou. Seguimos sem nenhuma padaria, nenhuma farmácia e só há poucos anos ganhamos nosso primeiro telefone público. Para quem passa apenas alguns dias por ano neste lugar, é uma bênção.
Quase todos os meus aniversários eu passei lá em Areias Claras. Ser criança e fazer aniversário em pleno verão pode ser torturante. Além de perder a comemoração na escola, com direito a abraços da professora e parabéns cantado em coro pelos colegas, eu tinha como convidados das minhas festinhas crianças praticamente desconhecidas.
Eram sempre os filhos dos vizinhos, meninos e meninas que eu ficava um ano sem ver e mal lembrava quem eram. A pior parte de fazer aniversário em janeiro, no entanto, sempre foi o presente.
Quando eu era menor passávamos quase três meses na praia. Saíamos antes do Natal e só voltávamos perto de iniciar o ano letivo, o que na época ainda acontecia apenas na metade de março. Eu partia cheia de desejos, mas esquecia que meus pais fariam as compras dos meus presentes nas lojas das praias próximas a Areias Claras.
As tais praias eram um pouco maiores que a nossa, mas ainda assim não tinham nenhum comércio remotamente parecido com um shopping. Eu pedia Barbies de vestidos de noiva esvoaçantes e ganhava bonecas com braços e pernas colados ao corpo e vestidos feitos com o que parecia ser pano de louça.
Pedia carrinhos de metal, que imitavam os de bebê (para levar os ursos de pelúcia) e ganhava modelos de plástico que perdiam as rodinhas no primeiro passeio. Era o que de melhor as lojas de praia ofereciam. Meus primos que vinham passar o aniversário comigo também faziam as compras por lá e me davam toda sorte de baldinhos e pazinhas para fazer castelos de areia e uma infinidade de maiôs.
Em um dos aniversários a saga dos presentes de praia virou história de família. Todos fizeram a viagem à tal lojinha e, sem saber dos planos uns dos outros, me deram boias de presente. Dos pais eu ganhei boias de braço. Das tias, ganhei boias de perna. Um vizinho me deu boia para a cintura e outro uma daquelas de estilo colchão.
Fiz do limão uma limonada. Levava todas para a beira da praia e emprestava para as outras crianças dando uma de mandona e regulando o tempo de uso. Fui a mais popular daquele verão, com toda certeza.
Neste ano estarei em férias e comemorarei o 17 de janeiro na praia com a família. Todos, no entanto, já foram avisados: só podem participar da minha festa se levarem de Porto Alegre o meu presente de aniversário. A listinha de sugestões eu já passei por e-mail. 34 anos não são mais idade para entrar no mar de boia.
Houve uma vez um verão
"Ser criança e fazer aniversário em pleno verão pode ser torturante"
A jornalista e blogueira Gabrieli Chanas conta suas memórias do litoral gaúcho
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