Basta uma pesquisa rápida pelo termo “remoção de tatuagem” nas redes sociais para que centenas de vídeos sobre o procedimento apareçam na tela. As imagens de “antes e depois” destacam resultados do processo, que está se tornando mais comum entre influenciadores e anônimos.
Recentemente, o homem que chegou a ser considerado o “mais tatuado do Brasil” decidiu iniciar a remoção das tatuagens que tem no rosto. Morador de Bagé, na campanha gaúcha, o fotógrafo Leandro de Souza, 35 anos, vem compartilhando os resultados do procedimento em seu perfil no Instagram.
Há dois dias, Souza contou que passou pela terceira sessão para retirar os desenhos. Embora ainda apareçam, as tatuagens estão bem mais claras.
De acordo com Analupe Webber, dermatologista e diretora da Sociedade Brasileira de Dermatologia Seção RS (SBD-RS), o método que consegue remover tatuagens com maior segurança e menor efeito colateral é o laser — também o mais utilizado. A especialista comenta que existe remoção cirúrgica, mas esse procedimento deixa cicatriz.
— E tem que ser um laser específico para isso, que são os lasers q-switched, de nanossegundos ou de picossegundos. Eles têm especificações diferentes, não são os mesmos utilizados para depilação ou tratamento de outras questões de pele — destaca.
Analupe explica que o laser age como se fosse um martelo no pigmento de tinta, quebrado as “pedrinhas” em partículas infinitamente menores. Esses fragmentos, por sua vez, são absorvidos pelas células de defesa do organismo. O processo requer várias sessões, com clareamento gradual.
Kenselyn Oppermann, professora de Dermatologia do curso de Medicina da Universidade Feevale, acrescenta que o processo é lento, principalmente quando as tatuagens são maiores e com bastante concentração de pigmento. Conforme a docente, em média, são necessárias de oito a 10 sessões, que podem ser feitas a cada 15 ou 30 dias, dependendo do processo de cicatrização da pessoa.
— Quando temos muita concentração de pigmento em uma tatuagem, sempre temos que começar com uma energia menor e ir aumentando gradualmente, conforme a resposta clínica do paciente. Isso é necessário para que se evite complicações, como bolhas e queimaduras — ressalta Kenselyn.
É possível remover completamente?
Segundo as especialistas, nem todas as tatuagens poderão ser removidas totalmente. A dificuldade é maior entre os desenhos com pigmentos claros, como amarelo, branco, laranja e vermelho, aponta a professora da Feevale.
No caso das tatuagens com cores escuras, como preto, azul e verde, a chance de remoção completa é maior.
— Isso porque a afinidade ou o cromóforo-alvo do laser é o pigmento. Então, quanto mais escuro, mais esse laser vai ter afinidade pelo pigmento. É mais ou menos o mesmo raciocínio da depilação a laser, que utiliza outros lasers, mas quer “matar” o pigmento que está no pelo. Então, pelos muito claros têm uma chance grande de não ter sucesso — disse Kenselyn.
Analupe acrescenta que a localização da tatuagem também interfere no resultado, já que os desenhos feitos nas extremidades — braços, mãos, pés e pernas — costumam responder pior ao tratamento. A quantidade de tinta, a espessura do traço e o tamanho são outros fatores que podem dificultar a remoção.
— Os equipamentos de laser também variam bastante. Tem equipamentos mais potentes, com uma qualidade maior, e outros menos. Então, a tecnologia do aparelho varia e isso é extremamente importante para o resultado — afirma a diretora da SBD-RS.
Quais os cuidados necessários
As dermatologistas comentam que a procura pelo procedimento vem aumentando nos últimos anos, mas enfatizam que o resultado não é imediato e que o processo é doloroso, muitas vezes sendo necessário, inclusive, o uso de anestesia local injetável.
— Não é uma coisa isenta de sintomas e o paciente tem que ter paciência e persistência. Ele tem que entender que não é da noite para o dia que vai ser removida uma tatuagem. A expectativa do paciente tem que estar bem alinhada de que são várias sessões e que ainda se corre o risco de não conseguir remover 100% — ressalta a professora da Feevale.
As especialistas salientam a necessidade de buscar profissionais capacitados para realizar o procedimento. Na maioria das vezes, o processo é feito por dermatologistas, mas Kenselyn destaca que profissionais que não são médicos também podem fazê-lo, desde que sejam especializados e tenham conhecimento para manejar possíveis complicações.
Logo após a aplicação do laser, é normal que a pele da região fique mais inchada e vermelha. Bolhas e sangramentos, contudo, não são esperados. Entre os riscos do procedimento, Analupe cita as queimaduras e, consequentemente, cicatrizes.
Além de evitar a exposição solar após o procedimento, a especialista da Feevale recomenda hidratar a região afetada e não remover pequenas crostas que podem se formar na pele.