Foi como se pintasse o arco-íris onde era preto e branco. O cinza que tomou conta do céu da última semana deu lugar ao sol e ao colorido neste domingo (1º) com a 17ª edição da Parada de Luta LGBT+, em Porto Alegre. A manifestação reuniu milhares de pessoas que, durante a tarde, se deslocaram do Parque Farroupilha até a Orla do Guaíba, na altura da Usina do Gasômetro.
Realizada desde 2007, a Parada é organizada por movimentos sociais e busca celebrar conquistas e reforçar as lutas pelos direitos das pessoas LGBTQIA+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Transgêneros, Queer, Intersexuais, Assexuais e demais orientações) — em especial, denunciar a LGBTfobia.
Originalmente, a Parada estava prevista para junho, mas foi adiada por conta da enchente que assolou o Estado em maio. Roberto Seitenfus, um dos coordenadores e apresentadores da Parada de Luta, ressalta que o evento foi realizado em questão da solidariedade — principalmente por sua importância para a comunidade e, como ele acrescenta, pela necessidade política.
— A Parada é um momento pluripartidário, e ter esta retomada é fundamental. Ainda não temos muitos direitos garantidos. As pessoas ainda são mortas por serem LGBTs, então a gente precisa das paradas para alertar isso — frisa Seitenfus.
A concentração da Parada começou a partir do meio-dia na Redenção. Espalhados pelo parque, havia uma diversidade de estilos, cores e bandeiras — a do arco-íris era a mais presente, com direito a versões que incluíam ídolos pop, como Taylor Swift e Jão.
Boa parte do público era composta de pessoas entre o final da adolescência e o jovem adulto, mas idosos não deixaram de marcar presença. Também era possível ver famílias no local. Segundo Seitenfus, havia caravanas de todo o Estado, de localidades como Encantado e Lajeado.
Entre os presentes, a diversidade de estilos variava: havia desde um sexteto vestido de Homem-Aranha com rollers a quem usava poucas peças de roupas e deixava boa parte do corpo à mostra. Havia grupos de góticos assim como se via pessoas com indumentárias de anjo ou demônio. Independentemente do figurino, os participantes se sentiam livres e seguros na Parada. Qualquer forma era válida para se expressar.
É o que observa o porto-alegrense Leonardo de Freitas, 19 anos. Ele vê a Parada como um momento para ser feliz com os amigos, ainda mais depois que ficou um tempo sem sair. Sua casa no Sarandi, na Zona Norte, foi atingida pela enchente, e ele teve que se mudar.
— Durante muito tempo, a gente precisou esconder a nossa identidade e fingir ser outra pessoa. Estamos aqui para celebrar, mostrar que não estamos mais nos escondendo. É uma festa da gente para a gente. Sobre nós — destacou.
O amor também é celebrado na Parada. Entre os casais presentes estava o formado por Julia Jahn, 21 anos, e Quezia Faturi, 22 — ambas da capital gaúcha. As duas estão juntas há um ano e meio e faziam uma estreia, como relata Julia:
— É a primeira vez que viemos em casal à Parada. Queria muito vir com ela. É importante estar em um ambiente com mais pessoas que nem a gente. Nos sentimos representadas.
Festa e discursos
A partir das 16h05min, a Parada partiu da Redenção passando pela Rua Luiz Englert e pela Avenida Loureiro da Silva. Todas as vias estavam com o trânsito bloqueado conforme o desfile avançava.
Ao longo do trajeto, os cinco trios elétricos faziam o povo dançar com música eletrônica e hits pop — vide Lua de Cristal, da Xuxa, a I Will Survive, da Gloria Gaynor, que animaram os presentes.
Vez ou outra, os caminhões serviam de palco para discursos que denunciavam a intolerância. “Lugar de lgbtfóbico, racista e machista é na cadeia”, bradou Seitenfus uma hora. Em outro momento, ele agradeceu ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes por ter suspendido o X no Brasil (“a gente não quer golpe”).
A Parada deste ano também refletiu o período eleitoral em que o evento foi realizado: havia pessoas balançando bandeiras de candidatos à prefeitura e à câmara de Porto Alegre.
Os trios elétricos conduziram a multidão até a Orla do Guaíba, onde um palco montado recebeu mais de 20 atrações, que incluíram apresentações de drags, bandas, artistas solos e dançarinos, com previsão para encerrar pouco antes da meia-noite.