Há 20 anos Rebeca Andrade observava com olhar atento Daiane dos Santos performando o Brasileirinho no solo e o twist carpado. Agora é a medalhista brasileira de ginástica artística que se torna alvo do mirar admirado de uma nova geração. A cada acrobacia executada por ela e pelo time de estrelas que conquistou o Brasil nas Olimpíadas, futuras atletas de um país inteiro repetem o movimento. É inspiração pura.
E elas não ficam só na contemplação. Na preparação da equipe de treinamento feminina da Sociedade de Ginástica Porto Alegre (Sogipa), zona norte de Porto Alegre, os rodantes são seguidos de flics, logo acompanhados de mortais estendidos. Elas voam – quase que literalmente. Do solo, saem para a trave, vão para as barras assimétricas, sem esquecer do salto.
A dedicação é intensa, com até quatro horas de treinamento de segunda a sexta-feira, sem folga aos sábados e feriados. São anos de um empenho que leva a abdicar de tantos outros momentos em busca de um sonho maior. Aspiração essa que agora é impulsionada - como que no trampolim que as faz subir nos aparelhos - pelos recentes resultados das brasileiras.
— É muito inspirador ver elas ganhando. Há um mês, eu participei de uma competição onde estavam a Rebeca, Lorrane (Oliveira) e a Flávia (Saraiva). E ver elas de perto competindo já dá uma inspiração. Tu olha e se imagina lá na frente. Eu entrei na ginástica com o sonho de ir para as Olímpiadas — conta Manuela Cavalheiro Vargas, 14 anos, que treina desde os sete.
Mesmo para as mais novas, como Lívia Moreira Bento, sete, e Sofia Steinhaus Fraporti, oito, que iniciaram juntas na ginástica artística há um ano e meio, os reflexos dos Jogos Olímpicos já estão aí. Até a forma de lidar com as colegas de equipe, em que uma incentiva a outra reiteradamente, faz parte do espírito esportivo tão presente na modalidade.
— Estou achando as Olimpíadas legais. Gostei que a Rebeca ficou em segundo lugar (no individual geral). Eu admiro muito ela, a Flavinha, a Jade (Barbosa), a Julia (Soares), a Lorrane... (pausa acompanhada de uma expressão de concentração) eu admiro todas do Brasil! — exalta Sofia.
Confiança e tranquilidade que servem de exemplo
Outro ensinamento destacado pelas pequenas grandes atletas é o de ter a segurança e a tranquilidade do Time Brasil na ginástica artística. Para Diovana de Paula Fiuza, 12 anos, a confiança repassada até mesmo em momentos difíceis, como a queda de Flávia Saraiva no aquecimento das barras paralelas, serve de exemplo.
— Todas da equipe têm uma confiança muito contagiante, e isso incentiva muito mais pra mim na ginástica. Às vezes, estou um pouco desmotivada, e vejo que a Rebeca está sempre com um sorriso no rosto (...). Ou quando a Flávia se machucou, ela não parou. Eu treino há quatro anos e é bem puxado, mas eu sei que vai valer muito a pena. Vendo as Olimpíadas e as minhas colegas, eu consigo ter uma confiança de treinar — relata.
A força que chega para Diovana vem da arquibancada. Com frequência, os pais das atletas fazem questão de acompanhar os treinamentos. Há, inclusive, quem resolva trabalhar de lá, para ficar mais pertinho dos jovens talentos. Foi com os olhos marejados que o técnico de enfermagem Diogo Fiuza, 41, observou a ginasta da família no treino acompanhado por Zero Hora.
— É muito emocionante ver o progresso delas. A Diovana entrou sem saber dar uma pirueta direito (brinca). Mas além dos movimentos, ver o quanto ela evoluiu como pessoa também. Ela amadureceu muito e fico feliz por isso. Isso é o maior ouro que a gente tem. O resto é consequência do esforço — declara, emocionado.
Esportes em alta no mundo e na Sogipa
Em tempo de Jogos Olímpicos, a procura por todas as modalidades cresce na Sogipa. Atualmente, são cerca de 5,5 mil jovens, crianças e adultos matriculados nos diferentes esportes que a sociedade oferece. No caso da ginástica artística, mesmo “fora de época”, as turmas costumam ficar completas.
— A maior parte deste grupo que eu treino costuma chegar para mim através de turmas de escolinhas. Nós fazemos a avaliação, elas veem a oportunidade na televisão, nos encontram nas redes sociais, vêm ao clube e focamos nos treinamentos. Começam com cinco a seis anos e seguem até quando for possível. A partir de oito anos, já participam de competições regionais, e, com nove, de campeonatos brasileiros — explica o técnico das equipes de treinamento feminino, Gean Gabriel Vieira.
Ainda integram esse grupo Helena, Olívia, Livia, Carolina, Isabela, Dhiuly, Maria Júlia e Thaila. Todas acompanham com brilho nos olhos as próximas apresentações do já tão querido Time Brasil.