Como lidar com a ausência irreparável de uma pessoa fundamental em sua vida, que provoca reflexões sobre a existência e suas relações? A escritora Alexandra Lopes da Cunha verteu em palavras a partida da mãe no livro A Arqueologia das Gavetas (um relato sobre a perda e sobre o luto), que será lançado nesta quarta-feira (6), na Livraria Paralelo 30, em Porto Alegre.
Em um relato sincero, confessional e rico em detalhes, Alexandra descreve a experiência de acompanhar os passos da mãe, Nara Beatriz, que morreu em julho de 2018, após complicações decorrentes de um atropelamento sofrido praticamente um mês antes. Segundo a autora, a obra foi uma forma de manter viva a mulher que tanto amou.
— Era um livro que não gostaria de ter escrito, mas, depois do acidente, como se fosse um diário, comecei a escrever, que é uma forma que tenho de organizar melhor os meus pensamentos e o que estou vivenciando — lembra.
Alexandra relembra que, entre idas e vindas de Nara ao hospital, passou a entender a evolução do tempo, que chega para todos, incluindo a sua mãe. Além de relatar as sensações permeadas pelo luto, a escritora, semifinalista do Prêmio Jabuti de 2023 na categoria Contos com o livro Transitórios, fez da escrita também uma homenagem.
— Senti pena por ela ter falecido relativamente jovem, aos 74 anos, era saudável. Havia essa dor, mas havia também a necessidade de recuperá-la e a forma de conhecer a minha mãe foi fazendo essa arqueologia afetiva, "escavando" cartas e documentos antigos — relata a filha.
Além de fotos que remontam a história da família de Nara, Alexandra publica textos escritos após a morte da mãe, como se conversasse com ela. A filha percebeu que estava se “redimindo” sobre determinadas etapas de sua relação.
— Em muitos momentos, eu deveria ter sido mais próxima e não fiz muito esforço para compreendê-la, como acontece com muitos filhos. Percebi o quanto ela lutou e, com o livro, a compreendi mais. Perdoei uma série de muitas situações, dela e minha, pois também fui injusta. Nestas páginas, estamos todos vivos — pondera a escritora.
Identificação
A ideia de valorizar o instante aproximou ainda mais a autora do pai, Luiz Carlos, que passou por problemas de saúde em 2019 e faleceu há três meses. Mesmo que não fosse a proposta original do projeto, Alexandra reconhece que os leitores poderão se identificar, relacionando suas próprias histórias às contadas no livro.
— Todos passamos ou vamos passar por processos como estes, várias vezes na vida. Acho que este tipo de escrita pode ajudar as pessoas e espero que seja assim — diz a doutora em Letras/Escrita Criativa pela Pontifícia Universidade Católica do RS (PUCRS).
Ela não descarta desenvolver algum trabalho em homenagem ao pai. Apesar da tristeza que vem à tona ao lembrar do acidente que vitimou a sua mãe, Alexandra sente que a missão foi cumprida com A Arqueologia das Gavetas.
— Sentia que precisava dar voz a ela, quero muito que a sua história ganhe o mundo e que ela permaneça viva aqui conosco — suspira.
Para acompanhar
- Evento: lançamento do livro A Arqueologia das Gavetas (um relato sobre a perda e sobre o luto), de Alexandre Lopes da Cunha
- Quando: quarta-feira (6), a partir das 19h
- Onde: Livraria Paralelo 30 (Rua Vieira de Castro, 48, bairro Farroupilha, em Porto Alegre)
- Quanto: entrada gratuita
- Preço do livro: R$ 56 (146 páginas)