Carla Rojas Braga (*)
No RS, uma mulher é morta a cada 62 horas. Muitos relacionamentos tóxicos e subsequentes feminicídios poderiam ser evitados se as vítimas identificassem as técnicas manipulativas que os criminosos usam, e se libertassem com mais rapidez.
O livro 20 Diversion Tactics Highly Manipulative Narcissists, Sociopaths And Psychopaths Use To Silence You, de Shahida Arabi, mostra técnicas que pessoas com transtornos de caráter utilizam para manipular, rebaixar e ferir seus parceiros íntimos através de táticas que tentam distorcer a realidade de suas vítimas. São extremamente invejosos e tentam anular você para diminuir um sentimento patológico de inveja.
Gaslighting (a fumaceira), é a grande tática manipuladora: “Isso não aconteceu”, “Você imaginou” ;”Você está louca?”. Tenta distorcer e desgastar seu senso de realidade, corrói sua capacidade de confiar em si mesma e a impede de sentir que tem razão em não aceitar abusos. “Essa pessoa está certa ou posso confiar no que experimentei?” O manipulador irá convencê-la de que ele está certo e que seu mal-estar é disfunção da sua cabeça.
Projeção: um sinal claro de toxicidade é quando uma pessoa está cronicamente indisposta a ver suas próprias deficiências e usa tudo o que está ao seu alcance para evitar ser responsabilizada por seus comportamentos e características negativas, atribuindo-os ao outro. Por exemplo, uma pessoa que mente patologicamente pode acusar seu parceiro de mentir. Um marido muito ciumento e desconfiado é, em geral, um traidor. Muitos casos de feminicídio são baseados em paranoia de ciúmes projetivos. Como o especialista em manipulação George Simon observa em seu livro In Sheep’s Clothing, o narcisista maligno é campeão em projeção.
Conversas absurdas: se você acha que vai ter uma discussão madura, esteja preparada para a divagação épica. Narcisistas e sociopatas usam salada de palavras, argumentos infundados, projeção e gaslighting para desorientar você e tirá-la do rumo se discordar deles. Tentam desacreditá-la, confundi-la e frustrá-la, distraí-la do problema principal e fazer com que você se sinta culpada por ter pensamentos e sentimentos reais. Pessoas tóxicas não discutem com você, mas discutem com elas mesmas e você fica ouvindo ou lendo seus longos e pesados monólogos.
Generalizações: narcisistas malignos nem sempre são brilhantes. Muitos são intelectualmente diminutos. Ao invés de pensar profundamente, generalizam tudo o que você diz, fazendo discursos muito chatos. Essas generalizações tentam invalidar suas experiências, deturpam seus pensamentos e sentimentos ao ponto do absurdo. Na cabeça de um narcisista maligno, suas opiniões divergentes, emoções legítimas e experiências vividas são fraqueza e evidência da sua falta de inteligência. Tece contos para reformular o que você está dizendo e para fazer suas opiniões parecerem absurdas. Se você está insatisfeita com a maneira como um cônjuge tóxico fala com você, em resposta ele coloca palavras em sua boca: “Ah, então agora você é perfeita?” ou “Então, eu sou uma pessoa ruim, hein?”; quando você não fez nada além de expressar seus sentimentos. Invalida seu direito de ter pensamentos e emoções sobre um comportamento inadequado e dá sentimentos de culpa quando você tenta estabelecer limites. A pessoa tóxica te faz “envergonhada” por dar-lhe uma opinião.
Críticas desnecessárias: a crítica é destrutiva e não para ajudá-la a melhorar, mas para descobrir uma fraqueza e expô-la. Pessoas abusivas empregam a falácia lógica conhecida como “mover os pontos” para garantir que elas tenham todos os motivos para estarem sempre insatisfeitas com você. Você tem uma carreira de sucesso? O narcisista irá sugerir que você só conseguiu chegar lá porque teve a ajuda sexual de alguém. Não mude suas metas se ele relembrar repetidamente uma coisa irrelevante para não reconhecer o trabalho que você fez. Ele só quer provocar a sensação de que você tem constantemente algo a provar. Valide e aprove você mesmo. Saiba que você é suficiente.
Por fim, a técnica do abuso verbal disfarçado de piada: narcisistas gostam de fazer comentários maliciosos disfarçados de “apenas piadas”, para que possam dizer grosserias enquanto mantêm um comportamento inocente. No entanto, se você ficar indignada com uma observação maliciosa, você é acusada de não ter senso de humor.
Liberte-se desse cárcere privado emocional do tipo Síndrome de Estocolmo lembrando que a verdade está dentro de você e que você sempre vai poder contar com um amigo ou psicólogo que lhe ajude a se livrar desse “mindfuckery” criado por um ser que tem inveja de quem você é.
(*) Psicóloga