Os Lanceiros Negros, homens negros escravizados que lutaram ao lado das tropas gaúchas durante a Revolução Farroupilha e acabaram traídos no Massacre de Porongos, foram incluídos nesta segunda-feira (8) no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou a Lei nº 14.795 que inclui o grupo entre os heróis da história brasileira na sexta-feira (5), mas a confirmação veio com a publicação do Diário Oficial da União nesta segunda (8). Para o historiador Adriano Viaro, o reconhecimento é uma forma de revisitar a história da Revolução Farroupilha e reforçar a importância da população negra para a formação do Rio Grande do Sul.
— O Rio Grande do Sul precisa exorcizar seus fantasmas, sem brigar ou negar sua história. Não tem problema nenhum dizer que os negros foram traídos pela tropa de Davi Canabarro. Não há como isso contribuir de fato com a história do RS se não houver a confissão e o reconhecimento do que foi feito — diz o historiador Adriano Viaro.
Quem eram
Durante a Revolução Farroupilha (1835-1845), guerra do Rio Grande do Sul contra o Império, um grupo de negros escravizados foi incluído no exército republicano farrapo, com a promessa de que seriam alforriados em caso de vitória.
Conforme historiadores, os revoltosos precisavam de um exército forte para combater na guerra que durou 10 anos. Os negros escravizados foram incorporados aos farroupilhas nos últimos anos da guerra. Eles lutavam a cavalo, como lanceiros, ou a pé, como infantes.
Esse episódio ficou marcado pela traição sofrida pelos combatentes negros por parte dos comandantes do exército farroupilha. Em 14 de novembro de 1844, os lanceiros negros foram desarmados e atacados pelo exército imperial. Cerca de cem acabaram mortos, enquanto os remanescentes (cerca de 300), não tiveram a promessa de libertação cumprida e acabaram sendo reescravizados em outros estados do Brasil.
Davi Canabarro, um dos líderes farroupilha, foi informado de que havia tropas imperiais se deslocando em direção à região onde aconteceria o massacre. Documentos provam que líderes farroupilhas foram ao Rio de Janeiro tratar a paz e a entrega dos negros ao Império.
Documento
O Massacre de Porongos, por muitos anos, foi escondido da história oficial. No entanto, o destino dos lanceiros negros traídos na batalha passa a ser discutido pela sociedade, como reconhecimento e reflexão da trajetória da população preta no estado.
O documento que revela a traição está preservado no Arquivo Histórico do RS. A Guerra dos Farrapos estava prestes a terminar, mas no caminho da paz havia um entrave, os negros escravizados que lutavam em troca de uma liberdade prometida. Diante da promessa que não poderia ser cumprida, a saída foi trair a lealdade de lanceiros e infantes negros.
"Regule suas marchas de maneira que, no dia 14 às 2 horas da madrugada, possa atacar o comando a mando de Canabarro, que estará neste dia no cerro de Porongos. (...) No conflito, poupe o sangue brasileiro quanto puder, particularmente da gente branca da província ou índios", diz a carta.