Já conformada que não conseguiria ver a filha em um dos dias mais felizes da vida dela (o do casamento), a felicidade de Marlene Maria Herrmann, de 63 anos, quase não coube nela quando viu Débora entrando toda vestida de noiva pela porta do quarto onde está internada em um hospital de Lajeado, no Rio Grande do Sul.
— Era um sonho dela ver os filhos casando. Fui até lá para receber bênção dela — conta Débora Hermann, 31 anos.
Dona Marlene foi diagnosticada com leucemia em abril deste ano, um mês depois de ter sido anunciado o casamento. Desde então, está em tratamento. Ela precisou ser hospitalizada após ter sintomas de febre no dia 25 de setembro, às vésperas do evento, marcado para o dia 7 deste mês.
— Ela teve uma infecção e precisou ser hospitalizada. Ficou na UTI e até precisou ser intubada — lembra Débora:
— Seria impossível ela ir ao casamento.
No dia 4, a mãe da noiva foi extubada – e não parou de falar do casamento da filha, de acordo com a equipe do Hospital Bruno Born. Vendo a empolgação dela em relação ao casório e o quanto ele era importante para ela, enfermeiros, psicólogos e médicos avaliaram que participar de alguma forma poderia ajudar no tratamento. Eles tiveram uma ideia e procuraram a família.
No dia da cerimônia, Marlene foi vestida com a sua melhor roupa de festa e maquiada – tudo isso pela equipe do hospital, que tranquilizou a família dizendo que ficaria responsável por tudo, já que a saúde dela ainda estava frágil e quanto menos contato com gente de fora, melhor. Ela sabia que ia acompanhar a cerimônia via videochamada, mas não esperava pelo que estava por vir.
Débora, vestida de noiva, foi ao hospital junto da irmã Bárbara – o noivo, Fábio Cesar Wolff, não foi junto porque, claro, não poderia ver a amada antes do casamento. À espera delas, estavam os funcionários do hospital que trabalhavam na UTI. O momento do encontro entre mãe e filha foi registrado em vídeo (veja no começo da reportagem).
O padre José Renato, responsável pela Capela Sagrado Coração de Jesus, do interior de Santa Clara do Sul, onde foi a cerimônia, esteve no hospital e entregou a hóstia a ela, do mesmo jeito que faria se dona Marlene pudesse estar presente de corpo – pois de alma com certeza esteve – no casamento da filha.
— Ela ficou muito feliz. Achava impossível, mas demos um jeito — diz Débora.
O tratamento
Desde a última sexta-feira (13), Marlene está em casa, onde vive com o esposo, João Alceu, de 65 anos. Os dois estão juntos há 38 anos.
O casal tem quatro filhos (Débora e Bárbara, que são gêmeas, além de Marcos e Fernando) e alguns moram perto, "dando uma passadinha" na casa todos os dias. Os que moram mais longe dão um jeito de visitar sempre que possível.
Ela tem reagido bem ao tratamento, conforme os filhos. Está no 6º ciclo da quimioterapia para o tratamento da leucemia. Está previsto que ela passe por um transplante de medula em Porto Alegre.