Um velociraptor está à solta em Colinas e tem chamado atenção dos moradores do Vale do Taquari. Diretamente do Cretáceo para o Holoceno (ou Antropoceno, para alguns pesquisadores), o dinossauro é tão moderno que tem até carteira assinada: é o mascote da empresa Ceppo Life Support. O sucesso inesperado da fantasia realista, que ruge e assusta desde crianças a adultos e idosos, resultou em inúmeros pedidos de participações do animal em eventos. Assim, o que era para ser apenas um símbolo da empresa virou um novo negócio – que já emprega pessoas.
Dino Ceppo, como é chamado, pesa 85 quilos e mede 2m10cm de altura. O velociraptor já visitou mais de 70 cidades em três países, percorrendo mais de 100 mil quilômetros. O fenômeno do dinossauro veio após a divulgação de um vídeo caseiro que mostrava uma brincadeira na passarela dos anfíbios, na Rota do Sol. Entretanto, Dino não foi criado com o objetivo de oferecer um serviço.
— A gente trouxe para cá e foi uma febre tão grande, a gente postou que estava com o dinossauro nas redes sociais do Dino, a gente criou uma rede para ele, e as crianças adoraram, as pessoas gostaram bastante, e aí estourou o Dino. Daí a gente teve que ir para eventos também — conta Ana Paula Ceppo, 20 anos, sócia-proprietária da Ceppo Life Support ao lado do irmão gêmeo Maicon Ceppo.
A ideia partiu da proprietária da empresa inaugurada em 2019, que fabrica EPIs para bombeiros, com alcance nacional e internacional.
— Sempre gostei de dinossauro, desde pequena, sempre adorei. E a gente tem um modelo de capacete que é americano, e nosso concorrente é dos Estados Unidos, porém, o modelo dele vem com uma águia em cima. Para não pôr uma águia, porque tinha que diferenciar, a gente escolheu pôr um dinossauro, que é algo diferente — explica.
Do capacete, Dino ganhou vida. Os irmãos encontraram uma fantasia na internet e gostaram da ideia de ter um mascote de verdade na empresa, além daquele no capacete. Assim, encomendaram da China o dinossauro. Depois de cerca de três meses e um alto investimento, o velociraptor chegou ao Brasil, em novembro de 2021. A fantasia é a única do modelo mais completo no Brasil, segundo o fabricante.
O objetivo era fazer com que as pessoas lembrassem da marca, como um diferencial. Com o sucesso da fantasia, além de impulsionar a empresa de EPIs, a família expandiu o negócio.
Hoje, Dino é contratado para animar festas, eventos e até mesmo circo, com os mais diversos públicos, que vão de crianças a idosos. A empresa teve de adquirir um veículo e um reboque apenas para poder transportá-lo. O valor do serviço varia conforme a distância do evento. Em média, o Dino Ceppo realiza de quatro a seis apresentações por mês.
Dois funcionários dão vida, com criatividade, ao dinossauro. O mais curioso, conforme os responsáveis, é ver as pessoas apavoradas ou afirmando que é de verdade.
— Quando ele cria vida, fica fora do comum, é uma coisa realista, que não só as crianças como os adultos também se assustam, querem se aproximar. Tem gente que não chega perto — conta Ana Paula da Silva, 33 anos, responsável pelo Dino nos eventos.
Vida de dinossauro
Para "virar" dinossauro, a fantasia fica suspensa no reboque, de modo que Silva consiga acessá-la por baixo, entrando pelas pernas – sempre escondida das crianças, para que a magia perdure. A fantasia é como uma mochila que ela veste. Dentro, ela opera a estrutura com o auxílio de uma câmera, que mostra o exterior. A boca e os sons são controlados pelas mãos. Contudo, outra pessoa também precisa ajudar a guiar o dinossauro, com comandos, para que ele consiga se locomover.
Com o tempo, Silva foi se adaptando às dificuldades de usar a fantasia e descobrindo o jeito de lidar. Se a bateria termina, por exemplo, ela fica sem conseguir enxergar e se mexer. O calor é o principal problema, sobretudo no verão – mas, com as brincadeiras, isso é esquecido. Por vezes, até o operador passa do tempo sem perceber – o manual indica a permanência por no máximo 20 minutos corridos, devido ao peso e ao calor, já que não entra ar e há apenas um ventilador.
— Quem está dentro, acho que, às vezes, se diverte muito mais do que quem está de fora. Porque tu vê a pessoa com medo, e é nela que tu vai, porque aí tu dá mais vida ao dinossauro. Aí começa a brincadeira, é o susto, o fazer a amizade — ressalta.
Para Silva, todos esses desafios são ultrapassados ao vivenciar as experiências que o dinossauro possibilita, como o trabalho com crianças com deficiência.
— É lindo, é muito gratificante. Nos proporciona momentos incríveis, com adultos, com crianças. Com as crianças autistas, é encantador o trabalho que a gente faz com elas, a segurança que o Dino transpassa para elas. O adulto que é fechado acaba se entregando na brincadeira. É encantador tirar um sorriso de uma criança, de um adulto — alegra-se.
A proprietária da empresa avalia que as pessoas adoram Dino porque a fantasia é tão realista que encanta – e não apenas as crianças, pessoas de "um mês até 100 anos". A ideia, agora, é manter o dinossauro e, quem sabe, expandir sua atuação para mais Estados e países.
— São inúmeras as situações lindas vividas. Nós ficamos apavorados com a repercussão, nunca pensamos nisso acontecer e muito menos em estar em vários eventos de diferentes segmentos, mas hoje, quando eu e meu irmão estamos na rua, nos identificam como Dino Ceppo (risos) — afirma Ana.