O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga, nesta quarta-feira (28), a partir das 10h, os resultados do Censo Demográfico de 2022. A coleta dos dados encerrou no dia 28 de fevereiro de 2023, e desde então o instituto trabalhou na apuração e revisão dos resultados que serão apresentados.
A coleta do Censo iniciou em 1º de agosto de 2022 – data usada como referência, e foi planejada para se estender até o fim de outubro do ano passado. No entanto, com uma série de dificuldades para contratação, pagamento e manutenção de recenseadores que atuam no trabalho de campo, o prazo foi prorrogado diversas vezes. A coleta tem como data de referência as condições em que vivia a população brasileira especificamente no dia 31 de julho de 2022.
— Tivemos enormes dificuldades para recrutar recenseadores e este foi o principal motivo do atraso na coleta que deveria ter sido encerrada ainda em 2022. Além disso, houve maior resistência da população em responder ao Censo, colaborando para o atraso, visto que, para muitos domicílios, o recenseador tinha que retornar muitas vezes para realizar a coleta dos dados — explica o coordenador operacional do Censo no RS, Luís Eduardo Puchalski.
O atraso acarretou diversos problemas. Um deles é a possível interferência na qualidade das informações, pois se o tempo decorrido entre as entrevistas e a data de referência for grande, pode ocorrer uma distorção das informações dadas pela população aos recenseadores. Vale lembrar que o Censo Demográfico está atrasado em dois anos. Em 2020, a pesquisa foi cancelada devido a pandemia da covid-19 e, em 2021, não houve destinação do orçamento para que o IBGE viabilizasse o processo.
O chamado apagão do Censo durante os dois primeiros anos da pandemia influenciou na execução de um planejamento mais adequado. Em relação a distribuição de vacinas, não existiam dados atualizados sobre a quantidade de pessoas que faziam parte do público-alvo da campanha de vacinação. O direcionamento das ações de assistência do governo para a população mais vulnerável também foi prejudicado pela ausência de dados atualizados. Especialistas apontam que as informações dos recenseadores seriam fundamentais para a criação de políticas públicas que estabeleceriam as medidas de distanciamento social e o uso do transporte público, por exemplo, como medida de prevenção ao contágio pelo coronavírus.
Passado esse período de dificuldades, o coordenador garante a divulgação de dados de um Censo Demográfico com ampla cobertura do território, permitindo que os números, de fato, retratem a realidade do país.
Importância
Os dados do Censo 2022 fornecem o retrato do Brasil num determinado período de tempo. Para o professor dos Programas de Pós-Graduação em Ciências Sociais e Pós-Graduação em Economia do Desenvolvimento da Escola de Humanidades da PUCRS, André Salata, a pesquisa do Censo é essencial para conhecer os municípios brasileiros.
— Todas as pesquisas do IBGE dependem do Censo atualizado, então esta é a primeira importância. Além disso, os resultados do Censo Demográfico é a única pesquisa que permite conhecermos dados de todos os Estados do país e, assim, é possível traçar o perfil intramunicípios, ou seja, é possível caracterizar o perfil do cidadão dentro de uma região da cidade — explica o professor e coordenador da PUCRS Data Social, laboratório de pesquisa sobre desigualdade da instituição.
Diferentes tomadas de decisão do governo são baseadas nos apontamentos realizados pelo Censo. A necessidade e a quantidade de recursos públicos que serão destinados a determinadas regiões também levam em conta os resultados do IBGE. A realização de uma política pública, seja na área da educação, saúde, transporte, entre outras, depende de informações sobre como e onde estão as pessoas que serão beneficiadas por essas ações.
Em termo práticos, a política habitacional, por exemplo, ocorre com base nos dados dos recenseadores, pois é a partir dessas informações que o governo consegue saber como as pessoas estão morando e quais são suas necessidades habitacionais. Nas políticas de transferência de renda, a busca ativa realizada pelas prefeituras para cadastrar as famílias é feita através dessas estatísticas, que mostram onde estão concentradas as famílias mais pobres.
— Por exemplo, em uma campanha de vacinação, a quantidade que será destinada a cada município será determinada pelo Censo; uma política voltada para Educação Básica, que necessita saber o número de crianças matriculadas em determinado Estado ou região do país, também utiliza os dados oferecidos pelo Censo; para saber como os programas de transferência de renda devem atuar, com os dados do IBGE é possível saber onde as pessoas que mais precisam moram e quais são suas necessidades— argumenta Salata.
Veja como os dados são utilizados na elaboração de políticas públicas, programas e projetos:
- Acompanhar o crescimento, a distribuição geográfica e a evolução das características da população ao longo do tempo
- Identificar áreas de investimentos prioritários em saúde, educação, habitação, transportes, energia e programas de assistência a crianças, jovens e idosos
- Selecionar locais que necessitam de programas de estímulo ao crescimento econômico e ao desenvolvimento social
- Fornecer referências para as projeções populacionais com base nas quais é definida a representação política no país, indicando o número de deputados federais, deputados estaduais e vereadores de cada Estado e município
- Fornecer subsídios ao Tribunal de Contas da União para o estabelecimento das cotas do Fundo de Participação dos Estados e do Fundo de Participação dos Municípios
Assim, a coleta de dados realizada pelo IBGE torna a atuação do Estado mais eficaz. O cidadão comum também pode fazer uso desses dados para solicitar direitos e qualificar a infraestrutura do local onde mora.
— A sociedade civil de modo geral também tem acesso aos resultados do IBGE. Assim, pesquisas, avaliação e acompanhamento das políticas públicas são feitos pelo acesso a esses dados que são públicos e gratuitos. Dessa forma, o Censo é importante tanto para o Estado se planejar como também para a sociedade monitorar as ações — afirma Salata.
A coordenação do Censo no Rio Grande do Sul elencou algumas ações que a sociedade civil e o terceiro setor podem realizar com base nos resultados da pesquisa:
- Seleção de locais para a instalação de fábricas, supermercados, shopping centers, escolas, creches, cinemas, restaurantes, lojas
- Análise do perfil da mão-de-obra brasileira, instrumento fundamental para sindicatos, associações profissionais e entidades de classe
- Análise acadêmica do perfil sociodemográfico e econômico da população e sua evolução entre 2010 e 2022
- Reivindicação dos cidadãos por maior atenção do governo municipal ou estadual para problemas específicos, como a expansão da rede de água e esgoto, rede telefônica, acesso à internet etc
Custo
São inúmeros os usos que um país pode fazer dos resultados de um Censo Demográfico. Por isso, investimento público e privado são necessários, argumenta Puchalski. Algumas pessoas questionam este custo elevado para a realização da pesquisa. Sobre isso, a socióloga e professora da Universidade Feevale Sueli Cabral, destaca que há uma explicação, que passa por saber quantas pessoas serão afetadas pelas ações do setor público.
— Por exemplo, a realidade demográfica vai ser invertida, pois teremos mais idosos do que jovens e isso pode impactar no mercado de trabalho. Assim, como podemos organizar a vida econômica previamente? Esse planejamento só é possível através do Censo. Assim, todos esses dados otimizam os investimentos realizados pelo estado e por tanto nenhuma pesquisa realizada pelo IBGE é onerosa, mas necessária—, aponta Sueli Cabral.
A socióloga finaliza dizendo que o Censo Demográfico é importante pois ele dá uma fotografia do espaço, mas para além disso, retrata as pessoas que vivem nesses espaços. Assim, através do Censo é possível propor políticas públicas e também sociais.