Charles Duke, 87 anos, é um dos dois homens que mais tempo passou em solo lunar na história. Junto com John Young, ele pousou na Lua em abril de 1972, na missão Apollo 16 – a penúltima do programa. Ficaram lá por 72 horas, sendo mais de 20 delas em missões extraveiculares, um recorde (o terceiro astronauta, Thomas Mattingly ficou a bordo do módulo de comando).
Nesta semana, Duke visitou Canela para a inauguração do Space Adventure e, além de contar sobre a experiência no espaço, comentou também as perspectivas atuais da corrida espacial, numa época em que o celular que está no bolso dele tem 800 mil vezes mais memória do que o computador da Apollo. Confira a seguir:
O que o senhor pensa sobre a atual corrida espacial que está sendo disputada por Estados Unidos e China?
Isso vem acontecendo desde os anos 1960, quando era uma corrida com os russos, e nós vencemos a corrida para a Lua. Agora é igual entre chineses, europeus e nós. Fizemos muitas parcerias com europeus, japoneses e outros, mas os chineses estão sozinhos nas operações deles. Eu estive na China uma vez, antes de eles lançarem o primeiro homem ao espaço (Yang Liwei, em 2003), em 1997, eu o conheci e também as estruturas deles. Naquela época, ainda tinham muito o que aprender. Usaram muita tecnologia norte-americana. Eles foram aos Estados Unidos estudar engenharia aeroespacial e outras coisas.
O senhor diria que vocês, norte-americanos, ensinaram eles, então?
Sim, claro.
O que o senhor pensa sobre a participação comercial, de empresas privadas, nesta nova corrida espacial?
A Space X e a Blue Origin farão turismo espacial, e à medida que ampliarem o serviço, o preço vai cair. Quanto mais gente for, mais as pessoas vão falar sobre isso, mais gente vai querer ir.
A tecnologia deles é tão confiável quanto a da Nasa?
A Nasa está mandando astronautas ao espaço a bordo de foguetes da SpaceX, que os levam até a estação espacial. Eu estou animado. São parcerias pequenas o suficiente para se tomar decisões muito rápidas, corrigir as falhas com agilidade, enquanto a Nasa lida, digamos, com um vento contrário, tem uma estrutura administrativa grande e é mais avessa a riscos.
Quando foi à Lua, mesmo sendo um piloto supertreinado, do que o senhor tinha medo?
Você não se preocupa com fracasso, porque não há nada que possa fazer a respeito. Então não se preocupa e só faz seu trabalho. Nós pensávamos, sim, sobre o que faríamos se ficássemos presos na Lua, se o motor não funcionasse. Mas havia uma série de procedimentos de backup que treinamos, e, se nenhum deles funcionasse, era desligar tudo e torcer que alguém aparecesse para nos resgatar.