O imóvel onde Michael Thurow, 34 anos, mora é seis vezes menor do que a casa na qual viveu até 2018. Na comparação das áreas, o advogado e empresário trocou um espaço de 265 metros quadrados em Camaquã, na Região Sul, por uma moradia de 42 metros quadrados em Porto Alegre. A mudança ocorreu após o fim de um relacionamento.
— Optei pela versatilidade do studio. Moro sozinho e trabalho o dia inteiro. Tenho dois cachorros que são adaptados ao espaço. Não penso em retornar para algo maior — conta.
Em 2022, esse tipo de imóvel foi o mais vendido na Capital, quando analisada a comercialização de apartamentos novos em residenciais verticais, segundo o Sindicato das Indústrias da Construção Civil do Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS).
Mudança no perfil da população, aplicação segura para investidores e busca por condomínios com boa infraestrutura são alguns dos fatores que explicam a disparada nas vendas, dizem especialistas. Essas justificativas também são citadas por Michel quando questionado sobre o motivo de ele morar desde 2018 em um residencial no bairro Jardim Carvalho:
— Sou apaixonado por espaços funcionais, por organização e limpeza. Ele (o imóvel) atende às minhas necessidades diárias. Quando recebo amigos, uso a área de convivência do prédio, que possui churrasqueira, sauna, piscina. Escolhi o studio por ser um ambiente aconchegante, integrado e moderno.
A “paixão” pelo tipo de moradia virou negócio. O advogado tem outros quatro imóveis com o perfil em Porto Alegre, e os aluga pelo Airbnb.
— Quero comprar studios ainda menores, de 27 metros quadrados, em São Paulo e Florianópolis. Comprovei na prática que funciona — pontua.
O que é um studio?
A definição varia conforme a região do país e se confunde com outros tipos de residências: JK, loft, flat, kitnet (leia mais no fim da reportagem). Por isso, não há consenso. O Panorama do Mercado Mobiliário feito pelo Sinduscon-RS separa os imóveis novos vendidos na Capital pelo número de dormitórios (de um a quatro). Os demais são classificados como studios.
À reportagem, o sindicato diz definir studios como “plantas em conceito aberto: sala, dormitório, cozinha e circulação em ambiente único sem paredes/divisórias". Somado a isso, as áreas dos studios costumam ter entre 14 e 40 metros quadrados. Os maiores podem chegar a 120 metros quadrados ou mais, e são conhecidos como lofts no Estado, conforme o Sinduscon.
— Studio é um imóvel do tipo compacto. Por ser menor, é necessário que tenha áreas de uso comum. Por exemplo: não há como colocar uma máquina de lavar roupa em um imóvel de 20 metros quadrados. Então, o condomínio precisa entregar esse tipo de área aos moradores — explica Cristiano Maia, sócio-diretor da Foxter Cia Imobiliária.
Conforme o Sinduscon, em 2022, foram comercializados 1.453 studios novos na Capital, o equivalente a 30% do total negociado no período. Isso fez a moradia ser o grupo mais vendido: ficou à frente dos apartamentos de dois (29%) e de três dormitórios (27%), na relação anual. Foi a primeira vez que studios constaram como os mais comercializados na análise do Panorama do Mercado Mobiliário, organizado pelo sindicato desde 2020. Entre janeiro e março deste ano, a liderança segue: 49% do total - ou 427 unidades -, conforme o infográfico abaixo:
Segundo sócio-diretor da Foxter Cia Imobiliária, motivos econômicos podem explicar o crescimento das vendas dos imóveis compactos em Porto Alegre:
— É um momento propício para o investidor que quer diversificar a carteira de investimentos. O imóvel sempre foi e continua sendo uma moeda forte, porque não tem a volatilidade que mercado de capitais (bolsa de valores) tem com a guerra na Ucrânia, o aumento da inflação ao redor do mundo, por exemplo. Por cenários assim, o imóvel se tornou uma boa saída para investimento mais uma vez.
Sobre tratar imóveis como opção para investidores, Claudio Teitelbaum, presidente do Sinduscon-RS, acrescenta:
— O studio pode ser usado para a revenda por conta de uma valorização de compra na planta para a venda quando concluído. Também pode ser um imóvel em que o valor de locação fique proporcionalmente mais rentável do que um apartamento maior.
Para quem mora em um studio, há também a possibilidade de economia mensal devido a duas características. A primeira é que é comum a redução dos espaços das moradias ser acompanhada de mais imóveis no mesmo residencial. A segunda: o Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) também aumenta - ou diminui - conforme a área construída.
— No studio, o valor do condomínio é compartilhado entre mais unidades. Então, se for contar esse custo junto com o IPTU, há uma grande redução no gasto do usuário todos os meses — adenda Teitelbaum.
Novos investimentos na Capital
A demanda por imóveis compactos em Porto Alegre fez a Rio Novo Incorporações entrar no mercado de studios com o residencial YZY Full Life. Previsto para ser inaugurado em dezembro de 2025, o empreendimento terá 312 apartamentos com áreas entre 44 e 58 metros quadrados. A ideia de investir no nicho teve origem na identificação de mudanças comportamentais na população, explica Marcos Moraes, economista e diretor comercial da incorporadora:
— Boa parte das pessoas tem optado por ficar solteira por mais tempo, outras decidem não ter filhos. São realidades diferentes de anos atrás e que ajudam a alavancar a venda de apartamentos menores. Há também jovens em busca de compartilhar e viver experiências, com menor apego (a bens materiais) do que gerações anteriores. Isso gera demanda no mercado por espaços mais compactos, práticos e econômicos.
Os moradores do empreendimento terão à disposição 12 mil metros quadrados de área de uso comum. Ali, serão oferecidos ambientes para trabalho, academia, salão de jogos e de festas, carregadores para carros elétricos e até um minimercado.
— Não é apenas sobre os espaços privativos mais compactos, mas também sobre a tendência da economia compartilhada, com consumo colaborativo de bens e serviços, com menos custo e impacto ambiental. A ideia é oferecer tudo o que o público-alvo precisa — acrescenta o diretor comercial.
O empreendimento está em obras em um espaço próximo à Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). A expectativa é que 70% dos espaços sejam ocupados por moradores e 30% por investidores. O empreendimento tem valor geral de vendas projetado em R$ 180 milhões.
A Uliving também escolheu Porto Alegre para investir no nicho de studios. O foco, porém, é o público estudantil. No dia 8 de maio, a empresa inaugurará a primeira unidade no sul do Brasil, no bairro Bom Fim, perto do Parque da Redenção. O investimento é de R$ 70 milhões. O espaço terá 337 quartos, com áreas de convívio para os estudantes, como sala de estudos e de TV, cozinha, academia e uma praça interna.
— Além da faculdade, esse é um público que vai para uma nova cidade para conhecer pessoas. E aí entra o compartilhamento (dos espaços). O estudante fica no quarto se ele vive em apartamentos onde as áreas comuns não são atrativas. Criamos esses espaços para favorecer relacionamentos e criação de comunidade — diz Juliano Antunes, presidente da Uliving.
A mensalidade do Uliving em Porto Alegre custa a partir de R$ 1,5 mil e inclui aluguel, condomínio, água, gás, IPTU e participação em todos os eventos organizados pela empresa. Há diferenças no tamanho dos ambientes conforme o tipo escolhido pelo estudante, mas a média é de 14 metros quadrados.
— Da maneira que fazemos, “tiramos” o espaço para o estudante estar no studio só quando ele quiser estudar de forma mais individual. Como não tem sala dentro do quarto, ele acaba usando o espaço das áreas comuns. E, naturalmente, vai conhecer as pessoas. Organizamos eventos para fomentar esse networking, porque são os momentos em que eles se conhecem, trocam experiências — acrescenta Juliano Antunes.
Diferença entre imóveis compactos
Studio
- Tem entre 30 e 45 metros quadrados, planta de fácil adaptação (com ou sem paredes internas), inclui espaços de lazer, de convivência e serviços no prédio, e localização privilegiada
Kitnet
- Entre 20 a 50 metros quadrados, formado por quarto, banheiro e cozinha – que costuma incluir área de serviços – não oferece necessariamente lazer e espaços de serviços
Loft
- Sem paredes internas, pé-direito duplo, design industrial com instalações aparentes, a metragem pode variar bastante
Flat
- São mais compactos, inspirados em quartos de hotel, tanto na decoração como na oferta de facilidades. Costumam contar com serviços de limpeza, lavanderia, troca de roupa de cama e refeições
JK
- Compacto como um loft ou kitnet, sem nenhuma parede interna além das que compõem o banheiro. Não estão necessariamente em localização privilegiada e podem ou não contar com lazer e espaços de convivência
Fonte: Loft, plataforma digital que atua no mercado imobiliário