Um desafio em redes sociais com corretivo líquido, usado para apagar textos escritos com caneta, levantou um alerta em escolas de São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Em um dos vídeos encontrados pela reportagem de GZH, um jovem faz uma espécie de tutorial para deixar o produto secar na mesa da sala de aula e, depois, ser raspado e transformado em pó.
O perigo, apontado em outros Estados, é de que os estudantes possam estar inalando a substância. Na internet, a prática é uma espécie de "trend", termo usado para os conteúdos que se tornam populares nas redes sociais. O desafio está ligado ao nome Euphoria, o mesmo da série de TV que retrata situações da vida de adolescentes, como problemas com o uso de drogas.
No Rio Grande do Sul, a Secretaria Estadual de Educação (Seduc) não teve relatos oficiais desse tipo de ação, assim como em Porto Alegre, que não registrou casos nas escolas municipais, conforme a Secretaria Municipal de Educação (Smed). Na rede particular, há escolas se prevenindo e já alertando os familiares, como o Colégio Santa Doroteia, na Capital. Os professores da instituição também foram orientados a ficar atentos para prevenir a prática.
Para a chefe do serviço de Otorrinolaringologista do Hospital Moinhos de Vento, Raphaella Migliavacca, esse uso inadequado do corretivo pode provocar problemas de saúde respiratória:
— Tem substâncias químicas que podem irritar a mucosa nasal e causar necrose (morte das células), além de rinites, sinusites ou mesmo doenças respiratórias como a asma.
A orientação em casos de inalação é procurar atendimento médico e realizar a lavagem do nariz com soro fisiológico para remoção da substância. Sem desconsiderar essa parte respiratória, a otorrinolaringologista chama a atenção para outro fator que deve ser o foco dos pais.
— O que me deixa mais preocupada é o fenômeno comportamental que banaliza, faz piadas e glamouriza um problema de saúde pública que é o uso de drogas, o que é bem grave.
Este ponto que retoma a importância do controle das famílias ao tipo de conteúdo que os filhos estão consumindo é salientado pela presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia - seção Rio Grande do Sul, Monica Pagel Eidelwein.
— O acesso às informações vem de diferentes fontes e, muitas vezes, elas são equivocadas. Então, a primeira questão seria o acompanhamento ao que as crianças acessam, tanto da escola quanto da família. Acredito que o diálogo é muito importante para se ter uma aproximação.
O papel dos pais também é enfatizado por Rochele Paz Fonseca, professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e presidente da Sociedade Brasileira de Neuropsicologia. Para a pesquisadora, a interferência da família não é uma questão de autoritarismo, mas de prevenção.
— Estamos pagando um preço alto por deixar as crianças decidirem coisas cedo demais. Os pais precisam controlar o tempo de uso e ter aplicativos, em comum acordo, para controlar o que os filhos estão consumindo. Eles precisam retomar o assunto do que pode e o que não pode.
A professora destaca que o cérebro dos adolescentes opera melhor em situações de disciplina, porque as funções executivas que controlam os impulsos e ajudam a tomar decisões só amadurecem entre os 20 e 30 anos. Na avaliação da profissional, os pais têm o direito e o dever de ser essa função para os seus filhos.
— As crianças ainda não têm idade para decidir. Imagina o risco desse desafio. É como se fosse um treino para as drogas. Não podemos deixar. O corretivo foi feito para apagar o que a gente errou, e não para cometer outro erro.
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Desafio incentiva alunos a cheirarem pó de corretivo líquido; saiba como pais devem agir para evitar
Substâncias que estão na composição do produto podem gerar problemas respiratórios
Kathlyn Moreira
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