Foi a partir de um acidente de trânsito que a jornalista e escritora Camila Rocha, 43, decidiu que estava na hora de compartilhar sua experiência. Ela nasceu com fissura labiopalatina, uma má formação congênita que atinge um em cada 650 bebês brasileiros e ocorre quando algumas estruturas do corpo não se fundem durante o desenvolvimento fetal, alterando o formato do lábio e do céu da boca, em alguns casos.
A discussão no trânsito foi em 2018, quando um motociclista questionou sobre a cicatriz que Camila tinha na boca. O questionamento chamou a atenção da jornalista, que conta que não era perguntada sobre isso desde a adolescência. A surpresa foi ainda maior com a reação do homem, após ela explicar o motivo de sua boca ser diferente.
— Ele começou a chorar e disse "meu filho nasceu assim". Ele estava vindo do posto de saúde e tinha marcado a primeira cirurgia do menino de cinco meses — lembra a autora.
Camila também passou pela primeira cirurgia na mesma idade do bebê. Foram cinco procedimentos para melhorar a qualidade de vida até chegar a autoconfiança.
Xingamentos como "boca torta" e "feia" foram ficando para trás, mas eram registrados nos diários que ela escrevia. Após o episódio com o motociclista, a escritora voltou aos mais de 30 anos de registros para encontrar referências e criar a personagem Carol Martins, protagonista do livro "Fissurada pela Vida".
Em uma narrativa acompanhada de bom humor, Camila explica por que quis dar representatividade aos fissurados.
O retorno que vem recebendo desde o lançamento da história, no ano passado, está confirmando esse propósito. O livro está presente em 18 Estados e mais seis países. Além disso, o trabalho de divulgação no Instagram @fissuradapelavida também colocou Camila em contato com outras famílias que tiveram o mesmo diagnóstico. Não é raro ela receber fotos de mães e trocar experiências. A visibilidade também rendeu o convite para ser embaixadora da ONG Internacional Smile Train, que é a maior organização do mundo dedicada à causa. O projeto ajuda no tratamento e na realização de cerca de 5 mil cirurgias por ano.
— Eu vivi a minha vida inteira achando que era única no mundo, por isso também o trabalho de divulgação da causa! — comemora a jornalista.