O jornalista, professor, escritor e filósofo Clóvis de Barros Filho conversou com a Rádio Gaúcha na manhã desta quinta-feira (23) e fez reflexões sobre o Natal e o papel filosófico de Jesus Cristo na sociedade. Em participação por telefone no programa Timeline, ele também falou sobre a relação das pessoas nas redes sociais e seu problema de visão.
Barros Filho iniciou a conversa dizendo que a sua formação cristã acabou se tornando uma "lente de interpretação do mundo" da qual ele não consegue - nem quer - "se livrar." Para o filósofo, o Natal é sempre um momento de lembrar e até reviver os ensinamentos de Jesus Cristo:
— Jesus nos dirá que somos diferentes por natureza, mas que isso não é o mais importante, nem o que tem mais valor. O grande valor da vida está na nossa liberdade de escolher caminhos. E, sobretudo, definir o que faremos. Jesus sugere que pessoas completamente aptas (do ponto de vista da natureza), por exemplo, pessoas geniais, possam ser pessoas medíocres, indignas. Assim como pessoas menos aptas possam ser verdadeiros cristãos. O "barato" da vida é você entender que a vida do outro vale tanto quanto a sua.
O filósofo reflete que, muitos intelectuais, como Aristóteles, defendiam a escravidão como algo válido. Por outro lado, Jesus "passou uma régua" nas diferenças e estabeleceu que todos os seres humanos estavam no mesmo "ponto".
— Além da questão econômica, a escravidão era vista como algo ético. Ou seja, o indivíduo que não tinha capacidade de pensar, não deveria decidir por conta própria se era bom ou não para ele ser escravo. Jesus nos colocou em pé de igualdade e, depois disso, nos colocou o amor como uma referência na tomada de decisões — afirmou.
Questionado sobre as redes sociais e a polarização entre determinadas bolhas, Barros Filho afirmou que, mesmo que não queiram, as pessoas são encaixadas em grupos a partir da sua identidade.
— A partir das informações de identidade são feitas inferências, de tal maneira que a identidade de uma pessoa acaba sendo construída no seio dos entendimentos coletivos. A partir do momento que os grupos estão estabelecidos, a sociedade - de maneira até simplista - não vai sossegar até te encaixar em determinado grupo.
O professor seguiu refletindo sobre o tema:
— Quando uma manifestação contraria nosso ponto de vista, o que acontece não é só um desagrado por conta do choque de ideias. É a nossa própria existência que está sendo diminuída e é isso que costuma gerar as reações mais violentas nas pessoas.
Por fim, Barros Filho relatou como tem lidado com seu problema de visão. Em julho, o filósofo anunciou que havia descoberto um tumor no olho esquerdo, o que pode lhe deixar complementa cego. Há alguns anos, em decorrência de um procedimento malsucedido, o professor ficou cego no olho direito.
Atualmente, ele relatou ter cerca de 9% da sua capacidade de visão, mas ainda consegue ler com ajuda de plataformas como o kindle.
— Podendo ler e podendo escrever desse meu jeito (ditando e alguém escrevendo) eu consigo trabalhar. Em relação às palestras, eu também faço, sem problemas. Isso para mim
é mais importante.
Por fim, Barros Filho disse que "enquanto vida houver, haverá resistência."