Enrique Serra Padrós, professor e pesquisador do Departamento de História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), morreu nesta quinta-feira (23), em Porto Alegre. Conforme a universidade, Padrós estava internado no Hospital Santa Casa de Misericórdia para tratamento de um câncer.
No início de dezembro, o Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da UFRGS publicou nas sua redes sociais uma carta do professor, que não era usuário de tais meios de comunicação. Já internado, Padrós agradecia àqueles que divulgaram a notícia que ele precisava de doações de sangue, aos doadores e às mensagens de carinho que recebeu neste período, afirmando que estava sob os cuidados de uma equipe médica qualificada.
Além disso, o professor ainda deixou uma espécie de mensagem de despedida, na qual reafirmava seus valores como professor e ser humano: "E diante de um momento tão único da minha existência — e até porque é tempo de luta — reafirmo as minhas convicções: tenho orgulho de ser funcionário público, de ter sido aluno e ser docente da UFRGS, de pesquisar e denunciar os crimes de lesa humanidade do Terrorismo de Estado e, sobretudo e principalmente, de ser um historiador marxista e um educador freiriano".
Uruguaio de nascimento, Padrós fez toda a sua formação acadêmica na UFRGS: licenciatura e bacharelado em História, especialização em História da América Latina, mestrado em Ciência Política e doutorado em História. Sua tese "Como el Uruguay no hay... Terror de Estado e Segurança Nacional - Uruguai (1968-1985): do Pachecato à Ditadura Civil-Militar" é considerada uma referência sobre o tema das ditaduras recentes na América Latina e sobre o conceito de terrorismo de Estado.
Sua especialidade era a história contemporânea, em especial a da América Latina, com foco nos assuntos ligados a ditaduras e segurança nacional. Lecionava as disciplinas de Ensino de História e de História Contemporânea na UFRGS e, ainda, mantinha dois projetos de pesquisa e coordenava um projeto de extensão sobre mortos e desaparecidos dos regimes militares na América Latina.
Além de docente, Padrós era um ativista dos direitos humanos. Foi coordenador do projeto do livro Memórias da Resistência e da Solidariedade: O Movimento de Justiça e Direitos Humanos Contra as Ditaduras do Cone Sul e sua Conexão Repressiva, produzido pelo Movimento de Justiça e Direitos Humanos do RS. Ele ainda integrou o Conselho Científico da Rede de Estudo dos Fascismos, Autoritarismos, Totalitarismos e Transições e conforme seu currículo lattes, ele integrava os conselhos editoriais das revistas História & Luta de Classes, Taller, Maracanan e Segle XX, entre outras.
Jair Krischke presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH), lembra que Padrós, antes de se tornar professor universitário, integrou o MJDH como voluntário em um projeto de ensinar professores a educar para os direitos humanos e, anos mais tarde, já doutor em História, voltou elaborar o livro.
— Ele trabalhava esses temas com muita seriedade. Se dedicou muito a examinar nossos arquivos, se debruçou sobre esse trabalho de forma minuciosa, analisando todos os detalhes. Costumo dizer que para examinar esses documentos não basta ser alfabetizado, é preciso saber ler. E o Enrique sabia ler — ressalta.
Krischke também destaca a importância do trabalho de Padrós como professor e pesquisador:
— Sempre me queixo que a academia tem uma grande dívida para com o seu povo porque não pesquisa sua história recente. O Enrique, que vem de uma escola uruguaia, de muita exigência e qualidade, sempre foi muito dedicado a essa pesquisa. É uma perda importante para a academia brasileira — conclui.
O velório ocorre até as 2oh nesta quinta-feira (23), na sala 1 do Crematório Metropolitano, na Avenida Prof. Oscar Pereira, 584, bairro Azenha, em Porto Alegre.