Mesmo em tempos menos reluzentes do que em anos pré-pandemia e de severa crise econômica, o Natal parece não perder o poder de manter acesos o encantamento e as tradições. Muitas famílias ainda conseguem e fazem questão de enfeitar fachadas e interiores de suas casas com Papais Noéis, pinheiros e pisca-piscas, seja pela alegria de um lar decorado, pela magia que proporciona a quem passa em frente a ele ou, na maior parte dos casos, pelas duas razões.
Uma dessas residências que faz qualquer pedestre desacelerar a passada pelo bairro Menino Deus é de Lisa Assis, 43 anos. Na Rua General Caldwell, uma cortina de luzinhas ilumina a grande guirlanda que cobre a janela da frente. Na varanda e no jardim, sinos, renas e mais lâmpadas celebram um dos períodos mais festivos do ano.
Lisa é apaixonada pelo Natal e mantém o mesmo costume há meia década: tão logo termina o Dia de Finados, vai ao depósito nos fundos da casa, abre as caixas e começa os trabalhos. A morada natalina ainda envolve as duas filhas de Lisa, Natiele, 24 anos, e Valentina, seis, que ajudam a mãe com os preparativos. A vizinhança também contribui, seja com a doação de enfeites ou com mão de obra na hora de pendurar os adereços que ficam mais no alto.
— Já me disseram que minha casa parece coisa de cinema. As pessoas param aqui em frente pra tirar foto, fazer selfie. Faço isso porque o fim de ano é um momento de alma, uma época em que me disponibilizo a fazer com que as pessoas fiquem mais felizes — afirma Lisa.
Se a parte externa já chama atenção, não é nada comparado à riqueza da decoração do interior. Não há um móvel que escape dos lindos penduricalhos. Até as estátuas de Buda e Ganesha ganharam touca de Papai Noel.
— A casa é minha, coloco quantos pinheiros eu quiser, sabe? — diverte-se, mostrando a sala de estar com duas árvores de Natal de aproximadamente 2 metros de altura cada, uma em verde e prata, outra em azul e branco.
Boa parte dos adereços são comprados pela internet, quando estão com preços atraentes. Além de ser uma forma de alegrar a vizinhança, decorar o lar também é um modo de acolher e alegrar a filha mais nova:
— A minha pequena gosta muito, fica encantada. Ela tem seis anos, é autista e curte muito interagir com os enfeites, com as bolinhas.
Mais árvores
Segundo decoradores, enfeitar mais o interior do que as fachadas parece tendência neste fim de ano. Leo Wofchuk, que é decorador e colaborador da loja Zona Franca, estabelecimento especializado em Natal na Capital, afirma que boa parte de seus clientes tem buscado um item em especial:
— Desde que começou a pandemia, se vendeu muito mais árvores e decorações para si. Mesmo quem tem menos recursos acaba comprando ao menos uma árvore menor pra colocar dentro de casa. Além disso, diversas prefeituras, principalmente no Interior, têm incentivado mais o Natal, que as pessoas tenham uma luz, cidades mais alegres, mais humanas.
As prefeituras de Tapes, Carlos Babosa, Gravataí e Chuí, segundo Léo, são alguns exemplos de órgãos decorados pela Zona Franca neste ano. Em Porto Alegre, embora a estrutura do Paço Municipal esteja menos iluminada do que em anos anteriores, a praça em frente à prefeitura abriga um reluzente pinheiro verde e branco de 21 metros de altura, fruto de uma parceria entre a prefeitura e a Gerdau, no âmbito da campanha Natal dos Encantos.
Na Rua dos Andradas, o hall de entrada e o corredor do Edifício Central também chamam atenção pelo capricho da decoração. Desde a última terça-feira, luzes douradas foram colocadas ao redor de cada detalhe das portas e no entorno do beiral. O trabalho foi feito pelas mãos de Valéria Kilka, 45 anos, que trabalha na limpeza do prédio, e seu marido, o zelador Gilberto Martins, 66.
Eles moram no Central há 24 anos, e há duas décadas ela decora o local para o Natal. O talento e o gosto pela decoração foram reconhecidos pelos demais moradores, que pagaram para Valéria um curso para aprender a fazer guirlandas.
— É uma forma de agradecer aos condôminos que nos tratam com bastante carinho há muitos anos. Sinto muita satisfação quando me dizem que é o prédio mais decorado da Andradas — afirma Valéria.