O sucesso da série sul-coreana Round 6, da Netflix, entre crianças e adolescentes tem alarmado pais e educadores, reacendendo o debate relacionado aos tipos de conteúdo que são oferecidos e consumidos pelos jovens nas redes sociais e plataformas de streaming. Em um cenário em que somos todos impactados diariamente por vídeos, séries, memes e imagens selecionados por algoritmos, psicólogos e pesquisadores em interação digital reforçam a importância de que os adultos se preocupem em tornar a experiência virtual do público infantojuvenil a mais saudável e segura possível.
Para os especialistas, a melhor estratégia para uma navegação menos arriscada é combinar diálogo e interesse pela atividade online do jovem com o uso das ferramentas de regulação conhecidas como controles parentais. Uma série de dicas para ajustar parâmetros de tempo diário de tela, conteúdos disponíveis e permissão para fazer ou receber comentários em plataformas como TikTok, Instagram, Netflix, Amazon Prime Video, YouTube e Globoplay está disponível neste link.
— Mesmo dentro de casa, sentada no sofá, a criança está tendo acesso ao mundo, à maior praça pública do planeta, com todas as variedades de conteúdo que ele oferece. E isso exige dos pais os mesmos filtros que eles colocam no acesso do seu filho à rua e ao transporte público, por exemplo, para protegê-lo de situações as quais ainda não têm discernimento ou maturidade para lidar — afirma Rodrigo Nejm, psicólogo e diretor da SaferNet, organização não governamental que promove direitos humanos na internet.
Para o psicólogo, quando os pais deparam com os desafios impostos pela internet à educação dos jovens, a pior alternativa é o pânico, pois leva a medidas não pedagógicas ou saudáveis para a família, como "desligar tudo", tirar da tomada, esconder o controle, bloquear o celular. No outro extremo, o pânico também pode provocar uma sensação de impotência completa. A melhor rota a seguir é a do envolvimento no mundo virtual do filho:
— Você já se sentou para acompanhar parte da série ou game do momento com seu filho? Ache uma brecha pra se envolver na experiência, sem condenar ou julgar. O exercício é, por pelo menos 15 minutos, segurar a onda e observar a reação de seu filho. O que o encanta? Que tipos de comentário ele faz? Depois de entender a interpretação da criança sobre o conteúdo, provoque uma conversa e, se necessário, construa com ela a noção de que aquele conteúdo, por "X" motivos, ainda não é adequado para ela. É importante não encerrar a conversa na proibição, e sim encontrar alternativas e negociar: "Você não pode ver esta, mas pode ver estas outras".
Guiar-se apenas pela classificação indicativa (livre, 10 anos etc.) também não é o suficiente. Na avaliação do diretor da SaferNet, trata-se de um parâmetro importante a ser encarado como uma sugestão de público ideal, mas não como sinônimo de faixa etária. O mais efetivo é que os pais pesem se seu filho tem maturidade suficiente para consumir aquele conteúdo. Uma criança de 11 anos pode não estar pronta para assistir a uma série indicada para 10 anos. Da mesma forma, uma criança de 10 anos pode já ter maturidade suficiente para ver um filme com classificação indicativa superior.
Falta transparência com relação aos critérios que são levados em consideração pelos algoritmos que fazem a seleção das séries, filmes e vídeos que são sugeridos aos usuários, aponta o psicólogo e pesquisador em algoritmos de streaming Bruno Procopiuk Walter. Com a intenção de manter o internauta fixado na tela, eventualmente são oferecidos conteúdos cada vez mais intensos, violentos e que não necessariamente buscam o bem-estar do espectador.
— Os algoritmos não fazem julgamentos éticos e morais, a não ser que essa regra tenha sido colocada na programação. E aí temos, muitas vezes, a exibição de conteúdos em plataformas, como o TikTok, que podem ser inclusive ilegais. Algoritmos são excelentes e têm potencialidade para ajudar a construir uma sociedade melhor. Mas o fato é que ainda não sabemos quais são os desdobramentos na formação dos cidadãos, que, ao longo de toda a sua infância e juventude, são expostos a bolhas de conteúdos. Por isso, é importante que possamos, enquanto sociedade, debater quais são os critérios que devem estar presentes para a seleção dos conteúdos recomendados — afirma Bruno.
Em plataformas como o YouTube, é possível ajudar a refinar o que os algoritmos entregam, dando deslike ou bloqueando vídeos considerados inadequados. Essa ação ensina o algoritmo sobre recomendações que não são apreciadas pelo usuário. Denunciar eventuais falhas do controle parental — como a disponibilização de conteúdos que não condizem com a faixa etária pré-definida para um perfil de streaming, por exemplo — também contribui para a evolução da segurança das plataformas digitais.