A comemoração dos 35 anos de casados de Leotilde de Souza Ilha, 61 anos, e Carlos Montanha Ilha, 57, não saiu bem como o esperado. Os planos de viajar para Gramado, na Serra, para celebrar o dia 27 de fevereiro precisaram ser cancelados em razão da covid-19. Ambos foram infectados e hospitalizados.
A agente comunitária foi a primeira a ser levada ao Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (HSL-PUCRS), em 24 de fevereiro, após um agravamento nas suas condições de saúde. Foi internada com mais da metade dos pulmões comprometida.
Com a piora do quadro, precisou deixar o quarto e ser encaminhada para a emergência a fim de aguardar um leito na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Três dias depois, conseguiu a vaga e ingressou na UTI, onde permaneceu até o último sábado (6).
— Ela não melhorava, estava em ventilação mecânica de alto fluxo, respirando com muita dificuldade. Como ela é hipertensa e diabética, ficamos muito preocupados — conta a filha, Carla Fernanda de Souza Ilha, que trabalha como técnica de enfermagem no HSL.
Nesse meio tempo, Carlos também sofreu um agravamento da doença: a saturação estava baixa e a febre, altíssima. Então, na madrugada de 2 de março, o caldeireiro e soldador foi levado ao HSL.
— Na tomografia, apareceu que ele estava com 50% dos pulmões comprometidos. Ele ficou internado, mas não foi para a UTI — relembra Carla.
Leotilde só foi informada da internação do marido no sábado, quando Carla a visitou. O que ela não imaginava é que a equipe de enfermagem do HSL bolava o reencontro dos dois para o dia seguinte, durante a realização de uma tomografia.
— Temos na nossa rotina a impressão dos pedidos de exames dos pacientes internados. Ao fazer isso, uma colaboradora comentou que tinham duas pessoas com o mesmo sobrenome. Outra perguntou: "Será que são parentes?". Pela idade, achamos que seria um casal — diz a enfermeira Priscila Carvalho, que atua na UTI Covid e no Centro de Diagnóstico por Imagem do HSL.
Foi aí que começou a investigação e o trabalho para reunir a dupla. Priscila ligou para o andar onde eles estavam internados para saber se eles eram, de fato, parentes. Ao receber a confirmação de que se tratava de um casal, a equipe toda se mobilizou para promover o encontro na manhã de domingo (7), quebrando a rotina da instituição.
Como hábito, os pacientes internados fazem exames durante a noite. Ao longo do dia, o Centro de Diagnóstico atende casos ambulatoriais e os mais graves do hospital. Sem saberem da surpresa, os dois foram levados até a antessala do Centro, onde finalmente puderam se ver.
— Quando a gente virou a cadeira de rodas dele para a cama dela, veio a surpresa. Foi a melhor imagem que eu vi nesse um ano de pandemia. Eles e a equipe ficaram emocionados — comemora a enfermeira.
Grata à instituição e a todos os profissionais que a atenderam ao longo da internação, Leotilde recorda com detalhes do que viveu nesse dia:
— Ele sabia que tinha risco de eu não sair com vida do hospital. Lembro dos olhos dele cheios de lágrimas quando me viu. Fiquei emocionada. Foi bom até para a recuperação da gente — comemora Leotilde.
A paciente foi liberada na última segunda (8), e o marido deixou a instituição nesta quarta-feira (10).
— Essa doença machuca o coração. O nosso afeto, o nosso sentimento. A gente fica em isolamento, se afasta de quem a gente ama. E digo isso pelos profissionais também. Percebi que termos proporcionado isso foi o combustível para que eles se recuperassem logo. Estou feliz e emocionada pela mobilização da equipe — conclui Priscila.
Assim que se recuperar totalmente, o casal planeja, finalmente, celebrar as bodas de coral no sítio da família.