
Na correria do dia a dia, muitas vezes não paramos para refletir sobre nossos sentimentos, inclusive, pela figura materna. O Dia das Mães é quase um convite para fazer uma pausa e declarar nosso afeto.
Pensando nisso, Zero Hora convidou seus leitores a responder à pergunta: "O que você nunca disse para a sua mãe?" com a intenção de abrir espaço para falarem aquilo que sempre tiveram vontade, mas que, por algum motivo, não conseguiram.
É importante destacar que a expressão figura materna refere-se a toda e qualquer pessoa que exerce um papel de cuidado e orientação, podendo ser a mãe biológica, a mãe adotiva, a avó, a tia ou a madrasta, por exemplo.
Diversas foram as declarações enviadas, que evidenciam o papel afetivo da mãe na vida dos filhos. De modo geral, as mensagens remetem lembranças e sentimentos de reconhecimento e amor.
O que é o jornalismo de engajamento, presente nesta reportagem?
É uma prática jornalística que coloca o público como protagonista da notícia, criando uma troca positiva e impactante na comunidade. Queremos abrir ainda mais espaço para que você, leitor, possa participar da construção do nosso conteúdo desde a concepção até o feedback após a publicação.
Como engajamos o público?
Convidamos nossos leitores a participarem da construção do conteúdo pelas redes sociais, monitoramos o que é discutido nos comentários das matérias e publicamos formulários que dão espaço a dúvidas e sugestões.
Mãe como fortaleza
Para o leitor Fernando Lucena, a mãe, Marluce Bueno, é como uma fortaleza. Em sua declaração, ele buscou manifestar o amor que sente, reconhecendo os sacrifícios feitos por ela ao longo da vida. Fernando considera que a rotina, muitas vezes, atrapalha essa verbalização de sentimentos e faz com que certos momentos não sejam amplamente aproveitados.
Mãe, a sua maior fortaleza é jamais desistir de seus sonhos, mesmo que estes sonhos não sejam somente seus, mas sim de seus filhos também. Obrigado por toda a sua luta, ela nos ensina muito todos os dias. Quando meus pais se divorciaram eu escolhi ficar com meu pai e isso não diminui em nada meu amor pela minha mãe. Quero que saiba disso. Te amo!
FERNANDO LUCENA MACIEL JUNIOR
Mãe: Marluce Bueno
A figura materna costuma ser a primeira fonte de cuidado e vínculo emocional de um ser humano. Essa relação é capaz de criar uma base, que faz com que o filho associe a mãe à ideia de segurança.
A psicóloga Juliana Pureza, professora do curso de Psicologia da Universidade Feevale, cita o pesquisador John Bowlby, que fala sobre a importância dos vínculos emocionais e como eles são capazes de influenciar o desenvolvendo social e emocional de uma pessoa ao durante a vida. Um elemento central para isso seria a capacidade do cuidador primário de reconhecer e responder adequadamente às necessidade de uma criança.
— Conforme ela vai sendo respondida, desenvolve uma relação de segurança com o cuidador primário. No início, a presença física daquela pessoa é muito importante. Até se afastar parece um pouco assustador. Com o passar do tempo, ela vai internalizando essa figura, sabe que a pessoa não está ali, mas está pensando nela, que vai voltar a vê-la. Ela desenvolve uma relação de segurança, confiança e cria um apego seguro, um vínculo com aquela figura materna. Depois, isso serve como base para as relações futuras — pontua a psicóloga Juliana.

Mãe como inspiração
Outra manifestação que apareceu nas declarações dos leitores é a gratidão pelos ensinamentos da figura materna, os quais os filhos desejam perpetuar por gerações. Karen Alves escreveu à mãe, Ieda Alves, que morreu em 2020, uma mensagem em que fala sobre como a ela a influenciou no seu modo de ver e levar a vida:
Mãe, você sempre foi e será minha inspiração! Eu amo as humanas e o cuidar dos meus pacientes, pois você sempre demonstrou afeto, respeito e cuidado pelos teus. O amor pelos livros foi ensinado a mim por você e hoje eu tento passar as minhas filhas o mesmo encanto que aprendi. Queria poder ter aproveitado mais, ter ouvido mais e rirmos ainda mais. Que saudade da tua risada! Você partiu fisicamente, mas sei que sempre estará conosco nos bons e não tão bons momentos, como sempre o fez! Eu te amo e acho que fazia tempo que não te dizia isso.
KAREN ALVES
Mãe: Ieda Alves

A admiração pela figura materna é outro ponto abordado nas declarações enviadas pelos leitores de Zero Hora, como no caso de Tatiane Nicoleit Kayser, que tem a mãe como referência de gentileza e bondade.
Mãe, meu amor por você não é segredo para ninguém. Todos sabem o quanto te admiro e faço de você a minha maior inspiração para seguir. A sua dedicação me mostra que podemos sempre entregar o melhor de nós para os outros, com gentileza, bondade e respeito. Você é um anjo nesse mundo. Quem dera todos tivessem a sorte de ter uma mãe tão amiga e parceira assim. Meu amor é e sempre será todo seu!
TATIANE NICOLEIT KAYSER
Mãe: Sueli Nicoleit
A figura materna é, geralmente, um dos primeiros contatos com gestos de carinho, acolhimento e conforto, o que é capaz de marcar as percepções do filho, inclusive, sobre ele mesmo.
— Quando uma criança inicia seu desenvolvimento, ela tem na figura dos pais, especialmente na materna, o primeiro modelo de amor, de cuidado e acolhimento. O primeiro espelho é o olhar da mãe. Se a criança olha para a mãe e identifica nesse olhar uma expressão de amor, acolhimento e de cuidado, ela se sente acolhida e amada — afirma Cristiano Dal Forno, professor e coordenador do curso de Psicologia da PUCRS.
Além disso, a figura materna costuma ser uma das principais referências de modelo de como agir em sociedade.
— Os pais atuam muito como modelo nesses processos de desenvolver habilidades e as nossas capacidades. A criança se inspira naquilo que a mãe e o pai fazem e isso serve como modelo para aquilo que ela busca para si. Às vezes, chega em outras fases, como a adolescência, em que ela questiona esse modelo, mas os cuidadores primários são os primeiros — adiciona Juliana Pureza.

Saudade da mãe
Cirene Machado Gonçalves, mãe de Sílvia Regina Gonçalves, vive com o Alzheimer há alguns anos. Dessa forma, a filha escreveu que sente falta das conversas e das vivências que as duas costumavam compartilhar no passado, antes da condição atingir estágios mais avançados. A maternidade não é uma experiência única, ela pode carregar uma série de individualidades e nuances, como da saudade.
Nunca imaginei que sentiria falta de alguém vivo, de alguém que eu possa visitar, mas que aos poucos, parece não estar mais ali. Onde está aquela mulher que conversava comigo sobre vários assuntos? Morro de saudade das nossas conversas. Elas já não mais iguais como antes. E eu sinto saudade daquilo que éramos. Tu ainda lembras de mim. E eu fico a pensar que um dia, não sei quando, não lembrarás mais.
SÍLVIA REGINA GONÇALVES
Mãe: Cirene Machado Gonçalves

Um olhar direcionado à mãe
Os especialistas apontam que enxergar a figura materna como fortaleza, inspiração ou referência não deve negar sua humanidade e suas possíveis vulnerabilidades, aspectos que costumam ser invisibilizados. É preciso reconhecer a complexidade de ser mãe.
Muitas mães enfrentam desafios logo na gestação, destaca Rafaela Schiavo, psicóloga Perinatal e da Parentalidade, fundadora do Instituto MaterOnline. Depois, vêm questões como jornadas duplas, preocupações financeiras, problemas de saúde, possíveis falhas e limites, o que também eleva cobranças e autocríticas.
— Mais da metade das mulheres grávidas não planejaram a gestação. Quando elas descobrem que estão grávidas, plenitude e alegria não são as primeiras emoções que aparecem e sim, ansiedade e estresse. Muitos fatores podem frustrar essa mulher, porque existe toda uma idealização que ela pode ter formado sobre a sua maternidade — aponta.
O volume de demandas é capaz de levar a sofrimentos. Nesse sentido, torna-se importante olhar não apenas para o filho, mas também para as necessidades da mãe.
— A sobrecarga materna é um problema histórico, político e social. Ela tem haver com a construção de gênero, com a forma que nos organizamos enquanto sociedade, com a falta de políticas públicas, principalmente, quando falamos em mães em situação de vulnerabilidade. É muito difícil ser mãe na atualidade, porque se soma essa sobrecarga com as questões contemporâneas da nossa geração — coloca Juliana Pureza.
Conforme o psicólogo Cristiano Dal Forno, a rede de apoio externa é um elemento fundamental para garantir uma melhor relação entre mães e filhos:
— Essa mãe também precisa ser cuidada para poder cuidar. O exercício da maternidade, apesar de ser muito lindo, é extremamente desafiador. E, ainda que a gente fale dele com um certo romantismo, há agruras que só quem viveu e vive esse processo sabe. Tanto as privações cotidianas, quanto outra dimensão de mudança, que tem haver com, por exemplo, viver com o conflito de "antes era eu por mim, agora sou eu por mim e por esse outro".
Outras formas de comunicar amor
A reportagem levou em consideração a manifestação escrita como forma para declarar afeto. Contudo, o amor dos filhos pode ser comunicado de diversos modos, como pelas ações.
— Há diferentes formas de expressar afeto. A forma falada, a declaração verbal é apenas uma delas. Há filhos que, ainda que não tenham podido, quem sabe, fazer declarações de amor, têm se dedicado a se cuidar dos seus pais na velhice, a devolver aos seus pais, de uma certa forma, esse cuidado que eles foram dependentes — exemplifica Cristiano Dal Forno.
*Produção: Carolina Dill
É assinante, mas ainda não recebe as newsletters com assuntos exclusivos? Clique aqui e inscreva-se para ficar sempre bem informado!