Por Armindo Trevisan
Professor, poeta e crítico de arte
Fui amigo de Ivan durante mais de duas décadas. Nunca teria imaginado encontrar na minha vida um cientista, dos mais criativos na área da neurociência, reconhecido internacionalmente por seus artigos científicos, por suas contribuições em livros e em revistas, nas quais expunha suas impressionantes descobertas sobre a memória, e que tivesse um coração tão sensível à poesia e à literatura em geral. Recordo-me de várias ocasiões em que nosso assunto predileto eram obras musicais clássicas ou pinturas e esculturas das épocas clássica e moderna.
Ivan possuía uma cultura literária invejável, especialmente por seus conhecimentos sobre a obra do grande autor argentino Jorge Luis Borges. Além disso, acompanhava a evolução dos romancistas latino-americanos, como Julio Cortázar, García Márquez, Juan Rulfo e outros. Eu diria que ele poderia ser considerado um especialista no que diz respeito a Borges. A cultura geral de Ivan abrangia outras áreas como filosofia, psicologia, sociologia, história da arte e estética. Durante a elaboração de meu livro Cartas à Minha Neta (AGE, 2007), trocávamos constantemente e-mails nos quais ele me dava sua opinião sobre o texto, muitas vezes me sugerindo correções ou aprimoramentos. Devo a ele muitos estímulos na minha vida literária, dado que seus conhecimentos em poesia eram notáveis.
Este grande amigo me revelou vários poetas de sua língua materna. Outro aspecto da vida de Izquierdo era sua visão humanista. Possuía muita sensibilidade em relação a desigualdade e outras carências nossa vida social.
Nada tinha, porém, de ideológico. Diria até que sua visão social era muito desenvolvida. Pessoalmente, estava sempre atento aos problemas da vida atual e sempre desejoso de contribuir para o bem estar das classes menos favorecidas.
Poucas vezes conheci uma personalidade – unanimemente reconhecida pela mídia – que fosse tão modesta e tivesse uma vida pessoal tão discreta. Compartilhamos, em diversos encontros íntimos, nossas emoções e sentimentos evocando viagens, visitas a museus ou comunicando um ao outros impressões sobre autores que amávamos. Algumas vezes, eu recorria a ele para entender melhor conceitos científicos. Ele me ajudou inclusive a aprimorar, em meus ensaios, as citações científicas. Nunca esquecerei de sua delicadeza, presenteando-me com uma edição da Divina Comédia recentemente traduzida no Brasil, sabendo de minha paixão pelo grande poeta italiano Dante.
Perdemos um grande cientista, que formou inúmeros cientistas. Ivan contribuiu para a fundação de um dos grandes institutos de pesquisa Rio grande do Sul, o Incer Instituto de Cérebro, que atrai hoje pesquisadores de diversas nações prestando um serviço inestimável à sociedade científica nacional e internacional. Tinha particular interesse em estimular o talento de jovens estudantes na área da memória.
Cada amigo que se perde é um ser humano insubstituível. Sua memória, todavia, permanece, e a saudade que sentimos desses entes queridos nos acompanha vida afora.