Eu estava escrevendo um texto dizendo que o racismo havia diminuído no Rio Grande do Sul. Meu texto dizia que os gaúchos estavam evoluindo como pessoas e tratando os negros com mais dignidade. Na noite de quinta-feira, eu tive que parar de escrever o texto.
Quando recebi a notícia de que o Alberto havia sido morto em frente ao mercado, na Zona Norte, meu coração disparou. Por mais que muitas pessoas queiram acreditar que as motivações deste homicídio não foram raciais, elas foram. Essa crença prova que ainda temos pessoas que acreditam que o racismo é um mito.
O racismo não mora no coração das pessoas negras. O racismo, infelizmente, mora no coração das pessoas de pele clara, e elas precisam, o mais rapidamente possível, remover esse câncer do seu caráter e da sua alma.
Gaúcho
Seu João, o pai que está de luto hoje, vive a pior experiência que o ser humano pode viver. Ele está enterrando o próprio filho, contrariando a lei da natureza. Qualquer gaúcho que esteja lendo essas linhas ou assistindo às imagens e não sentir vergonha de ter a pele clara neste momento precisa reavaliar a sua conduta. Os homens que cometeram esse crime têm uma pele clara, o homem que morreu, tinha a pele escura.
Não quero, com esse texto, dizer que todo gaúcho é racista. Mas quero dizer que todo gaúcho precisa ser antirracista, precisa lutar contra o racismo com todas as suas forças, independentemente da cor da sua pele. Se você acredita que o racismo é um problema dos negros, pode ter certeza de que o racismo já está dentro de você. Ao seu João e à família do Alberto, peço que tenham força, que resistam ao desejo de vingança e à raiva que esse momento traz, pois precisamos acreditar que as pessoas brancas estão comprometidas em nos deixar viver.
E se você, de pele clara, não vê a vida do Beto como algo que importa, tome cuidado. Talvez, a sua vida já esteja sendo devorada pelo pior câncer da atualidade: o racismo.