Os dias quentes estão aí, e a proximidade do verão e do mais concorrido período de férias, mesmo em um ano absolutamente atípico devido à pandemia de coronavírus, fomenta uma série de dúvidas nos pais. Crianças estão liberadas para brincar na areia da praia? Podem fazer novas amizades? E ir ao bufê de sorvetes?
GZH consultou dois médicos infectologistas para responder a questões enviadas pelos leitores e a outras dúvidas mais comuns. Membros da Sociedade Rio-Grandense de Infectologia, Fabrizio Motta, supervisor do Serviço de Infectologia Pediátrica da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, e Nicole Alberti Golin, do Hospital Tacchini, em Bento Gonçalves, reforçam a necessidade da manutenção de comportamentos já ensinados ao longo deste ano de tantas restrições, independentemente da estação. É imprescindível evitar aglomerações, manter o distanciamento, higienizar as mãos e não compartilhar objetos com pessoas que não sejam moradoras do mesmo domicílio.
Talvez, inclusive, este seja o momento de rever os planos do veraneio para preservar a saúde de toda a família.
— Não recomendo ir para praia muito populosa. Se é para disputar lugar na areia, não é para entrar — adverte Nicole. — Não é um ano como todos os outros, infelizmente. Isso não está sob nosso controle. A vacina não estará disponível em larga escala antes do verão. E não é porque chegou o verão que “vira a chave” e tudo volta a ser como antes — completa a especialista.
Quais os cuidados ao viajar de carro com familiares?
Pergunta enviada por Luiz Carlos Pioner, de Canoas
Integrantes dos grupos de risco (idosos e doentes crônicos, principalmente) devem ser poupados, ou seja, ter contato reduzido ao mínimo necessário com pessoas que não moram na mesma residência. Idosos e crianças que vivem juntos podem viajar no mesmo veículo, sem problemas, mas a situação é bem diferente para quem não tem convívio diário.
Se não houver alternativa, a recomendação da infectologista Nicole Alberti Golin é para que pessoas com mais de 60 anos e/ou comorbidades usem máscara o tempo todo, trocando-a a cada duas horas ou quando estiver suja/úmida. As mãos devem ser higienizadas com álcool gel ou água e sabão frequentemente. Durante todo o trajeto, as janelas do automóvel devem ficar abertas.
O que é o jornalismo de engajamento, presente nesta reportagem?
É uma prática jornalística que coloca o público como protagonista da notícia, criando uma troca positiva e impactante na comunidade. Queremos abrir ainda mais espaço para que você, leitor, possa participar da construção do nosso conteúdo desde a concepção até o feedback após a publicação.
Como engajamos o público?
Convidamos nossos leitores a participarem da construção do conteúdo pelas redes sociais, monitoramos o que é discutido nos comentários das matérias e publicamos formulários que dão espaço a dúvidas e sugestões.
É importante frisar que todos os cuidados da rotina de casa devem ser transferidos para o local de destino das férias, evitando adoecer e sobrecarregar os serviços de atendimento.
— Cada cidade tem uma estrutura de saúde dimensionada para a sua população — destaca Nicole.
O álcool gel pode prejudicar a pele dos bebês?
Fabrizio Motta, que também é membro da Sociedade Brasileira de Pediatria, afirma que não é recomendada a aplicação de álcool gel em bebês — os pais e demais cuidadores é que devem higienizar as mãos antes de tocá-los. Quando possível, o melhor é lavá-las com água e sabonete. Quanto a protetor solar, deve-se seguir as orientações do pediatra.
Importante: não é o momento de seu filho ser tocado ou carregado no colo por pessoas de fora do mais próximo círculo familiar (residentes no mesmo domicílio).
É necessário o distanciamento na faixa de areia da praia?
Pergunta enviada por Fabiano Rockenbach, de Canoas
Com certeza absoluta, responde Nicole. É por isso que a infectologista não recomenda viagens para praias que concentram grande número de veranistas, conforme mencionado no início desta reportagem.
Que comportamento adotar com os pequenos na beira-mar?
Enquanto não houver uma vacinação em massa, orienta Motta, é fundamental continuar respeitando o distanciamento mínimo de dois metros entre as pessoas, onde quer que estejam. Podem ficar próximos apenas os residentes de um mesmo domicílio.
— Estamos começando a ficar cansados, mas não adianta. A pandemia segue — comenta o infectologista.
Há risco de contaminação em brincadeiras na areia?
Pergunta enviada por Débora, de Eldorado do Sul
Não tem problema. O mais crítico e ameaçador é o acúmulo de pessoas, frisa Nicole.
É seguro ir para a praia com uma criança de três anos que não se adaptou a usar máscara?
Pergunta enviada por Danielle, de Porto Alegre
É normal que a criança tenha dificuldade para se adaptar. Incomodada, mexendo no rosto a todo instante, pode acabar se contaminando com mais facilidade do que se estivesse sem o acessório.
Será um passeio seguro se a família mantiver o distanciamento mínimo de dois metros em relação aos demais frequentadores.
— Praia cheia não é segura nem para criança, nem para adulto, nem para idoso — repete Nicole.
Brinquedos podem ser compartilhados?
Não. É importante que a criança utilize seus próprios brinquedos, ensina Motta. Os pais devem estar sempre atentos, fazendo todas as intervenções necessárias para evitar que os filhos coloquem na boca os objetos de outras crianças.
É hora de ter criatividade e inventar brincadeiras, sugere o infectologista. Pais devem estimular novas atividades entre irmãos, por exemplo.
Deve-se adotar medidas extras de proteção na praia e na piscina para crianças que ainda não usam máscara?
Valem as precauções essenciais de sempre, adotadas também em outros ambientes: evitar aglomerações e contato de perto com pessoas que não são do mesmo domicílio, além da higienização frequente das mãos. Como o dia a dia dessas crianças costuma ser mais restrito à convivência com os familiares de casa, não deve haver grandes problemas, observa a infectologista Nicole Alberti Golin.
É possível se infectar na escada metálica da piscina?
A escada da piscina pode ser comparada à maçaneta da porta, diz Motta. Se uma pessoa contaminada encostar nesses pontos, pode acabar infectando outras que ali tocarem depois. A escada, portanto, também deve ser higienizada.
Pode-se utilizar boias e colchão inflável?
Não há problema em usar os brinquedos e os acessórios próprios. O que deve ser evitado é o compartilhamento, a menos que ocorra higienização prévia. No clube, por exemplo: se houver itens disponíveis para todos os sócios, você deve providenciar a limpeza antes de liberar a brincadeira das crianças.
Como consumir comida e bebida na praia ou na piscina?
Toda vez que nos alimentamos, é preciso retirar a máscara. Se estivermos próximos de pessoas com quem não convivemos habitualmente, há uma exposição aumentada ao risco de infecção pelo coronavírus. Organize-se de forma a conseguir oferecer as refeições em locais mais tranquilos, com presença apenas dos familiares habituados ao convívio presencial.
É seguro comprar picolé e outros alimentos de vendedores ambulantes?
Motta é categórico: os pais devem ter bom senso e tentar reduzir todos os riscos. Se você não estiver seguro quanto às condições de higienização, produção e acondicionamento do que quer comprar, evite. Neste período em que ainda não há vacina para imunizar a população, o melhor talvez seja levar os lanches que sua família pretende consumir.
Como as crianças devem se servir em bufês de comida e sorvetes?
Em situações de potencial exposição a risco, como nesses locais, é importante que os pais supervisionem os filhos ou executem a tarefa por eles. Os estabelecimentos têm disponibilizado luvas plásticas, que podem ajudar na prevenção. Mas atenção: não use luvas o tempo inteiro ou em atividades como ir às compras no supermercado, pois elas podem dar a falsa sensação de proteção. O mais adequado é lavar as mãos mais vezes.
Que precauções ter com crianças, principalmente na idade em que levam tudo à boca, em hotel ou imóvel alugado?
Ao chegar, faça uma ampla limpeza no local. Caso pretenda se hospedar em hotel, procure os estabelecimentos que tenham criado regras claras de segurança em relação ao coronavírus. Seja cuidadoso ao circular pelas áreas comuns, evitando aglomerações e mantendo distanciamento de dois metros.
— Sabemos que, para as crianças, a covid-19 não está tendo grande impacto, mas elas podem ser transmissoras — relembra a infectologista Nicole.
Como minimizar os riscos em relação às novas amizades?
É natural que crianças se aproximem umas das outras, conversem, brinquem, se toquem, troquem objetos. Essa cena tão corriqueira representa grande risco de transmissão do coronavírus atualmente. Respeitando o vocabulário e a capacidade de entendimento de cada faixa etária, explique o que está acontecendo e por quê, neste momento, não será possível retomar antigas rotinas. Fale sobre as formas de transmissão do coronavírus, como é fácil uma pessoa infectar outra, as formas de prevenção — por exemplo, não ficar botando a mão na boca e abraçando quem não mora na mesma casa. Explique de forma clara e lúdica. Não é só dizer “não pode”, mas explicar o porquê das proibições. Se for o caso, fale também sobre os riscos que correm o vovô e a vovó.
— As crianças maiores estão tendo um grau de entendimento maior do que muitos adultos — constata a médica Nicole.
Motta reforça que o diálogo precisa ser permanente quanto à exposição a desconhecidos:
— É uma conversa mais contínua, todos os dias. Tem que repetir.
Como proceder nas pracinhas?
As orientações não diferem muito do que é feito em outros ambientes. Se for mantida a distância devida e não houver contato físico com outras crianças, a infectologista Nicole afirma não haver problema na utilização de gangorras, escorregadores e balanços. Os pais ou cuidadores devem orientar a higienização frequente das mãos dos pequenos com álcool gel, mas nada exagerado, de cinco em cinco minutos.
— As crianças pegam o hábito. Elas inclusive vêm pedir para passar álcool nas mãos — comenta Nicole.