O casamento é a festa do sim. É o momento tão aguardado em que um casal confirma a vontade de estabelecer um vínculo duradouro – por vezes para a vida toda. Em tempos de pandemia de coronavírus, no entanto, a celebração afirmativa caiu no limbo das incertezas. Sem um protocolo seguro para os encontros presenciais, eventos planejados por meses foram cancelados ou transferidos, advertidos que podem ter de esperar ainda mais para comemorar a troca de alianças.
– Dos quatro casamentos que tínhamos marcados, três foram para o ano que vem. Um ficou em novembro, mas já estamos conversando sobre um adiamento maior. Sabemos que é um assunto delicado, então estamos indo aos poucos – diz a coordenadora de eventos matrimoniais da Catedral Metropolitana de Porto Alegre, Letícia Huff.
Somente em junho, os cartórios do Rio Grande do Sul registraram 34% menos casamentos do que no ano passado. Considerando o período entre março e junho, quando a pandemia ganhou força no Brasil, o abismo é maior: houve queda de 50% nas uniões civis.
Pelo menos três organizadores de eventos contatados pela reportagem disseram ter adiado todas as cerimônias previstas para o primeiro semestre de 2020 para datas a partir de novembro – a maior parte postergou para 2021. Quem manteve neste ano, agora, quebra a cabeça para pensar em formas de adaptar as cerimônias às normas de distanciamento social.
– A gente tem visto referências de fora, dos lugares que estão mais à frente na pandemia. Estamos em pesquisa constante, mas a verdade é que não está sob o nosso controle – diz a produtora Maria Eduarda Santos.
Privilegiar espaços abertos, festas com menos convidados e celebrações menores estão entre as possibilidades. Normas mais estritas de higiene e mudanças no serviço de alimentação também podem entrar em cena, mas tudo isso dependerá da liberação das autoridades para a retomada do setor, que, ao que tudo, indica deve ficar no fim da fila em razão do distanciamento social.
A falta de perspectivas tem exigido jogo de cintura dos profissionais – cada evento envolve uma cadeia grande de fornecedores e prestadores de serviços – e serenidade dos casais para gerenciar as próprias expectativas. Com a festa marcada para 21 de março, a médica Tanize Carpes desistiu da festa apenas cinco dias antes, percebendo a falta de clima. Marcou uma nova data para outubro, mas, no meio da pandemia, resolveu adiar a comemoração para março do ano que vem.
– No dia em que eu fui provar o vestido, foi como se o brilho tivesse se apagado. Não estava mais empolgada. Senti uma tensão no ar. A gente decidiu adiar para um momento em que já esteja mais organizado em relação a isso – conta Tanize.
Prevista para ocorrer em lugar fechado, a festa para 350 convidados deverá marcar a primeira boda do casal, que havia feito registro civil e uma pequena cerimônia religiosa dias antes da data do evento. Um novo adiamento, no entanto, não está descartado.
Já a jornalista Letícia Pellin não pretende esperar a pandemia passar para oficializar a união com o companheiro, Paulo Gilvane Borges.
– Estamos tentando engravidar, e quero casar antes disso. Como acredito que até dezembro a situação não vai se normalizar, pensei em fazer algo em casa, só para nós dois, para fazermos uma foto – conta Letícia, que ainda não decidiu a data do casamento.
Foi buscando inspiração para a cerimônia intimista que descobriu o trabalho de Isabella Guimarães. A profissional, que aluga objetos para eventos, tem prestado auxílio remoto a quem quer organizar pequenas celebrações em casa durante a pandemia – lembrando que reunir-se com pessoas que não vivem sob o mesmo teto é desestimulado pelas autoridades sanitárias – e também a quem deseja planejar cerimônias para quando tudo passar. A partir de fotos da residência dos clientes, monta cenários, fotografa-os e envia a sugestão por WhatsApp. Caso feche negócio, envia os objetos para que a pessoa reproduza em casa.
– A vida não parou. Está diferente, mas as coisas boas precisam ser comemoradas. E a gente tem percebido que as pessoas estão se envolvendo mais, botando a mão na massa. Estão cuidando da casa e da família de uma maneira muito amorosa – observa Isabella.
GaúchaZH conversou com especialistas para projetar o futuro dos casamentos a partir da pandemia de coronavírus. Veja algumas tendências:
Mais jardins, menos salões
Ao menos em um primeiro momento, festas em salões fechados deverão dar lugar a comemorações em espaços abertos, como pátios ou jardins. O motivo é simples: locais a céu aberto são mais arejados e facilitam a manutenção do distanciamento social, que deve continuar sendo adotado, pelo menos, até o surgimento de uma vacina.
– Na Europa, a tendência são eventos pequenos, ao ar livre. A gente também acha que quem costuma fazer casamentos deslocados, no Exterior, deve se voltar para locais mais próximos, como a serra gaúcha – projeta Cláudia Fornari, da Haro Eventos.
Só para os íntimos
Já se sabe que ambientes com aglomeração são um dos principais momentos de propagação do coronavírus. Até que seja possível reunir grupos maiores de forma segura, festas de arromba, com centenas de pessoas, devem dar lugar aos chamados mini weddings, com até 80 convidados, e aos micro weddings, com, no máximo, 30 pessoas.
Adeus, bufê
Aquela mesa de doces que seus tios tanto aguardaram para degustar promete estar com os dias contados, assim como comida servida em bufê. Para garantir a segurança alimentar e evitar filas, a tendência é de que os casamentos passem a servir comida em porções individuais.
– Ao que tudo indica, vamos ter que trabalhar com tudo porcionado por pessoa. Cada um deve receber seu prato, seu talher, seu copo, os antepastos na mesa, ou várias ilhas espalhadas com um garçom servindo – diz Maria Eduarda Santos, da Respira Eventos.
Múltiplas comemorações
A necessidade de realizar eventos com menos pessoas pode se desdobrar em comemorações separadas para cada grupo de amigos e familiares. Em vez uma festa para 150 pessoas, os casais podem optar, por exemplo, por fazer três eventos menores, em dias diferentes.
Máscaras, luvas, álcool em gel
Assim como em quase todos os locais públicos, as máscaras e o álcool gel devem vir para ficar nas festas de casamento. Especialistas projetam que a retomada deve exigir equipamentos individuais de segurança para as equipes e farta disponibilidade de álcool gel para funcionários e convidados. No Exterior, há quem trabalhe ainda com a perspectiva de estações limpeza, com torneiras, sabão e papel toalha para higienização das mãos.
Festas virtuais
Uma opção para quem não abre mão de casar durante a pandemia, ou mesmo depois que ela passar – quando muita gente ainda pode ter receio de participar de eventos com várias pessoas – , são as cerimônias virtuais. No ar há cerca de um mês, o site gaúcho Wedy é um dos que permite eventos em vídeo para até 150 pessoas. Além de possibilitar interação à distância, o modelo é uma opção mais econômica do que uma festa presencial, que acarreta diversos gastos.