Débora Laks*
Lúcio está dirigindo Uber temporariamente, pois não está conseguindo se recolocar como administrador. É um homem de 35 anos, pós-graduado em Recursos Humanos e sempre esteve bem colocado em empresas privadas. Tenta não ficar desesperançoso em relação à recolocação na sua área de atuação, mas enfrenta dificuldades para conseguir um novo emprego.
É apenas um representante da crise econômica que estamos enfrentando no país. Diariamente, nos impactamos com notícias como "Brasil aminha para década perdida na economia, a pior em 120 anos”. Como esta realidade estaria afetando o estado emocional das pessoas?
Com certeza, a crise financeira traz repercussões à saúde emocional dos brasileiros. Quem está empregado pode sentir-se mais tenso no dia a dia, por perceber as dificuldades do mercado, ou mesmo, ser pressionado por resultados. A pressão diária é muito angustiante. Em épocas de recessão, nem sempre os rendimentos provenientes das atividades são os desejados, apesar dos esforços.
Aquele que, como Lúcio (caso fictício), não está conseguindo emprego tem o temor constante de não ser capaz de prover financeiramente suas necessidades diárias. A impossibilidade de manter o padrão econômico afeta a autoestima, já que não estar posicionado socialmente da forma como está habituado gera mudanças em todos os hábitos de vida. Este contexto nutre insegurança e desânimo, que são inimigos da saúde emocional.
O fato é que estabilidade no trabalho promove o bem-estar psicológico dos trabalhadores. Nos períodos de instabilidade, os principais problemas psicológicos que acometem as pessoas são o aumento da ansiedade, sintomas depressivos, estresse, uso de álcool e, até mesmo, o suicídio.
Todos esses sintomas podem aparecer e é importante estar atento para a necessidade de buscar ajuda profissional. No entanto, as dificuldades emocionais não costumam ser resultado apenas da realidade adversa que estamos enfrentando, também conta a estrutura emocional do indivíduo. Por exemplo, quem tem personalidade mais depressiva tende a ter alterações no humor.
Caso você conviva com pessoas que estejam vivendo este tipo de dificuldade, se colocar à disposição, acolhendo e amparando, talvez seja uma experiência oposta ao cenário de negativas e portas fechadas. Rede de apoio é importante em qualquer etapa da vida, todavia, nas adversidades passa a ser fundamental! Auxiliar, sugerindo profissionais que possam ajudar, ou indicando oportunidades que sejam interessantes, é imprescindível.
É comum haver resistência em procurar ou manter ajuda psicoterápica. A dificuldade econômica acaba pesando contra a manutenção desse tipo de serviço, o que é compreensível. Mas ter um espaço de escuta e de transformação das angústias em possibilidades de mudança pode ser a chave para a superação.
Um aspecto a ser trabalhado é que, em horizontes desfavoráveis, as pessoas costumam esquecer suas trajetórias e virtudes. Acabam vivenciando somente as falhas do momento. Talvez uma das possibilidades seja justamente tentar relembrar a carreira, pensar nos louros colhidos na trajetória e estar atento às potencialidades pessoais. Não é favorável desmerecermos a nossa história em função das frustrações presentes.
Driblar a adversidade sem dúvida não é tarefa fácil, entretanto, pode ser um desafio para desenvolver a paciência e a resistência emocional. As crises passam e sempre haverá uma nova forma de vida por vir. Ter esta ideia em mente ajuda a não esmaecer: vai passar!
Apesar de ser um período sofrido, a crise pode ser transformada em uma oportunidade de fortalecimento. A dificuldade em conseguir nova colocação costuma levar ao aperfeiçoamento das nossas capacidades, o desenvolvimento de novas qualificações, ou mesmo, uma mudança de rota. Quem disse que o caminho escolhido até então é o mais favorável para você?
Quem sabe, inclusive, você encontre novas chances em função do desejo de solucionar sua situação? A força de vontade é motor da criatividade. As criações podem ser perspectivas totalmente inusitadas ao próprio individuo. Conceber novas direções pode surpreender, gerando mais satisfação e tranquilidade. Vamos lá?!
*Psicóloga (deboralaks@hotmail.com)