Os costumes tradicionalistas estão enraizados na vida da auxiliar de produção Laíne Araújo, 30 anos. Natural de Canoas, ela cresceu na vizinha Nova Santa Rita, onde, incentivada pelos pais, Carmen e Luiz, conheceu os Centros de Tradições Gaúchas (CTG). A mãe foi uma das fundadoras do CTG Querência Pampeana, do qual a família faz parte até hoje.
Atualmente vivendo em Estância Velha, a auxiliar de produção divide seu tempo entre o trabalho formal e a paixão pelos rodeios.
É experiente em provas de laço e rédea – funções que desempenha desde o 10 anos –, já conquistou diversos títulos estaduais e até nacionais. Entre eles, o de Campeã Nacional de Rédea e Laço, no Rodeio Nacional de Campeões, em 2017, no Mato Grosso.
Laíne ainda é heptacampeã de rédea pela Festa Campeira do Rio Grande do Sul (Fecars).
Protagonismo
Se não bastasse toda a bagagem cultural, no ano passado, ela se propôs a um desafio maior e fez história dentro do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG). Participou da seleção e, aprovada, tornou-se a primeira mulher credenciada pelo MTG como narradora de rodeio.
– Eu sempre gostei muito de crianças, ajudava a gurizada na vaca parada e brincava de narrar. Uma vez, tínhamos uma cancha de laço e promovemos um evento. Meu pai me disse que eu iria narrar. E foi assim que eu comecei – conta.
A seleção para novos de narradores, envolve três etapas: prova escrita, entrevista e prova prática. A prova escrita avalia o conhecimento do candidato sobre o regimento interno, regulamento campeiro e conhecimento tradicionalista.
A entrevista é realizada por membros do MTG. E a prova prática, avaliada pelos conselheiros, analisa dicção, oratória, desenvoltura, conhecimento campeiro, técnico, leitura, entre outros componentes. Para participar da seleção, o candidato deve ter realizado o Curso de Formação Tradicionalista (CFOR) anteriormente.
Laíne prestou a prova em 2018, recebeu a permissão provisória e, depois de um ano, a permanente. Apesar de ter feito e continuar fazendo história no Estado, ainda encontra resistência para deslanchar na função.
– Mesmo que conheçam minha capacidade, ainda preferem a voz masculina. Eu achei que o meu credenciamento ia mudar isso. Ainda assim, tenho muito apoio dos colegas – relata ela.
Laíne espera que o seu pioneirismo sirva de incentivo para que outras mulheres tomem gosto pela prática e aumentem a participação em posições de destaque dentro do tradicionalismo gaúcho.
– Me sinto satisfeita por ter sido a primeira mulher narradora e espero que isso influencie outras a terem coragem de seguir o mesmo caminho. Ainda precisamos melhorar a participação da mulher nesse meio, falta, por exemplo, uma presidente no MTG – opina.
Seleção para novos narradores
Atualmente, o Estado do Rio Grande do Sul tem 192 narradores credenciados pelo MTG. Até o dia 9 de agosto, o MTG estará recebendo as inscrições para os interessados em participar da nova seletiva, como o Piquetchê do DG mostrou em reportagem do dia 22 de julho.
O credenciamento e a prova para novos narradores ocorrerão no dia 24 de agosto, na Associação Tradicionalista Estância do Minuano, em Santa Maria, a partir das 8h.