Quem é gaúcho da Serra certamente já ouviu falar, mas você sabe o que é o camargo? A bebida sempre volta ao assunto quando os dias frios chegam. Ele é a combinação do café quente com o leite tirado direto da vaca. O resultado é uma bebida forte e saborosa, que pode não agradar a todos os gostos, mas que, segundo os adeptos da tradição, garante um calorzinho a mais nas manhãs congelantes do inverno.
Uma das principais características da bebida é ser preparada e consumida logo de manhã cedo, na primeira ordenha do dia. Faz bastante sentido: o trabalho no campo exige uma opção rápida e que forneça energia.
Por ter na sua composição o leite natural, o camargo pode trazer vários benefícios para a saúde, de acordo com Marina Stuani, nutricionista e pós-graduanda em Comportamento Alimentar. Por sair direto da vaca, não contém aditivos químicos:
— É uma fonte de diversas vitaminas, como as do complexo B, minerais, cálcio e proteínas. Já o café é rico em antioxidantes, estimula a concentração, atenção e memória. Sempre que a gente dispõe de alimentos naturais, sem conservantes e aditivos, nossa saúde agradece.
A especialista explica que essas vantagens podem ser justificadas pela pureza do ingrediente e, também, pelo fato de ele não ter sido fervido ou pasteurizado, o que mantém as propriedades em sua concentração real. No entanto, há um alerta: a ausência desses processos contribui para a proliferação de bactérias, de acordo com Marina.
— Crianças, idosos e pessoas com imunidade baixa são as mais suscetíveis a intoxicações alimentares. Então, é preciso cuidado — explica.
Emanoele Malinverno, consultora em segurança dos alimentos, destaca que quem pertence ao grupo citado acima, bem como gestantes, não deve consumir o leite cru, direto da vaca.
— O leite é um dos alimentos mais ricos em cálcio, fundamental para formação e conservação dos ossos e dentes, além da prevenir a osteoporose. Também regula o sistema nervoso e aumenta a resistência a infecções, mas, se estiver cru, pode carregar bactérias perigosas como Salmonella, E. coli e Listeria — complementa.
A pasteurização, processo comum nas indústrias, consiste em elevar o leite a altas temperaturas, para depois resfriá-lo e fechá-lo hermeticamente. Isso destrói os micro-organismos e evita novas contaminações.
— Quando se extrai o leite direto da vaca, sem pasteurizá-lo, pode haver um risco de contaminação por conta dos pelos do animal que estão em contato com o produto ou até da própria manipulação de quem está realizando a ordenha — lembra Clarisse Zanette, nutricionista e coordenadora do curso de Nutrição da FSG.
Para Marina, é válido lembrar que o camargo é parte da cultura regional e um momento para reunir as pessoas em torno de um alimento.
— O cuidado higiênico é importante, mas precisamos entender também que a comida não é somente vitaminas, proteínas, nutrientes... ela também reflete nossas histórias, culturas, sentimentos e lembranças — finaliza.