Susana Cordeiro Guerra esclarece as mudanças pelas quais passará o Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que será realizado em 2020 em comparação com a pesquisa feita em 2010.
O questionário básico deve ser reduzido em quantas perguntas?
Passou de 34 perguntas (em 2010) para 25. A razão deste ajuste é fruto de uma preocupação com a qualidade. A gente precisa garantir que o Censo cumpra a função principal, que é contar a população e medir o perfil. O cenário da operação de campo de 2020 é bem diferente do que era em 2010. As coisas estão mais velozes, as informações fluem com rapidez maior, as pessoas têm atenção mais curta. Então, tem que adaptar a operação para esta realidade. Há também questões de insegurança, há crescentes aglomerados urbanos. A abordagem ao cidadão vai ser bem mais complexa. Então, uma operação mais célere e mais simples vai garantir que a gente consiga chegar a todos os 70 milhões de domicílios no questionário básico.
E sobre o formulário aprofundado, também teve redução?
Também. O formulário aprofundado, que é o questionário da amostra, vai a 10% dos domicílios. Em 2010, tinha 102 perguntas. Em 2020, terá 76. A razão desta diminuição é a mesma, uma preocupação com a qualidade da operação, que a gente consiga fazer um censo de qualidade e sem perda de informação. E como é que a gente vai fazer isso? Porque, de fato, cortou perguntas. A gente também está dizendo e garantindo que não haverá perda de informação. Por quê? Porque, hoje em dia, tem outras formas para coletar o mesmo dado, seja através de registros administrativos ou das pesquisas amostrais já existentes no IBGE. O IBGE, como instituto estatístico, tem que acreditar em amostra. Não precisa, para certas perguntas, ir a todos os domicílios.
Há algum exemplo de pergunta que será retirada dos questionários?
Um exemplo são as perguntas sobre emigração internacional. Este bloco foi tirado totalmente do Censo, tanto do questionário básico quanto da amostra. Por quê? Porque a gente pode obter estes dados através de registros administrativos da Polícia Federal e de estimativas demográficas. Estas mudanças vêm em função de uma modernização do Estado. O mundo inteiro está caminhando para questionários mais simples e, ao mesmo tempo, otimizando o papel do censo.
Alguma nova pergunta será incluída?
Há novas perguntas étnico-raciais e quilombolas.
O enxugamento das perguntas está relacionado à contenção de gastos do IBGE?
Há duas coisas aqui: uma é a nossa restrição orçamentária, que a gente, de fato, tem. E a gente não tem este número exato ainda, porque a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) está em discussão.
Mas se fala em 30% ou não?
Se fala numa sinalização de um corte em torno de 25%. Em função deste ajuste orçamentário, a gente teve que adequar a operação a esta realidade. Mas esta adequação da operação em função da restrição orçamentária é fruto de uma sequência de ajustes, que têm a ver com a folha, com o equipamento, com o treinamento, com método de supervisão, com avaliação e de coleta. É fruto de uma sequência de ajustes. Este assunto de restrição orçamentária é diferente dos cortes no questionário. Porque os ajustes no questionário, de fato, visam à qualidade da operação. Ou seja, mesmo que não tivesse esta restrição, estaríamos fazendo estes ajustes no questionário porque eles dizem respeito a uma modernização da operação, a uma otimização da operação censitária e que o mundo inteiro está caminhando. Mesmo depois destes ajustes, tanto no básico como no da amostra, o Brasil continua tendo um questionário maior do que 80% dos países no mundo. Este é um fator significativo. Antes, a gente estava em mais de 90%, era um dos cinco maiores questionários do mundo. A gente continua como um dos maiores, mas, vamos dizer, 80% do mundo tem um questionário menor do que o nosso. E o Brasil, como um país de renda média alta, tem qualidade de dados bem superior.
Já há um número fechado de quantos profissionais serão contratados para o Censo 2020? Pode haver redução por conta do corte nas verbas?
Esta celeridade no questionário vai contribuir para um aumento de produtividade do recenseador. O total de temporários é em torno de 236 mil. Mas isso é um teto, até este número. E o total de recenseadores é até 190 mil.
As inscrições já começaram?
Não sei os detalhes exatos deste processo de licitação, mas elas estão em curso, as empresas foram selecionadas e eu acho que as inscrições serão em breve.
No Rio Grande do Sul, serão quantos contratados?
Dentro das próximas semanas, teremos estas informações.
Quando deve começar o Censo 2020?
Está previsto para o final de setembro o Censo experimental.
O que é o experimental?
(Será no) Município de Poços de Caldas, em Minas Gerais, o ensaio geral desta operação, antes de ela ir a campo, um ano depois, em 2020.
Deve ser lá em setembro de 2020?
Exatamente.
Como serão analisados os dados?
Isso tudo é um cronograma bem estipulado pela casa, que já é de praxe do IBGE e estas análises ocorrem logo depois que fecha a operação e aí começa tudo isso e os dados são divulgados em fases, alguns meses depois da operação ser concluída.
Até quando farão o recenseamento?
Dois a três meses de coleta. Pelo menos, três meses.
Qual a relevância do Censo para o país?
Ele é o alicerce, é o fundamento de toda a inteligência de política pública do Estado. Para ser bem concreta: ele alimenta o fundo de participação dos Estados e dos municípios. As fórmulas de programas sociais, como o Bolsa Família, também partem de cálculos do Censo. Um questionário mais simples não é a bala de prata, a gente está investindo em novas tecnologias também, quer coletar a informação via internet através de outras plataformas online que o cidadão possa ter mais agilidade e facilidade para responder. O que a gente quer é chegar a todo cidadão. O questionário básico está em torno de 4,2 minutos. Isso é muito bom! Vai garantir que a gente possa otimizar esta operação e, ao mesmo tempo, menos custoso e sem perda de informação. Se a gente consegue coletar esta informação através de outros meios, que acreditam em amostra, que acreditam nos registros administrativos do nosso país, na qualidade dos dados que já existem, consegue otimizar tanto o censo quanto estas outras formas alternativas de coletas de dados. O que o cidadão precisa e quer é que a gente use o recurso público da forma mais responsável possível. A gente está potencializando o trabalho de excelência do corpo técnico do IBGE, que dá saltos de excelência a cada par de anos.
Quais as principais perguntas que podem responder mudanças de comportamento e economia no Brasil?
Estas questões foram mantidas nos questionários, são essenciais. Por exemplo, as séries históricas, como as características do domicílio, como dados de fecundidade, deficiência, migração interna e internacional, educação, deslocamento para o estudo, trabalho e rendimento, deslocamento para o trabalho, as temáticas-chave do censo, não falei todas. Mas, entre elas, não houve cortes temáticos, a gente preservou todos os temas e todas as séries históricas. De fato, tem uma convergência de mais de 85% do questionário que havia sido proposto pela equipe. Então, estamos falando realmente de ajustes finos na margem. Este último ajuste foi para ganhar celeridade.
Quais são as vagas temporárias?
São várias categorias de funções como supervisores, pessoas que vão participar da avaliação, que vão participar em diferentes esferas, tanto no nível municipal, quanto na sede. São várias categorias e funções que contribuem para a operação do censo como um todo.
O recenseador será o único meio de o entrevistado responder ao questionário?
A ideia é que o recenseador seja um dos meios de coleta. A gente quer apostar na tecnologia. Estamos agora estudando isso, para aumentar. Já em 2010 havia uma coleta pela internet, mas foi menos de 1%. Então, queremos aumentar este percentual.
Por que fizemos esta matéria?
As mudanças no questionário do Censo têm sido questionadas por especialistas. Ele será aplicado no ano que vem, dez anos após o último. A reportagem visa esclarecer quais serão elas, entrevista representantes do IBGE, que realiza o estudo, e estudiosos que utilizam seus dados.
Como apuramos esta matéria?
O primeiro passo foi conversar com a presidente do instituto, a fim de esclarecer todas as mudanças que serão anunciadas.Na sequência, a repórter procurou especialistas na PUCRS, UFRGS e Unisinos para avaliarem as alterações. Entidades locais que usam os dados obtidos pelo Censo em seus estudos também foram consultadas. A indicação para ouvir a Associação Brasileira de Estudos Populacionais, que engloba professores e pesquisadores do país todo que atuam em diferentes frentes dos temas pesquisados pelo IBGE foi do professor Ricardo Dagnino, da UFRGS, ouvido para esta reportagem.