A vivência como pai do médico de resgate Mauricio Lemos, do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Maringá (PR), valeu mais do que a larga experiência profissional dele durante o transporte emergencial de helicóptero de uma criança que chorava sem a companhia da mãe no trajeto, entre as cidades de Cianorte e Sarandi, no norte do Paraná.
O paciente Peterson Gabriel, de um ano e quatro meses, estava internado com pneumonia, mas teve de ser transferido nesta segunda-feira (3) com urgência para uma unidade mais estruturada diante de uma complicação. Ocorre que, no helicóptero do Samu, há apenas lugares para o doente, médico, enfermeiro e piloto, sem espaço para acompanhantes.
— No momento em que a mãe dele saiu de perto, ele já começou a procurar, aí pensei: "Se ele começar a chorar, vai ter dificuldade" — contou o médico, que já tinha dado um balão de luva descartável para distrair o menino, sem sucesso. Então, lembrou da tática que utilizava para acalmar a filha, hoje com três anos: vídeos com os desenhos da personagem infantil Peppa Pig.
— Deu um minuto (assistindo ao vídeo) e a criança parou de chorar, então fomos medicando, controlando e pudemos decolar — lembrou o médico sobre os 15 minutos de viagem entre as duas cidades. — Depois ele resmungou um pouco e troquei para a Galinha Pintadinha.
Ele apontou que o controle sobre o choro da criança foi de fundamental importância para manter a estabilidade do menino. A pneumonia poderia levar o médico a ter de entubar o paciente na viagem.
— Um gasto energético muito grande pode ocorrer na hora do choro, levando a uma fadiga respiratória, o que obrigaria a intubação — explicou.
O médico se surpreendeu com a repercussão que o caso ganhou depois que um amigo divulgou as fotos do atendimento nas redes sociais.
— Só penso que o doente ganhou, e no que podemos padronizar e melhorar em outros casos — ressaltou.
Lemos contou que conversou com a mãe do menino e que ele passa bem, apesar de ainda estar internado na UTI do Hospital Metropolitano de Sarandi. Ela só ficou sabendo da tática usada para acalmar o filho pela mídia.
Atendimento humanizado
Lemos é conhecido na região por prestar um serviço humanizado de atendimento. No mês passado, ele foi condecorado com o título de cidadão benemérito de Maringá.
— Temos que não só pensar no atendimento médico, mas em dar conforto, carinho e afeto para a criança, ainda mais pensando que a mãe não está lá. Temos essa linha de trabalho: se colocar no lugar da pessoa (...). Faço para os pacientes o que queriam que fizessem por mim ou minha filha — disse. — Esse é um dos meus lemas desde que me formei: humanismo 100%.
Cerca de 50 cidades são atendidas pelo helicóptero de resgate de Maringá, num raio de 250 quilômetros em torno da cidade. Desde novembro de 2016, foram cerca de 1,3 mil ocorrências, a maioria resgate em rodovias, de vítimas de infarto e AVC, e remoção de crianças com quadros mais graves.
— Sinceramente, já fizemos vários tipos de atendimento como esse. Não me deslumbro, mas fico feliz que as pessoas reconheçam o trabalho — aponta Lemos.