Por Zelig Libermann
Médico-Psiquiatra e Psicanalista, presidente da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre (SPPA)
“Em minha juventude, senti uma necessidade absorvente de compreender algo dos enigmas do mundo em que vivemos e talvez mesmo de contribuir com alguma coisa para a solução dos mesmos.”
Freud, em “A Questão da Análise Leiga” (1927)
O século 19 testemunhou o desenvolvimento intelectual de personagens que marcaram a história do pensamento do Ocidente e que, de formas diversas, seguem presentes nos debates da contemporaneidade. Sigmund Freud, que nasceu em 6 de maio de 1856, foi um desses oitocentistas de destaque ao criar a Psicanálise, disciplina que adquiriu espaço na cultura ocidental e segue desempenhando um relevante papel em diferentes áreas do conhecimento humano.
Para marcar a data de nascimento de Freud, neste dia 6 a Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre (SPPA) e a Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre (SBPdePA) realizarão uma atividade conjunta que insere a capital gaúcha como a cidade brasileira convidada do Free Association (grupo que congrega psicanalistas da International Psychoanalytical Association, a IPA) a participar de uma homenagem internacional ao criador da Psicanálise – o evento Freud 24Hours.
Seguindo o fuso horário leste/oeste, 24 cidades de vários continentes darão a volta ao mundo nesse dia, com a leitura pública consecutiva de textos de Freud, em atividades gratuitas, abertas ao público, iniciando-se sempre às 19h de cada local. A ideia é chegar às comunidades, sensibilizar o público para a psicanálise e celebrar o trabalho de Freud. Os participantes estarão livres para ir e vir durante a leitura, e, depois, haverá tempo para compartilhar ideias entre os ouvintes.
Em Porto Alegre, o evento terá lugar até as 21h, no Espaço Unisinos, e contará com a leitura pública do artigo Por que a Guerra?, réplica de Freud à carta que recebeu de Albert Einstein em 1932, época em que, como se sabe, viviam-se as feridas da I Guerra Mundial e os precursores da ascensão do nazi-fascismo e da II Guerra Mundial.
Nascido em Freiberg (atual Príbor, na República Tcheca), aos três anos, Freud mudou-se com a família para Viena, onde viveu até ser forçado a se exilar na Inglaterra, em junho de 1938, devido à perseguição nazista. Aproximadamente um ano depois, em 23 de setembro de 1939, ele faleceu em sua residência em Londres. Em seus escritos, desenvolvidos em mais de 40 anos dedicados à Psicanálise, Freud evidencia a grande capacidade de reflexão e de questionamento de seu próprio pensamento, característica que o levaria a transformações em sua forma de compreender a mente humana, de estruturar as bases da técnica para o tratamento psicanalítico e de formular ideias sobre a cultura e a civilização.
Iniciando a vida profissional como neurologista, Freud voltou seu interesse para o campo dos distúrbios de origem psíquica, notadamente para síndromes até então menosprezadas como os quadros histéricos. Esse interesse constituiu o início de um trabalho que o levou a repensar a mente humana, tanto em seus aspectos estruturantes quanto patológicos, defendendo a ideia de uma porção inconsciente do psiquismo que impacta sobre o livre-arbítrio daquilo que conhecemos de forma consciente.
Com essa nova visão, e estimulando os pacientes a fazerem associações livremente, Freud deu voz e palavras aos pacientes neuróticos que sofriam por deslocar seus conflitos inconscientes para o corpo (conversões), para pensamentos obsessivos e condutas compulsivas, tornando a psicanálise um recurso terapêutico importante para tratar o sofrimento humano.
Depois de uma trajetória centenária, e ainda que a cultura atual seja bastante diferente da era vitoriana de transição entre os séculos 19 e 20, e que a teoria e a técnica psicanalíticas tenham experimentado inúmeras transformações e acréscimos, podemos constatar a relevância da psicanálise em dar voz e palavras também àqueles que sofrem por conflitos do tempo atual de um relativismo extremado em que se perdem os limites, as responsabilidades e as funções atribuídas a certos papéis sociais.
Homenagear a Freud é prestar tributo à inestimável produção científica que ele nos legou, a qual mantém sua vivacidade e evidencia seu caráter atemporal que a faz permanecer como elemento relevante da cultura de nosso tempo.
Freud 24Hours
Leitura do artigo Por que a Guerra?, réplica de Freud à carta que recebeu de Albert Einstein em 1932. Trata-se de um evento realizado em sequência junto a outros 24 semelhantes, que terão lugar em cidades como Guadalajara (México), Kolkata (Índia), Moscou (Rússia) e Teerã (Irã).
No Espaço Unisinos (Av. Nilo Peçanha, 1.600).
Dia 6 de maio, das 19h às 21h.
Evento gratuito e aberto à comunidade.