O movimento 30% Club, fundado no Reino Unido e já atuante em uma dezena de países, está chegando ao Brasil para enfrentar o problema da falta de mulheres em postos de comando, uma das facetas da desigualdade de gênero no mercado de trabalho, ao lado dos salários mais baixos e da maior dificuldade de obter um emprego.
A iniciativa está sendo trazida ao país pelas executivas Anna Guimarães, conselheira da Viver Incorporadora, e Olívia Ferreira, CEO da empresa de recrutamento Enlight. O lançamento oficial está previsto para o dia 21 deste mês, em São Paulo.
O 30% Club trabalha para que os conselhos de administração das grandes empresas tenham presença feminina – e que essa presença alcance pelo menos 30% das cadeiras. Segundo o movimento, esse é o percentual a partir do qual "contribuições de um grupo minoritário deixam de ser vistas como representativas apenas daquele grupo particular e passam a ser julgadas por seus próprios méritos".
No Reino Unido, onde foi criado em 2010, o movimento conquistou a adesão de empresas e da sociedade, colhendo resultados expressivos. Em apenas seis anos, ajudou a elevar de 12% para 27% a participação feminina nos conselhos de administração das 350 maiores companhias britânicas. Segundo reportagem publicada nesta sexta-feira pelo jornal The Telegraph, apenas três empresas desse universo seguem sem nenhuma mulher nos seus conselhos.
A realidade brasileira é bem menos animadora. Segundo levantamento divulgado pelo 30% Club Brasil, eram formados exclusivamente por homens 70% dos conselhos de administração do chamado Novo Mercado (composto por companhias com ações na Bovespa que adotaram práticas de governança corporativa que vão além daquelas exigidas pela legislação). Nessas empresas brasileiras, a participação feminina é de apenas 8%, contra uma média global de 12,5%.
Persistem preconceitos arraigados, como dizer que mulher não pode tomar decisão, não pode mandar num homem.
MARIA BEATRIZ RODRIGUES
pesquisadora da diversidade nas organizações
O princípio é que as próprias companhias assumam um compromisso formal e público de aumentar a participação feminina nos conselhos de administração. As responsáveis por trazer a campanha ao país, Anna Guimarães e Olívia Ferreira, contaram ao Brazil Journal que os líderes dos 10 maiores grupos nacionais foram convidados a integrar o conselho consultivo da 30% Club Brasil e que dirigentes de algumas empresas importantes, como a Arezzo e a Blackrock, já manifestaram simpatia pelo movimento, que aguarda agora as primeiras adesões formais. Foram traçadas duas grandes metas: zerar a quantidade de empresas sem mulheres nos conselhos de administração até 2020 e alcançar 30% de participação feminina nos assentos até 2025.
— Os conselhos precisam ser diversos em todos os sentidos: com pessoas que conheçam o setor, outras que entendam de finanças, inovação e governança. Mas também com pessoas de gêneros diferentes. É uma questão de competências diferentes e complementaridade — afirmou Anna Guimarães.
Maria Beatriz Rodrigues, pesquisadora da diversidade nas organizações e professora da Escola de Administração da UFRGS, observa que a desigualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho tem um fundo cultural profundo, resquício de um passado no qual o papel da mulher estava restrito às atividades domésticas. Essa seria a origem da discriminação no mundo corporativo. A especialista observa que há uma mudança em andamento, mas que ela ocorre em ritmo lento. Para Maria Beatriz, a chegada das mulheres a posições de comando pode ajudar na transformação.
— Se elas não chegarem nessas posições, nunca vão conseguir provar que são capazes. A situação vai ficar se reproduzindo. Se eu acho que a mulher tem um determinado papel na sociedade, fica difícil enxergá-la como dirigente, como gestora. Persistem preconceitos arraigados, como dizer que mulher não pode tomar decisão, não pode mandar num homem.