No bairro Morada do Vale I, em Gravataí, o clima é de mistério e curiosidade. Isso porque o sortudo ou a sortuda que ganhou a bolada de quase R$ 80 milhões no sorteio da Mega Sena, no último dia 6 de maço, ainda não apareceu para resgatar o prêmio e virar o mais novo milionário do Brasil.
Na cidade, a especulação corre solta. Há quem diga que o bilhete premiado foi parar na máquina de lavar e acabou triturado, outros acreditam que a pessoa, simplesmente, não sabe que está rica. O cearense Paulo César França, 45 anos, que mora no Estado há 27 anos, diz que o ganhador deve estar recuperando-se da surpresa.
— Ele deve estar dando um tempo, restabelecendo-se da notícia. Eu, como sou cardíaco, não conseguiria receber o prêmio. Teria um infarto — afirma, categórico, o profissional autônomo, ressaltando que a bolada serviria, primeiramente, para pagar as contas e, só então, ele pensaria em viajar pelo mundo.
Ele deve estar dando um tempo, restabelecendo-se da notícia. Eu, como sou cardíaco, não conseguiria receber o prêmio. Teria um infarto.
PAULO CÉSAR FRANÇA
45 anos, autônomo
Há 35 anos, a aposentada Helena Bauermann, 65, joga na loteria. O máximo que ganhou até hoje foram as bonificações menores, aquelas que praticamente mal pagam a aposta, segundo ela. Mesmo sem os milhões de reais em mãos, ela não deixa de fazer planos.
— Ajudaria tanta gente. Começaria pelas crianças, porque o que mais precisamos, pelo menos aqui em Gravataí, é de creches para as mães poderem sair para procurar emprego e trabalhar tranquilas. Doaria um pouco para os hospitais e dividiria o dinheiro com meus três filhos — projeta Helena, que enumera sonhos. — Viajaria muito, conheceria os lugares que não tive oportunidade, mas não sairia do Maradas do Vale. Teria uma casa maior, mas permaneceria aqui, porque gosto deste lugar, foi aqui que criei minha família.
Pode ser que a pessoa tenha jogado, e o bilhete tenha caído no esquecimento.
HELENA BAUERMANN
65 anos, aposentada
Em tom de confidência, a aposentada cochicha que não entende o motivo pelo qual o vencedor ainda não foi resgatar o prêmio, mas aponta uma possibilidade:
— Às vezes, eu mesma, que jogo praticamente todos os dias há quase quatro décadas, não confiro o resultado no dia seguinte. Pode ser que a pessoa tenha jogado e o bilhete tenha caído no esquecimento.
Esse é um dos palpites de Renata Ribeiro, gerente da lotérica Caminho Sorte, local onde a aposta foi feita. Ela explica que, geralmente, quando o bilhete é de valor mínimo, R$ 3,50, as pessoas acabam nem conferindo os números.
Muita gente compra o volante como troco, já que o valor é baixo. Alguns guardam na carteira e nunca mais olham para o papel.
RENATA RIBEIRO
Gerente da lotérica Caminho Sorte
— Muita gente compra o volante como troco, já que o valor é baixo. Alguns guardam na carteira e nunca mais olham para o papel, não têm o costume de conferir os números. Nós ainda estamos no aguardo para saber se a pessoa resgatou os quase R$ 80 milhões — conta Renata. — Essa semana, um cliente apareceu aqui e falou que havia feito um jogo na semana passada, mas que não encontrava o bilhete. Pode ser que seja essa pessoa — acrescenta.
Sorte volta a bater à porta de lotérica
Renata diz ainda que o movimento no estabelecimento aumentou muito nos últimos dias, graças à repercussão de que esta é a segunda vez que a casa entrega um prêmio milionário.
— Em 2008, um apostador ganhou R$ 20,5 milhões. As pessoas estão confiantes de que aqui é realmente o caminho da sorte para ficar milionário, porque é a segunda vez que o raio caiu no mesmo lugar — diverte-se.
Enquanto faz uma fezinha para ele e outra para um amigo, o auxiliar de vendas Marcelo Lamego, 46 anos, conta que ouviu falar de uma mulher que havia perdido o bilhete e seria a dona da bolada. Entretanto, ele acredita que a pessoa está apenas esperando a poeira da curiosidade alheia baixar:
Ela deve estar esperando o momento certo para fazer isso, para pegar esse dinheirão todo que pode mudar tantas vidas.
MARCELO LAMEGO
46 anos, auxiliar de vendas
— Ela deve estar esperando o momento certo para fazer isso, para pegar esse dinheirão todo que pode mudar tantas vidas. Olha, eu confesso que não saberia nem o que fazer, mas, em primeiro lugar, ajudaria a família e viajaria, não para muito longe. Santa Catarina já tem praias muito lindas.
Quando se encaminhava ao caixa, para efetivar a aposta, Marcelo parou, olhou para a reportagem disse:
— Espero que tu me dê sorte.
Vale lembrar que o apostador ainda está dentro do prazo de 90 dias para retirar a bolada, mas isso só pode ser feito se o bilhete premiado e um documento com foto estiverem em mãos. Após esse período, todo o dinheiro é enviado para o Fundo de Financiamento Estudantil (FIES), programa que possibilita financiamentos em instituições de ensino particulares para estudantes de baixa renda. Os números sorteados foram 02, 03, 06, 18, 20 e 28.