O carnavalesco Leandro Vieira, responsável pelo desfile campeão da Mangueira no Grupo Especial do Rio de Janeiro, concedeu entrevista na manhã desta quinta-feira (7) ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha. Foi o segundo título de Leandro com a escola: o outro foi em 2016, com homenagem a Maria Bethânia.
Com o enredo intitulado "Histórias para ninar gente grande", a Mangueira comoveu o público presente na Sapucaí ao contar uma "nova" história do Brasil, reverenciando heróis populares em detrimento das personalidades que constam dos registros históricos.
Na entrevista desta manhã, Leandro comentou sobre a repercussão política do desfile da Mangueira:
— O desfile da escola de samba e Carnaval não pode ser apenas uma festa, mas também pode e deve levar a uma reflexão e despertar ao pensamento crítico, o que é fundamental para o entendimento de um país enquanto nação. O que o enredo da Mangueira propôs foi exatamente isso, o que foi fator de sucesso do nosso Carnaval.
O carnavalesco também destacou a identificação da comunidade da escola com o enredo apresentado.
— A comunidade da Mangueira, que é eminentemente negra e majoritariamente pobre, tomou conhecimento disso (enredo) e cantou com propriedade, e o que ela fez foi encarnar e personificar esse discurso — avaliou.
Para Leandro, a questão política do desfile foi fundamental para a vitória da escola.
— O país vive uma onda muito polarizada que deixou de ter o entendimento do que é político e do que é partidário. A Mangueira não tomou partido de absolutamente nada, mas entendeu que a organização de um discurso é importante. A partir do entendimento que desfile de escola de samba é arte, é ser político. A arte é política e quer levar à reflexão, e é o que a Mangueira faz. A escola faz cultura popular, o que é arte maiúscula.
O carnavalesco ainda garantiu não sentir receio de trabalhar com temas políticos.
— Quem tem medo não faz nada. Se eu tivesse tido medo, não seria campeão do Carnaval.
Na quarta-feira (6), o filho do presidente Jair Bolsonaro e vereador pelo Rio, Carlos Bolsonaro, publicou no Twitter que o presidente da Mangueira teria envolvimento com tráfico, bicheiros e milícias. Segundo Leandro, ele recebeu as críticas de forma natural e serena.
— É óbvio que o filho do presidente não ia enxergar com bons olhos a consagração da cultura popular. Ou não ia ver com bons olhos a população negra que se organiza para fazer algo útil. O enredo questiona muito essa visão de protagonismo. Acho muito engraçado porque sem poder desqualificar o enredo da Mangueira, o que ele não fez, é impossível ele desqualificar o feito da escola, ele escolheu uma pessoa para representar o todo. Aliás, isso é um pensamento muito característico preconceituoso. Talvez seja por isso que as pessoas ainda olhem para a favela como lugar de bandido tomando um pelo todo. O que pensam esses parlamentares, para mim, é um motivo de lástima, pois gostaria de estar muito melhor representado — disse Leandro.
Ouça a entrevista com Leandro Vieira no Timeline: