Terraplanistas de todo o globo (ou "disco", segundo os próprios) terão a chance de embarcar em um navio rumo ao que seria a borda da Terra. O cruzeiro deve acontecer em 2020 e será organizado pela Conferência Internacional da Terra Plana (FEIC, na sigla em inglês).
Mas ao menos um grande problema os aguarda: todos os sistemas de navegação de navios de cruzeiro se baseiam no fato de que a Terra é redonda. O GPS (global positioning system) só funciona por causa do formato aproximadamente esférico do nosso planeta.
O jornal The Guardian entrevistou um ex-capitão de navio de cruzeiros, Henk Keijer, que viajou por todo o globo por 23 anos. Segundo ele, somente a existência do GPS seria prova suficiente de que a terra é redonda – 24 satélites que orbitam a Terra são usados para fornecer informações que permitem a navegação. No mínimo três são necessários para fornecer uma posição correta:
— Se a Terra fosse plana, um total de três satélites já seria suficiente para prover esse tipo de informação para todos. Mas não é, por que a Terra é redonda.
Segundo uma das principais correntes do terraplanismo, a Terra seria um grande disco e a borda dele seria a Antártica.
Na verdade, essa representação em origem na projeção azimutal partindo do polo norte –trata-se de uma entre tantas formas de representar a superfície do globo terrestre em uma folha de papel.
A Sociedade da Terra Plana afirma que as diversas agências espaciais do mundo estariam mentindo sobre o formato do planeta para falsificar as viagens espaciais.
"Isso provavelmente começou na corrida espacial durante a Guerra Fria, na qual a União Soviética e os EUA estavam obcecados em vencer o outro. Depois do fim da Guerra Fria, no entanto, a conspiração é provavelmente motivada mais pela ganância do que ganhos políticos, com uma parte do dinheiro sendo usada para viagens espaciais falsas e roubando um monte de dinheiro", diz a Sociedade da Terra Plana (Flat Earth Society, no original).
Na verdade, sabe-se que a terra é redonda ao menos desde 250 a.C., quando Eratóstenes calculou o raio a partir das informações como distância entre duas cidades e o ângulo em que o sol batia nelas em determinado instante. A medida foi bastante próxima da real – 6.371 quilômetros em média (já que a Terra não é uma esfera perfeita).
Quanto ao cruzeiro, caso a organização queira recrutar uma tripulação favorável aos pontos de vista terraplanísticos, pode ter algum trabalho.
— Eu viajei 2 milhões de milhas e não encontrei nenhum capitão que acreditasse que a Terra é plana — disse Keijer.
Cinco argumentos contra a ideia de que a Terra é plana
ECLIPSES DA LUA
O único jeito de explicar os eclipses lunares é o alinhamento entre Sol, Terra e Lua, de tal maneira que a sombra da Terra é projetada sobre o satélite natural. Essa sombra, veja você, é redonda – o que só é possível se a Terra for uma esfera, não uma tábua de frios.
CIRCUNAVEGAÇÃO
Desde o começo do século 16 os navegadores – e, desde o século passado, os aviadores – sabem que dá para sair de um ponto do planeta e avançar em linha reta toda vida até retornar ao mesmo lugar de onde vieram. Isso só é possível num planeta redondo.
FUSOS HORÁRIOS
O único jeito de explicar as diferenças de horário entre lugares distantes na Terra é por meio da rotação e do formato esférico do planeta. Se o Sol iluminasse alguns lugares primeiro e outros depois, feito um holofote, seria possível vê-lo num canto do céu mesmo à noite.
OUTROS PLANETAS
Não é só foto da Nasa: desde o século 17 até a mais humilde luneta mostra que outros planetas e satélites costumam ser esféricos. Por que só a Terra seria a exceção?
ESTRELAS NO CÉU
Se estivéssemos todos em cima de um tampo de mesa de proporções planetárias, todos veríamos as mesmas constelações no céu. Como a Terra é um globo, quem mora em Nova York não consegue ver nosso Cruzeiro do Sul, enquanto os moradores de São Paulo não conseguem ver a estrela Polar, da constelação da Ursa Menor.