Com apenas um dia de vida, os filhotes começam seu treinamento e, um ano depois, passarão a fazer parte da polícia chilena, atuando em tarefas como a luta contra o crime, a detecção de drogas e explosivos, a proteção de fronteiras e o resgate em catástrofes.
Filhotes de outros cães policiais, cerca de 20 cachorrinhos, formam a "Turma 2018" da Escola de Treinamento Canino dos Carabineros do Chile.
Uma melodia de Mozart toca para os bebês na maternidade da escola, onde os filhotes descansam sob a supervisão de suas mães até que chega o primeiro cabo Eduardo Parra. Depois da recepção efusiva dada ao instrutor, os filhotes da raça Golden Retriever, que agora têm quase dois meses de idade, iniciam seu treinamento diário: correm atrás do policial e passam pelos obstáculos em um circuito especialmente preparado para eles.
— Nós estimulamos os filhotes desde a infância — explica Parra, que é o responsável pelo cuidado, pela alimentação e pelo treinamento dos filhotes.
Os filhotes foram a grande atração da solene parada militar de 19 de setembro, quando desfilaram nos braços das oficiais como se fossem um dos 9 mil soldados. Dentro de vistosas mochilas amarelas — já que, sendo muito pequenos e ainda não vacinados, não podiam pisar no chão —, eles resistiram aos barulhos, aos aplausos e à música da banda marcial sem demonstrar o menor incômodo e fizeram a alegria do público militar e civil.
A música desempenha um papel fundamental no treinamento desses futuros cães policiais.
— Estimulamos seus biosensores com música, fazemos carinho no peito deles, porque eles são tão pequenos que não entendem o que está acontecendo, mas isso no futuro vai ser muito bom — explica seu treinador.
A estimulação musical busca a dessensibilização auditiva dos filhotes para que, quando saírem às ruas, percam o medo do barulho nos diferentes locais a que estão destinados a atuar, como estações de metrô, aeroportos ou postos de fronteira, acrescenta Parra. A técnica inclui, além da música clássica, melodias celtas e marchas militares.
Dois meses depois, eles são designados para um policial — ou um estudante da academia — que será seu guia e responsável por seus cuidados pelo resto de suas vidas. Dessa forma, os dois consolidam uma estreita relação que tem um papel fundamental no treinamento do cachorro. Ao sair da escola, a dupla prestará serviços juntos por cerca de 10 anos. Cumprido esse prazo, o animal se aposenta e viverá na casa de seu companheiro até a morte.
— Quanto mais amor e mais brincadeira, quanto mais divertido o treinamento, maior será o vínculo — diz a subtenente Ingrid Cerón, uma estudante da escola que tem como parceiro Chopper, um pastor alemão de seis anos de idade.
É o desenvolvimento de seu olfato que é a principal qualidade que torna indispensável para a polícia chilena ter cães entre suas fileiras.
— Os cães têm características olfativas superiores aos humanos, que permitem discriminar e classificar os odores, o que os torna fundamentais para tarefas como detecção de drogas e busca de pessoas – explicou o capitão Matías Soto, comandante da escola. — Não há fórmula para enganar um cachorro — acrescentou o agente.
Dentro de suas tarefas diárias, está a defesa do palácio presidencial de La Moneda. Um de seus trabalhos dentro da sede do governo chileno é o de verificar diariamente a correspondência do presidente.
No total, cerca de 200 cães — de raças como Pastor Alemão, Pastor Belga, Labrador, Golden Retriever e Pastor Suíço — são treinados na Escola de Treinamento que abrange cerca de 60 hectares localizados no Morro San Cristobal, um pulmão verde aninhado no centro de Santiago.
Como verdadeiro policial, no cumprimento de suas tarefas, cerca de 20 oficiais caninos perderam a vida ao longo dos 60 anos de existência da Escola de Treinamento Canino dos Carabineros do Chile.