Quando um filme muito ruim termina e sobem na tela aquelas centenas de nomes nos créditos, sempre me ocorre: "Tchê, nenhuma dessas pessoas levantou a mão na reunião?!".
O ciclo de vida de uma má ideia é algo intrigante. Daria um bom Globo Repórter com narração do Sérgio Chapelin: como nascem, como se criam, do que se alimentam?
Quando começamos a trabalhar, fica mais fácil de entender. É difícil, no mundo corporativo, ser quem ergue o indicador para dizer que, na sua humilde opinião, o colega teve uma ideia de jerico. É sempre mais fácil suspirar, ficar quieto, reprimir aquela indelicadeza com o esforço do outro. Pensar que o desgaste por aquela bobagem em gestação estará em outro contracheque, não no seu. E outra: ninguém gosta de feedback negativo. Um bom chefe reage com profissionalismo. O mau chefe não te convida para a próxima reunião.
Fico pensando, por exemplo, naquele papel higiênico preto lançado outro dia. Imaginem esse brainstorm:
— Quem sabe lançamos o nosso produto premium em preto?! Por que não?
Alguns abafam a risada. Colegas trocam mensagens de WhatsApp com emojis de cocô e gargalhadas, mas ninguém levanta a mão. Ninguém. A ideia resiste à primeira reunião. E à segunda. Quando vemos, a Marina Ruy Barbosa está envolta em papel higiênico sob o slogan "Black is beautiful!". Porque, se havia um negro nessa reunião para alertar sobre a carga histórica daquelas palavras, ele também não levantou a mão.
Quando já não é mais uma má ideia, mas um filme, uma propaganda, uma reportagem...Ela é ridicularizada no instante em que vem a público.
— Como ninguém pensou nisso? — diz a narração do Chapelin em tom de surpresa, enquanto as hienas gargalham, estraçalhando a ideia infeliz em selvas como o Facebook.
Se algumas más ideias se criam por omissão, outras pecam pelo inverso. Quando somos devidamente encorajados, qualquer iniciativa parece genial. Qualquer mesmo. Observe uma videocassetada: sempre há pessoas em volta incentivando o sujeito a pular na piscina de bicicleta ou a acender o cigarro na churrasqueira.
Por isso, o que mais me embasbacou naquele vídeo da (quem sabe) futura ministra do Trabalho, Cristiane Brasil, não foram os dorsos nus e depilados dos empresários ao seu redor, o pancadão tecno de trilha sonora, ou o lamentável ponto de vista deles sobre processos trabalhistas. O nível de escárnio em Brasília há tempos já não me assusta. O que me intrigou foi o momento em que a ideia de gravar aquele vídeo foi lançada e pareceu uma boa.
Conversei com o diretor de criação da agência Morya, Gregório Leal, sobre o assunto. Ele identificou um ponto em comum entre as más ideias. As pessoas submergem a tal ponto nelas, que não lhes passa pela cabeça o olhar do outro. Mesmo que seja algo muito gritante, como um negro poder se sentir ofendido com um slogan de papel higiênico ou um trabalhador insultado em ver a futura ministra do Trabalho em trajes de banho reclamando da vida em um iate. Comenta o Gregório:
— Mesmo que não seja de propósito, são casos extremos de falta de empatia. É quando as pessoas em torno daquela ideia só olham para os próprios umbigos.
Bem, no caso da futura ministra e seus amigos, até literalmente.