O montanhista Edson Sorrentino, 58 anos, dá início na sexta-feira (12), no Rio Grande do Sul, a uma jornada de números impressionantes: 25 quilômetros de caminhada por dia, ao longo de 500 dias, totalizando 10 mil quilômetros percorridos em 17 Estados brasileiros.
Viajante inveterado, o paulista se propôs a realizar, a partir deste ano, uma vontade que vinha alimentando havia décadas: percorrer o litoral brasileiro de ponta a ponta, passando por praias do Chuí ao Oiapoque, na tentativa de estabelecer a maior trilha litorânea já feita do Brasil.
— Essa ideia é antiga. Vem desde que comecei a escalar, 30 anos atrás. Fiz diversas (trilhas) picadas, mas tinha a ideia de interligar todas elas. E a vontade veio com força para este ano. Então, comecei a planejar, e agora estou aqui — conta Sorrentino, por meio do Facebook, direto do Chuy uruguaio, onde o sinal do celular que leva não estava funcionando.
O aventureiro pensou, inicialmente, em percorrer todo o caminho em um ano. Abandonou a ideia porque pretende visitar mais do que apenas praias: faróis, fortes, museus entram na longa jornada, em que o objetivo é também conhecer mais sobre cada cantinho litorâneo do país, seu patrimônio histórico, cultural e natural. Sorrentino dividiu a caminhada em 280 pontos espalhados ao longo de toda a costa brasileira pelos quais vai passar na realização daquilo que, para ele, "é um sonho".
E esse sonho não vai ter início apenas como uma realização pessoal. Reconhecendo a oportunidade de viabilizar uma trilha de longo curso por toda a costa brasileira, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) vai apoiar a empreitada. No percurso, Sorrentino vai passar por trilhas, rotas e travessias já existentes — como a Rota dos Faróis e o Caminho das Araucárias, no Rio Grande do Sul —, mas com a intenção também de descobrir se é viável criar uma grande rota litorânea, capaz de ligar unidades de conservação e trechos fora das travessias urbanas ao longo dos Estados.
Experiente em aventuras, Sorrentino pratica excursionismo, montanhismo e escalada em rocha e gelo desde a década de 1980. Ele já escalou o Pico da Neblina (2.995m), no Amazonas — sua primeira grande empreitada —; o Aconcágua (6.962m), na Argentina; o Mont Blanc (4.808m), na França; e o Monte Kilimanjaro (5.895m), na Tanzânia, entre muitos outros.
Ao projeto dos próximos 500 dias — ou mais, no caso de imprevistos —, Sorrentino deu o nome de "Expedição Litorânea". O andarilho vai publicar fotos e vídeos no Facebook e no YouTube ao longo de todo o trajeto. E vai inclusive convidar quem o acompanha virtualmente a marcar presença pessoalmente: em alguns pontos, planeja promover caminhadas coletivas, convidando pessoas para que o acompanhem nas trilhas.
Desafio psicológico: Praia do Cassino
Carregando nas costas uma mochila que pesa aproximadamente 20 quilos — na qual estão equipamentos, roupas e alimentos variados —, Sorrentino explica que pretende dormir e buscar abrigo ao longo do próprio caminho, não se hospedando em hotéis ou mesmo em casas de amigos.
— Vou dormir na praia mesmo, ou ficar em alguma casa abandonada que encontrar por aí antes de seguir viagem. Campings também são uma opção.
Logo nos primeiros dias, o aventureiro estima que enfrentará um de seus maiores desafios: caminhar ao longo de toda a Praia do Cassino, em Rio Grande, que tem mais de 200 quilômetros de extensão.
— A parte psicológica no Cassino é terrível. Por diversos motivos: é isolado, não tem como ser socorrido brevemente lá, é preciso levar muita comida e água, dentre outros fatores. Mas consegui apoio da Federação Gaúcha de Montanhismo, que vai me ajudar em alguns trechos — explica Sorrentino.
Também as prefeituras e universidades de algumas cidades ofereceram apoio ao caminhante. E essa solidariedade é um dos aspectos que mais motiva ele, em especial nos primeiros dias de trajeto.
— Felizmente, acontece muito (de oferecerem ajuda). E encontrei no gaúcho um povo solidário: todos foram muito educados comigo, me ajudando no que eu precisava. Fiquei impressionado com a solidariedade do Estado — destaca Sorrentino.
Nessa longa e solitária caminhada, apoiar, muitas vezes, significa apenas prover companhia, ou ajudar com orientações locais, emprestar um telefone. Sorrentino, que quando não está se aventurando pelo mundo mora com a esposa, Zilda, em Jardinópolis (SP), arcou com o custo dos equipamentos e da alimentação. Minimalista, ele carrega apenas uma barraca de aproximadamente 2 quilos e um pequeno fogareiro a gás para acompanhá-lo nas noites de sono e nas refeições. Mas espera contar com o apoio do país inteiro, seja peles redes sociais ou pelos municípios por onde passar, nessa jornada em que vai desbravar o nosso litoral.
Como acompanhar
É possível acompanhar os passos do aventureiro no Facebook, através da página Expedição Litorânea, e também no YouTube, pelo canal de mesmo nome.