Casa cheia, mesas decoradas com flores, velas e porta-retratos, palco montado para receber a banda e público à espera das grandes protagonistas da festa. Enquanto isso, nos bastidores, Cesarina Ribeiro Paim é uma das 48 debutantes que aguardam pelo tão esperado momento de pisar no salão e dançar a valsa. Vestida como uma princesa, com um longo de cetim nas cores azul e branco, bordado com pérola, e uma coroa nos cabelos, ela está pronta para viver o seu grande sonho e é rápida na resposta ao ser questionada sobre a sua idade:
— Hoje, tenho 15 anos! — diz, radiante, a aposentada do bairro Tristeza, em Porto Alegre, que, na verdade, tem 74 anos.
Assim como ela, outras 47 idosas participaram do baile de debutantes da terceira idade realizado nesta sexta-feira (27), no Clube dos Namorados, na Capital, pela Associação Nacional dos Aposentados e Pensionistas da Previdência Social (ANAPPS), que ofereceu às senhoras associadas uma grande festa, com tudo que qualquer menina de 15 anos sonha: traje de gala, cabelo, maquiagem, fotos, além de um mês inteiro com uma intensa programação de eventos, como aulas de etiqueta e passeio de barco. Tudo sem nenhum custo para as debutantes.
— Toda menina sonha com uma festa assim, mas eu não pude ter porque minha família não tinha condições financeiras. É uma emoção enorme viver tudo isso a essa altura da minha vida — disse Cesarina, muito aplaudida pela mãe, dona Antoninha, 86 anos, e por um tio, de 97 anos, que foram às lágrimas quando ela pisou na pista.
A mesma emoção acometeu Terezinha Salete Rodrigues da Silva, 68 anos, do Jardim Leopoldina. Vaidosa e frequentadora assídua de bailes, enquanto se arrumava, pedia para a maquiadora caprichar nos cílios e no delineador nos olhos:
— Tem que caprichar! Não tenho nem uma foto dos meus 15 anos para saber como eu era naquela época, quem dirá ter tido uma festa assim.
Mãe de sete filhos — cinco deles entre os convidados — e avó de nada menos do que 22 netos, Elaine Ornelas da Silva, 66 anos, do Partenon, era das mais animadas da tarde.
— Não pude dar festa de 15 anos para nenhuma das meninas, assim como eu não tive na juventude. Eles estão realizando esse sonho junto comigo, a festa é deles também — disse ela, que ainda gabava-se do seu talento na dança:
— Sei dançar tudo, até funk! A valsa vai ser fácil.
Toque de miss
A apresentação do baile ficou a cargo da ex-Miss Brasil Deise Nunes, que dá aulas de passarela para as senhorinhas da ANNAPS, uma dose extra de glamour para a festa:
— Jamais imaginei tanta vitalidade e energia quanto essas senhoras têm. Eu aprendo muito com elas e cada sorriso que recebo em troca é inestimável. É um privilégio conviver com essa turma e fazer parte do sonho delas.
Quem também tornou o sonho das idosas mais completo foram os integrantes da Guarda Municipal de Porto Alegre, que dançaram a valsa com as "meninas". Além disso, alguns deles acompanharam as debutantes que não tinham par na entrada no salão.
— É o segundo ano que participo, e sempre nos toca muito ver a emoção dessas senhoras. De certa forma, também estamos cumprindo nossa missão, que é cuidar e proteger, especialmente, esse público — afirmou Juliano Padilha, 39 anos, há sete na Guarda.
A trilha sonora para a entrada de cada debutante, escolhida por elas, foi um show à parte: no repertório, Beatles, Jovem Guarda, Roberto Carlos, Frank Sinatra, Elton John e tantos outros ícones atemporais.
Qualidade de vida e autoestima elevada
Segundo Sandra Ramalho, idealizadora do baile de debutantes e diretora social da ANAPPS, o evento está na terceira edição e leva cerca de dois meses para ser produzido.
— Não temos nenhuma verba de fora, é tudo por nossa conta. Viemos arrumar o salão ontem de madrugada, depois que o último baile acabou. Dá trabalho, cansa, mas a felicidade delas não tem preço que pague, recompensa tudo — argumenta Sandra.
Para a presidente da ANNAPS, Maria Eunice Ribas, a atenção dedicada às idosas se reflete em qualidade de vida:
— Ninguém se preocupa com os sonhos dessas pessoas, por isso, queremos realizar os sonhos delas. Isso eleva a autoestima e humaniza as histórias de vida de cada uma. Queremos que elas vivam cada vez mais e melhor.