Após cinco anos atracado em um prédio que serviu de estaleiro no Sapiens Parque, no Norte da Ilha de Santa Catarina, o veleiro de Expedições Científicas e Oceanográficas (ECO) está prestes a ser batizado no mar catarinense. O projeto multidisciplinar, que vem sendo construído pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e arrecadou cerca de R$ 3 milhões a partir de agências estaduais e nacionais de fomento à ciência, é pioneiro no suporte à navegação oceânica e na estruturação de laboratórios embarcados. O transporte por terra até a cabeceira continental da ponte Hercílio Luz entre esta terça e quarta-feira antecede a inauguração oficial da estrutura, que acontecerá no início de outubro na Marina de Itajaí.
Com 5,2 metros de altura, 20 metros de comprimento e 5,40 metros de largura, o veleiro pode acomodar até dez pessoas, sendo oito pesquisadores e dois tripulantes. A embarcação de 60 pés foi construída com alumínio naval por cerca de oito pessoas, entre elas integrantes de laboratórios de Engenharia Mecânica e de Materiais da UFSC. Graças a características de segurança e navegabilidade, permitirá expedições científicas de grande porte, incluindo as polares. Outro diferencial consiste em uma quilha retrátil, que o engenheiro mecânico responsável pelo veleiro, o italiano Andrea Piga Carboni, explica a funcionalidade.
– Esse barco também pode navegar em águas rasas com até 1,4 metros de profundidade. Isso significa estuários [ambientes de transição entre rios e mares]. São Francisco do Sul, por exemplo, tem uma área bem importante a ser estudada, porque sofre bastante com impacto das várias atividades que ocorrem no lugar e é pouca explorada nas universidades – complementa.
Totalmente pensado para atender às necessidades de pesquisa em alto-mar, inclusive com uma plataforma de pesquisa para acomodação de equipamentos oceanográficos e um laboratório de análise da água instalado próximo à popa, o veleiro ECO já tem a primeira saída científica programada para novembro. A ideia, conforme a pesquisadora em Oceanografia da UFSC, Andréa Green Koettker, é analisar as comunidades de plâncton – organismos microscópicos responsáveis pela metade do oxigênio do planeta por meio da fotossíntese, que atuam como sumidouros de carbono, influenciam no clima e formam a base da cadeia alimentar de peixes e mamíferos marinhos – das ilhas oceânicas brasileiras. Após o trabalho no arquipélago de São Pedro e São Paulo, Martim Vaz e Trindade, outras instituições de ensino do país e do mundo estão convidadas a utilizar a estrutura para pesquisas costeiras e oceânicas, principalmente das áreas de Oceanografia, Biologia, Ecologia e Engenharia, com a contrapartida em investimento contínuo na embarcação.
– Até o veleiro ECO, nós geralmente alugávamos ou então utilizávamos barcos de outras instituições, como a Marinha do Brasil, mas que nem sempre atendiam às necessidades de pesquisa. Nós precisamos fazer análises [da água, por exemplo] prévias dentro e preparar amostras para uma sucessiva análise em terra. Agora será diferente para nós e outras universidades. Nossa intenção é que essa embarcação não fique parada. A Univali, por exemplo, já se interessou bastante em fazer projetos em conjunto – comenta a cientista, que também é gerente de projetos do veleiro.
O projeto do veleiro ECO tem recursos públicos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. A comunidade pode acompanhar a navegação do veleiro ECO por meio do site, das redes sociais e de uma série televisiva com 13 episódios de 15 minutos cuja exibição está prevista para acontecer no Canal Futura em data a ser confirmada.
Navegação em dupla
Na semana passada, foi a vez do lançamento de outra embarcação voltada à pesquisa. O navio Ciências do Mar I foi inaugurado em Rio Grande (RS) e servirá como laboratório para atividades acadêmicas dos cursos de Ciências do Mar de universidades do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e do Paraná. A estrutura faz parte de projeto financiado pelo Ministério da Educação (MEC), liderado pela Universidade Federal do Rio Grande (Furg), que prevê um investimento de R$ 45 milhões para a construção de quatro navios.
Com dois laboratórios e instrumentos científicos, o navio tem equipamentos para pesquisas em camadas submersas do oceano. Conta com cinco guinchos e um guindaste para lançar e recolher amostras e também para efetuar operações de pesca. Tem acomodações para 26 pessoas, entre alunos, professores e oito tripulantes.
A embarcação, também considerada laboratório de ensino flutuante, custou R$ 11 milhões vindos do MEC e ficará sob responsabilidade da Furg. Os outros três navios previstos estão sendo construídos para atender a outras regiões do Brasil e ficarão sob administração da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e da Universidade Federal Fluminense (UFF). Para um dos idealizadores do projeto, o professor Luiz Carlos Krug, do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Marda Furg, o navio preenche uma lacuna de prática no aprendizado na área e será de grande valor para o ensino e a pesquisa ligados à vida marinha.
O veleiro ECO
Tamanho: 5,2 metros de altura, 20 metros de comprimento e 5,40 metros de largura (60 pés)
Alimentação: 2 velas / motor a combustão com possibilidade de armazenamento de 5 mil litros de combustível
Autonomia: infinita com as velas velas / 4 mil quilômetros com motor
Onde pode navegar: desde águas rasas com 1,4 metros de profundidade até expedições polares, ou seja, em qualquer condições
Acomodação: até 10 pessoas
Duração da navegação: pode ser infinita, se considerado o dessalinizador responsável por tornar doce a água do mar