Graças a habilidades que nem imaginavam desenvolver, internos da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Fase) foram reconhecidos como artesãos profissionais. No começo do mês de julho, 43 jovens do Centro de Atendimento Socioeducativo (Case) de Novo Hamburgo se formaram após uma prova prática em que integrantes da Casa do Artesão de Porto Alegre avaliaram seus trabalhos em ponto cruz, crochê, pintura e dobraduras de papel (origâmi).
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A atividade foi desenvolvida em oficinas – a Fase oferece-as a partir do momento em que o interno chega à instituição. Com a Carteira do Artesão, eles poderão participar de feiras e exposições assim que deixarem a Fase. A ideia é proporcionar aos jovens uma oportunidade de renda após o período de internação. Os produtos confeccionados nas oficinas são comercializados dentro da unidade para funcionários e familiares.
– Receber esta carteirinha, para muitos, é o primeiro diploma. O intuito é ocupar o tempo deles lá dentro e oferecer oportunidade para quando saírem – afirma a primeira-dama e secretária de Desenvolvimento Social, Trabalho, Justiça e Direitos Humanos, Maria Helena Sartori.
Dados da Fase apontam que a reincidência, que é de 30% nas 23 Cases do Rio Grande do Sul, cai para 9% quando o jovem participa de oficinas. A diretora da Case de Novo Hamburgo, Claudia Patel, destaca que não há trabalho socioeducativo sem oficinas:
– Nelas, o jovem trabalha a angústia e até a agressividade, geradas pela privação de liberdade. Este é um meio pedagógico de chegarmos até ele. Nessas ocasiões, eles deixam escapar o que estão sentindo. Sem falar que estamos criando uma perspectiva para quando eles saírem daqui.
Além do período das oficinas, os jovens podem levar o material para dentro dos dormitórios.
– É algo que ajuda a passar o tempo, nos dá concentração. A gente esquece dos problemas – conta um jovem de 19 anos, interno há dois.
Ele diz que a família nem acreditou que estava fazendo crochê e criando peças como tapetes, jogos de banheiro e centros de mesa. Mais do que afastá-los do tédio, o artesanato ajuda os meninos a refletirem sobre a própria condição de interno.
– Nem minha mãe sabe fazer o que eu faço. Com o artesanato, a gente não pensa na rua, pensa no presente, fica menos vulnerável e menos tenso – diz outro jovem de 19 anos que está na segunda passagem pela Fase.
Outro menino de 18 anos diz que o ponto cruz "esfria a cabeça", além de desenvolver uma competência:
– Vou levar para o resto da vida esse aprendizado. Não me orgulho de estar aqui, mas ao menos vou saber que fiz alguma coisa útil aqui dentro.
Os jovens também participam de oficinas esporádicas, onde aprendem a fazer pães e trufas e são incentivados a ler. Na Case de Novo Hamburgo, são atendidos 146 internos. Em todo o Estado, são 1,3 mil.
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Carteira do Artesão
É o documento emitido pela Fundação Gaúcha do Trabalho e Ação Social (FGTAS), por intermédio do Programa Gaúcho do Artesanato (PGA), que identifica o profissional de artesanato devidamente registrado e reconhecido pelo Ministério do Trabalho e Emprego para fins de benefícios. Nela, estão impressos os dados de identificação, número de registro no PGA e as matérias-primas nas quais o profissional provou estar habilitado.
Permite, ainda, o reconhecimento como profissional autônomo, possibilitando contribuir para a Previdência Social e emitir notas fiscais das suas vendas – com a isenção do ICMS –, obter declaração de rendimentos e participar de exposições, feiras e eventos no Brasil e no Exterior.