A morte de um menino de dois anos em Porto Alegre, no sábado passado, voltou a alertar pais e responsáveis para os cuidados que cada faixa etária exige. A criança caiu do quarto andar de um prédio no Bairro Teresópolis, na Zona Sul.
Leia mais
Lei que permite descontos para compras feitas em dinheiro é sancionada
Justiça Federal paga R$ 101 milhões em RPVs no RS
O menino teria subido em uma cadeira na cozinha do apartamento e chegado à janela. Os avós vivem no endereço – o garoto e a mãe moram no Rio de Janeiro e estavam de visita. O local não contava com equipamentos de proteção nas janelas. O médico Renato Santos Coelho lamenta o ocorrido e reforça que casos como esse não são mais chamados de acidentes pela pediatria, pois são previsíveis. Ele alerta que a casa dos avós, por exemplo, é um dos locais de maior risco para os pequenos. A atenção precisa ser constante.
– Os avós não têm criança em casa faz tempo. Eles perderam aquela perspicácia de se dar conta dos perigos e se precaver. É comum intoxicação com remédios, por exemplo, porque o avô deixa as medicações na cabeceira da cama, na mesinha da sala – avisa o pediatra, presidente do Comitê de Desenvolvimento e Comportamento Infantil da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul.
Sem piscar
De acordo com o ONG Criança Segura, as quedas são a principal causa de internação por acidente para as crianças entre um e quatro anos de idade. Nessa fase da vida, a criança está mais independente, mas ainda não percebe as situações de perigo e não se protege delas.
– Se a permanência na casa do familiar for mais longa, vale a pena pensar em adaptações no ambiente. Do contrário, a supervisão tem de ser constante, daquelas de nem piscar, sem se distrair em nenhum momento – diz a coordenadora nacional da ONG Criança Segura, Gabriela Guida de Freitas.
Em época de férias, Gabriela lembra que esse cuidado deve ser perseguido. No caso de pousadas ou hotéis, é o caso de os pais se informarem antes se o local é adaptado para crianças. Segundo a coordenadora, os acidentes são a principal causa de morte de crianças e adolescentes de um a 14 anos de idade no Brasil.
Em 2014, os dados mais recentes do Ministério da Saúde apontam 4.319 mortes de crianças de zero a 14 anos devido a algum tipo de acidente. E 211 desses casos foram no Rio Grande do Sul. O Estado teve naquele ano 9,47 mortes a cada 100 mil crianças de até 14 anos, sétimo lugar entre os Estados. O índice é quase igual ao nacional, com 9,4 mortes a cada 100 mil.
Trabalho que dá segurança às famílias
Para quedas de janelas, a grande aliada é a tela de proteção. Os espaços das redes devem ser de, no máximo, 6cm, orienta a ONG Criança Segura. Há cinco anos fazendo a instalação desse tipo de equipamentos, Paulo Saraiva, 57 anos, sabe que seu trabalho salva vidas.
– A que mais costumo instalar nas janelas e sacadas é a tela com 5cm de espaços. E a média é de usar 25 ganchos para fixar na janela, ainda com as buchas. Fica com uma resistência muito boa – conta o instalador.
Ele mostra um dos seus trabalhados, feito em um apartamento do Bairro Jardim do Salso, Zona Leste da Capital. Nessa residência, a tela é fundamental para a segurança das quatro crianças que moram lá: de sete, seis, quatro e dois anos de idade.
– Ouço muito de clientes que só irão levar os filhos nas casas dos avós quando houver telas de proteção lá também. E é comum até os pais pagarem a instalação das telas nas residências dos avós – conta Saraiva.
Ele lembra que o verão, época do ano em que as janelas ficam mais abertas, é o ponto alto do serviço.
Confira quais são os principais cuidados para evitar acidentes
Com crianças de até 1 ano: nessa fase, a principal característica da criança é sua fragilidade e falta de capacidade para reagir aos perigos. O sufocamento e o engasgamento representam a principal causa de morte e as quedas são os maiores motivos de internação.
Como agir:
– Corte os alimentos em pedaços bem pequenos. Não dê alimentos redondos e duros, como uvas, pipoca, cenoura crua e nozes.
– Bebês devem dormir em colchão firme, de barriga para cima, cobertos até a altura do peito com lençol ou manta presos embaixo do colchão e com os bracinhos para fora.
– Mantenha sacolas plásticas fora do alcance.
– Remova do berço todos os brinquedos, travesseiros, cobertores, protetores de berço e quaisquer outros objetos macios quando o bebê estiver dormindo.
– Brinquedos e roupas com correntes, tiras e cordas com mais de 15cm devem ser evitados.
– Considere a compra de cortinas ou persianas sem cordas.
– Evite cuidar, ficar perto ou carregar as crianças no colo enquanto mexe em panelas no fogão ou manipula líquidos quentes.
– As tomadas devem estar protegidas por tampas apropriadas, esparadrapo, fita isolante ou mesmo cobertas por móveis.
– Guarde fósforos, isqueiros, velas e outros produtos inflamáveis em locais altos e trancados.
Com crianças de 1 a 4 anos: nesta fase, ela é muito curiosa e experimenta o mundo com seus sentidos. Está mais independente, mas ainda não percebe as situações de perigo. O afogamento é a primeira causa de morte por acidente. As quedas são a principal causa de internação por motivos acidentais.
Como agir
– Crianças pequenas podem se afogar em qualquer recipiente com mais de 2,5cm de altura de qualquer líquido, seja uma banheira, pia, vaso sanitário, balde, piscina, praia ou rio.
– Piscinas devem ser protegidas com cercas de, no mínimo, 1,5m de altura e portões com cadeados ou trava de segurança. Alarmes e capas de piscina garantem mais proteção, mas não eliminam o risco.
– Ensine as crianças a não correr, empurrar, pular em outras crianças ou simular que estão se afogando.
– Nunca deixe crianças sozinhas quando estiverem dentro ou próximas da água.
– Ensine as crianças que nadar sozinhas é perigoso.
– O colete salva-vidas é o equipamento mais seguro para evitar afogamentos. Boias e outros equipamentos infláveis passam falsa segurança porque podem estourar ou virar a qualquer momento.
– Use portões de segurança no topo e na base das escadas e corrimões. Caso a escada seja aberta, instale redes de proteção ao longo dela.
– Instale grades ou redes de proteção nas janelas, sacadas e mezaninos. Os espaços das redes e grades devem ser de no máximo 6cm.
– Mantenha camas, armários e outros móveis longe das janelas, pois eles podem facilitar que crianças os escalem e se debrucem para fora do prédio ou casa.
– Crianças com menos de seis anos não devem dormir em beliches. Se não tiver escolha, coloque grades de proteção nas laterais.
Com crianças de 5 a 9 anos: são influenciáveis e possuem pouca habilidade motora e julgamento crítico para reconhecer riscos. Os acidentes de trânsito – principalmente, o atropelamento – são a principal causa de morte por acidente e as quedas são o primeiro motivo de internação por causa acidental.
Como agir
– Só use bebê-conforto, cadeirinha e assento de elevação que possuam o selo do Inmetro ou a certificação americana ou europeia.
– Siga sempre o manual de instrução dos dispositivos de retenção veicular, certifique-se que eles são apropriados à idade da criança e que se adaptem adequadamente ao seu veículo.
– Não permita que uma criança menor de dez anos ande sozinha pela rua. A supervisão de um adulto é vital até que a criança demonstre habilidades e capacidade de julgamento do trânsito.
– Entradas de garagens, quintais sem cerca, ruas ou estacionamentos não são locais seguros para que as crianças brinquem.
– Tenha certeza de que as crianças fazem sempre o mesmo trajeto para destinos comuns, como de casa para a escola. Acompanhe-as algumas vezes para identificar o caminho mais seguro e ensine-as a completá-lo de forma prudente e cuidadosa.
– Explique para os pequenos que eles devem usar a faixa de pedestres sempre que possível. Mesmo na faixa, devem olhar várias vezes para os dois lados e atravessar em linha reta.
– Quando não houver faixa de pedestre, devem procurar outros locais seguros para atravessar, seja na esquina, em passarelas ou próximo a lombadas eletrônicas.
– As crianças devem brincar em locais seguros. Escadas, sacadas e lajes não são lugares para brincar.
– Ensine as crianças a guardarem seus brinquedos depois de brincarem.
– Certifique-se de que os brinquedos serão usados em ambientes seguros. Brinquedos conduzidos pela criança, como bicicleta, patins e skate, não devem ser usados próximo à escada, rua, piscina, lago.
– Crianças devem ser sempre observadas quando estiverem brincando nos parquinhos.
– Conheça os parquinhos onde as crianças brincam. Verifique se os equipamentos estão enferrujados, quebrados ou contêm superfícies perigosas.
Dica de ouro
– Os pais devem fazer uma ronda de segurança na casa. Segundo o pediatra Renato Santos Coelho, os pais devem se tornar crianças: de ponta a ponta da casa, abrir cada gaveta e armário que encontrarem, mexer nos móveis, abrir portas. Com isso, irão identificar muitos pontos de perigo na casa que devem ser corrigidos.
– Por exemplo, poderão achar tesouras e lâminas de barbear em locais de fácil acesso para crianças.
Fontes: ONG Criança Segura e pediatra Renato Santos Coelho, presidente do Comitê de Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento Infantil da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul