A humanidade deve reduzir consideravelmente as emissões de dióxido de carbono até 2020 para ter uma chance real de limitar o aquecimento global bem abaixo de dois graus Celsius, a meta do Acordo de Paris, afirmaram cientistas nesta quarta-feira (28). Caso o aquecimento ultrapasse esse limite de temperatura, o mundo sofrerá impactos devastadores, desde ondas de calor mortais até migrações em massa devido ao aumento do nível do mar, alertaram os pesquisadores em um estudo publicado na revista científica Nature.
Com o aumento da temperatura já registrado de 1ºC, mantos de gelos capazes de subir o nível dos oceanos em dezenas de metros estão derretendo mais rapidamente, barreiras de corais estão morrendo por estresse térmico, e marés de tempestade atingem cada vez mais as cidades costeiras.
A transição para as energias renováveis está em curso e é apoiada pelo amplo consenso sobre a necessidade de combater as mudanças climáticas - com a exceção notável dos Estados Unidos sob o governo de Donald Trump.
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Após aumentarem por décadas, as emissões de dióxido de carbono geradas pela queima de combustíveis fósseis estão estáveis há dois anos, em cerca de 41 bilhões de toneladas por ano.
Mas mesmo nessa taxa, o "orçamento de carbono" do planeta - a quantidade de CO2 que pode ser emitida na atmosfera sem ultrapassar o limite de 2ºC - será totalmente usado em algumas décadas, ou até mesmo antes.
"Ainda há um longo caminho para descarbonizar a economia mundial", de acordo com um comentário assinado por Christiana Figueres, ex-representante das questões climáticas da ONU, por três cientistas especialistas em clima e dois especialistas em sustentabilidade do setor de negócios.
"Quando se trata de clima, o tempo é tudo", escreveram.
Os autores convidaram os líderes que vão participar da reunião do G20 em Hamburgo, na Alemanha, em 7 e 8 de julho, a destacar o ano de 2020 como data limite para uma ação efetiva.
Mas após a decisão de Trump de retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris, assinado por 196 países, e a sua recusa em se unir a um consenso sobre o clima em uma cúpula do G7 em maio, tal desfecho parece incerto. Uma série de padrões devem ser cumpridos até 2020, alerta o texto.
As energias renováveis - principalmente eólica e solar - devem representar ao menos 30% do fornecimento mundial de eletricidade, de acordo com o comentário. Além disso, mais nenhuma usina a carvão deve ser autorizada após essa data.
No setor de transportes, os veículos elétricos - que atualmente representam apenas 1% das novas vendas de carros - devem representar 15% do mercado em 2020.
Os governos também devem requerer um aumento de 20% na eficiência de combustível para veículos pesados, assim como uma redução de 20% na poluição por dióxido de carbono por quilômetro percorrido no setor de aviação. A indústria da aviação é responsável por 2% do total de emissões de carbono registradas.
Gases do efeito estufa gerados por desmatamentos e pela agricultura representam hoje cerca de 12% do total global, e devem chegar a zero em até uma década, acrescentaram os especialistas. Eles também pediram medidas concretas para reduzir o carbono emitido pela indústria pesada, assim como por edifícios e infraestruturas.
Finalmente, os governos e os bancos devem multiplicar por dez a quantidade de "títulos verdes" utilizados para financiar medidas de redução de CO2, atualmente cerca de US$ 81 bilhões.