Muita gente prefere tomar remédio a mudar os hábitos para controlar um mal físico persistente. O problema é que a medicação tem sempre efeitos colaterais, inclusive alguns piores do que a doença que deveria tratar. Remédios que, a princípio, são considerados seguros podem esconder perigos, tanto incômodos quanto severos, que se tornam aparentes somente depois que milhões de pessoas os consomem durante um tempo razoavelmente longo.
É o caso de alguns medicamentos usados para conter um problema bastante comum: o refluxo gastroesofágico. Essas drogas já foram associadas a diversas complicações, que vão desde deficiências nutricionais, dores nas juntas e infecções, a fraturas, ataques cardíacos e demência. Embora não haja evidências definitivas da maioria dos riscos, é aconselhável optar por mudanças no estilo de vida para combater o problema, reduzindo ou mesmo eliminando o uso de remédios.
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O refluxo é mais que apenas um incômodo, ele envolve o fluxo retroativo do ácido gástrico sobre os tecidos acima dele. Isso acontece quando o esfíncter inferior do esôfago, um anel muscular entre o esôfago e o estômago, não consegue fechar adequadamente para impedir que o conteúdo desse segundo órgão suba em vez de descer. Às vezes o superior, entre o esôfago e a garganta, também apresenta problemas.
É uma doença grave que pode e deve ser tratada para que se evitem sintomas e consequências que podem colocar a vida em risco. Ela afeta os tecidos delicados do esôfago que, banhados pelo suco gástrico, corrosivo, podem danificá-los seriamente – e até causar câncer, quase sempre fatal.
Ao contrário do que muitos acreditam, a azia é apenas um dos muitos sintomas do refluxo. Além da má digestão, a doença pode causar uma tosse seca persistente, dor de garganta, pigarro, rouquidão, arrotos e/ou soluços, inchaço, dificuldade em engolir e uma sensação de bolo na garganta.
Jonathan Aviv, otorrinolaringologista afiliado à Faculdade de Medicina Mount Sinai Icahn, em Nova York, tinha 30 e poucos anos quando começou a desenvolver um sintoma assustador que depois descobriu ser causado pelo refluxo: acordava de repente, no meio da noite, com falta de ar e a sensação de estar engasgando. Como nunca tinha reclamado de azia, seu próprio médico duvidou que o refluxo pudesse ser a explicação. Entretanto, o tratamento lhe deu alívio e durou um ano, ensinando a Aviv o que fazer para controlar o problema.
Ele acabou escrevendo um livro, The Acid Watcher Diet (A Dieta Observadora do Ácido, em tradução livre), que explica como os diversos sintomas podem piorar, e oferece, em detalhes, um programa de cura e prevenção para ajudar muita gente a evitar os remédios mais receitados para tratá-los. Veja os principais pontos do livro.
SEIS DICAS CONTRA O REFLUXO
Emagrecer
Algo geralmente associada ao refluxo é o sobrepeso, principalmente a obesidade abdominal. Uma pessoa com índice de massa corporal (IMC) excessivo tem quase o dobro de risco de ter refluxo. Emagrecer é uma das melhores maneiras de encontrar alívio sem ter de apelar para os remédios.
Não fumar nem beber demais
Parar de fumar, limitar o consumo de bebida alcoólica e evitar refrigerantes são outras medidas preventivas importantes. O cigarro e o álcool podem afrouxar a tensão no esfíncter superior e causar sintomas como rouquidão, gotejamento pós-nasal e falta de ar, irritando a boca, a laringe e a traqueia.
Fazer pequenas refeições
Comer em excesso, deitar antes de terminar a digestão e praticar exercícios logo depois de se alimentar também podem gerar sintomas. Para quem sofre de refluxo, recomenda-se cinco ou seis refeições pequenas ao longo do dia, além de evitar comer até três horas antes de ir dormir. Como proteção a mais, a cabeceira da cama deve ser elevada pelo menos 15 cm.
Testar alimentos
Embora certos alimentos – como cebola crua, alho, sucos cítricos, café e chocolate – possam causar refluxo na maioria dos pacientes, tentativa e erro é o método mais eficiente de determinar o que comer. Mantenha um diário durante uma semana ou duas, registrando tudo o que for consumido e quanto tempo leva para aparecerem os sintomas, o que ajuda a identificar os vilões.
Evitar processados
Nem só os alimentos ácidos são problemáticos. Os muito gordurosos podem ser difíceis, porque levam tempo para serem digeridos. Diversos processados contêm substâncias ácidas para realçar o sabor e aumentar o prazo de validade. Por isso, prefira as opções naturais, principalmente proteínas magras como frango, peixe, clara de ovo e laticínios desnatados, feijões, legumes e frutas não ácidos.
Comer fibra
Os alimentos ricos em fibras também ajudam muito, perdendo só para a eliminação das opções ácidas. A dica é consumir 500 gramas de legumes por dia, além de 200 gramas de fruta. Boas sugestões são brócolis, cenoura, verduras de folhas escuras, maçã, frutas vermelhas, banana, abacate e pera, como também amêndoas, nozes, lentilhas e grão-de-bico.