A mesada pode ser o primeiro passo para começar a falar sobre a vida financeira com as crianças. Entender como funciona o processo de remuneração dos pais – que são pagos pelo trabalho que realizam nos seus empregos –, a importância do orçamento doméstico na família e a busca pelo consumo consciente são pontos que podem ser trabalhados com as crianças a partir da rotina da mesada.
Mas qual é a idade adequada para começar a falar de dinheiro com a criançada? Como inserir a mesada no orçamento familiar? E de que forma devem acontecer os acertos entre pais e filhos para que a prática seja educativa? Para responder essas e outras dúvidas, consultamos o educador e terapeuta financeiro Leandro Davi da Silva Rodrigues, da DSOP Educação Financeira.
De acordo com o educador e terapeuta financeiro Leandro Davi da Silva Rodrigues, antes de pensar em mesada, é importante que os pais comecem a conversar com os filhos – desde bem cedo, a partir de um ano de vida – sobre dinheiro, hábitos de consumo, o preço das coisas, como se dá o sustento da família, por exemplo.
Também é preciso ficar atento para que a criança não presencie discussões sobre dinheiro entre os pais e familiares, em tom de briga, para que não fique com a imagem de que dinheiro traz desavenças. O educador sugere que, só depois dessa conversa e do entendimento da mensagem, os pais passem a falar em mesada – independentemente da idade da criança. Leandro sugere que os pais façam uma revisão no orçamento familiar para definir o valor da mesada, que pode ser semanal.
– A criança tem memória de curto prazo, por isso é bom que receba mesada uma vez por semana. É importante manter a data porque motiva, valoriza a criança – explica.
Dicas para os pais
– Estimule seu filho a ter sonhos e ensine que todo sonho tem um preço. O ideal é que a mesada seja dividida em duas partes iguais: uma reservada no cofrinho, para a realização do sonho da criança, e outra parte para uso no dia a dia.
– No caso de crianças, sonhos de curto prazo são aqueles que podem ser realizados em até três meses. De médio prazo, em seis meses, e sonhos de longo prazo são os que podem ser realizados em até um ano. Isso ajuda na hora de definir quanto será necessário poupar até conseguir fazer a aquisição.
– Quando for fazer a compra do objeto tão esperado, é importante a criança levar as moedas ao caixa da loja para que sejam contadas. Isso vai deixá-la orgulhosa por ter conseguido fazer a aquisição a partir do hábito de poupar.
– Orçamento familiar apertado não é desculpa para deixar de dar mesada. Os pais podem estimular as crianças a juntar latinhas e garrafas pet para vender e reverter o dinheiro para a mesada, ou sugerir que reúnam brinquedos sem uso para serem vendidos num brique.
Importância de poupar se aprende desde cedo
Quando a assistente de eventos Karine Oliveira, 40 anos, respondia à filha Júlia, dez anos, que não tinha dinheiro disponível para comprar determinado objeto de desejo da menina, ela lembrava a mãe que, para isso, bastava pegar o cartão magnético.
– Eu olho o preço das coisas e peço para a mãe comprar. Já comprei uma boneca pela internet – contou Júlia, que já sabe fazer pesquisa de preços nos sites de produtos.
Foi aí que Karine percebeu a necessidade de começar a falar sobre dinheiro com a filha, sobre como funciona a vida financeira no mundo dos adultos, para que ela entenda que se trata de algo um pouquinho mais complexo.
– Ela achou que era simplesmente pegar o cartão. Vi que não sabia sobre dinheiro no banco, quanto custam as coisas – recorda a moradora do Bairro Humaitá, na Capital.
Aos nove anos, Júlia começou a receber mesada no valor de R$ 50, como parte do processo de educação financeira. A periodicidade é quinzenal. Com esse dinheiro, a menina costuma satisfazer pequenas vontades, como o sorvete e o lanche no shopping num passeio durante o Carnaval, por exemplo. Também usou a mesada durante o veraneio em Cidreira, comprou alguns itens do material escolar e também planeja poupar para outros planos.
– Estou economizando para comprar o quimono para o judô – contou Júlia, aluna do quinto ano do ensino fundamental.