Pouco mudou na relação do rendimento médio mensal de trabalho com o sexo e a raça dos brasileiros em duas décadas: homens e mulheres brancas, nessa ordem, continuam ganhando mais que homens e mulheres negras, mesmo com o crescimento da renda dessa parte da população no período.
É o que mostra o estudo Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça, divulgado nesta segunda-feira pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com base em séries históricas de 1995 a 2015 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
De acordo com a pesquisa, o rendimento das mulheres negras foi o que mais se valorizou em 20 anos, passando de uma média de R$ 570,30 por mês em 1995 para R$ 1.027,50 mensais na média em 2015 – um aumento de 80%, em valores já atualizados pela inflação. Já o rendimento dos homens brancos foi o que menos cresceu: 11% (de R$ 2.262,60 para R$ 2.509,70). Eles ainda são quem tem melhor remuneração, seguidos de mulheres brancas, homens negros e mulheres negras.
Enquanto a jornada média de trabalho dos homens foi de 40,8 horas por semana em 2015 – menos que as 45,3 horas registradas em 1995 –, a das mulheres foi de 34,9 horas, pouco menor que as 35,1 horas semanais de duas décadas atrás. Conforme o estudo, porém, as mulheres trabalham em média 7,5 horas a mais que os homens por semana: isso porque 91% das mulheres com alguma ocupação declararam realizar atividades domésticas, o que representaria uma dupla jornada que só seria feita por 53% dos homens na mesma situação.
– A responsabilidade feminina pelo trabalho de cuidado (doméstico) ainda continua impedido que muitas mulheres entrem no mercado de trabalho. E, ao mesmo tempo, aquelas que entram no mercado de trabalho continuam respondendo pelas tarefas domésticas. Isso faz com que a gente tenha dupla jornada e sobrecarga de trabalho – afirma Natália Fontoura, técnica de planejamento e pesquisa do Ipea e uma das autoras do estudo.
Ela explicou que a taxa de participação das mulheres no mercado de trabalho aumentou muito entre as décadas de 1960 e 1980, mas que nos últimos 20 anos houve uma estabilização.
– Parece que as mulheres alcançaram o teto de entrada no mercado de trabalho. Elas não conseguiram superar os 60%, que consideramos um patamar baixo em comparação a muitos países – disse a pesquisadora.
O estudo também mostra que os lares brasileiros estão, cada vez mais, sendo chefiados por mulheres. Em 1995, 23% dos domicílios tinham mulheres como pessoas de referência e, 20 anos depois, esse número chegou a 40%.
O Ipea destacou também a redução de jovens entre as empregadas domésticas. Em 1995, mais de 50% das trabalhadoras domésticas tinham até 29 anos de idade (51,5%); em 2015, somente 16% estavam nesta faixa de idade. Eram domésticas 18% das mulheres negras e 10% das mulheres brancas no Brasil em 2015.
* Com informações da Agência Brasil