O Hospital Universitário de Canoas tem hoje 400 leitos, mas poderia ter cerca de 600 se todo o potencial fosse aproveitado. O sétimo andar do edifício e praticamente todo o quinto estão desativados, o que impossibilita o uso de cerca de 200 leitos. As informações são da Rádio Gaúcha.
O motivo: o sucateamento do hospital. Além de andares desativados devido a danos no piso, a reportagem da Rádio Gaúcha encontrou, na tarde desta terça-feira, dezenas de equipamentos estragados e amontoados em salas da instituição. São tomógrafos, incubadoras, mamógrafos e camas hospitalares, entre outros.
A Gamp, empresa vencedora da licitação e que assumiu o hospital em dezembro de 2016, afirma que já recebeu assim da antiga gestora, o Grupo Mãe de Deus. O superintendente da Gamp Canoas, Rafael Lima, diz que notou a situação imediatamente, mas que havia a expectativa de que os problemas fossem menores.
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– Nós temos áreas físicas depreciadas, com o piso estragado, que precisam de reparos. Chegaríamos a 200 leitos se pudéssemos aproveitar todas essas áreas – afirma.
A prefeitura só tomou conhecimento da situação recentemente, em relatório de prestação de serviços solicitado à empresa Gamp. A empresa recebe R$ 16 milhões mensais para gerir, além do hospital, duas UPAs, o HPS e mais duas unidades de saúde.
A secretária municipal de Saúde, Rosa Maria Groenwald, garante que os repasses estão em dia, mas que há dívidas da gestão anterior. Ela relatou que a fila em Canoas é de 153 mil pessoas aguardando por exame e cirurgia e, assim, os problemas no hospital acabam agravando a espera:
– Quem perde é a população, com toda a qualidade que temos, e o hospital sucateado desta forma. É um absurdo – lamentou.
O prefeito Luiz Carlos Busato diz que vai acionar o Ministério Público para buscar entender o que está acontecendo. Em até 30 dias, a Gamp espera detalhar todos os equipamentos que estão atrasados e os prazos para conserto.
Em nota, o Sistema de Saúde Mãe de Deus informou que sempre pautou a gestão das unidades de saúde de Canoas nas diretrizes contidas nos contratos e convênios firmados com a prefeitura. O grupo afirma que empregou a experiência de mais de 30 anos de atividade no setor e garante que toda a infraestrutura, equipamentos e estoque de material e de medicamentos necessários foram transferidos e documentados. A nota ainda garante que, no período em que o grupo esteve à frente do hospital, trabalhou dentro de rigorosos padrões de segurança e qualidade assistencial.
Hospital
O Hospital Universitário de Canoas é o antigo Hospital da Ulbra, o maior do município. Com 10 andares, possui UTI, UTI neonatal, UTI pediátrica, bloco cirúrgico e centro obstétrico, além de 400 leitos. O hospital atende convênios e SUS.
Paciente compra medicamentos para o pai
Vinícius Ortiz, cujo pai está internado com câncer no hospital, relatou à reportagem que precisou comprar luvas e gaze, porque estavam faltando no hospital. Ele disse que já gastou cerca de R$ 100. Apesar da falta de insumos, afirma que os funcionários atendem bem.
– O problema é que aqui está faltando tudo. Ele está em estado terminal. Começou com falta de luva. A enfermeira estava usando o mesmo par porque não havia luvas, e aí compramos. Logo precisamos de um óleo, que faltou. Comprei também. Aí precisa também de álcool gel, e compramos – relatou.
A Gamp diz que não tem informações de que isso esteja acontecendo, já que não faltam equipamentos para o atendimento dos pacientes no hospital. Afirma, no entanto, que vai verificar o caso, já que recebeu o hospital com dívidas com fornecedores.