Mesmo as crianças que ainda não são alfabetizadas podem e devem ser estimuladas a entrar no mundo da fantasia por meio do contato com os livros infantis. Há pesquisas que recomendam o manuseio de livros já na primeira infância, no período entre os 15 meses e três anos de vida. Uma criança que convive com os livros desde pequena tem mais facilidade no decorrer do processo de alfabetização, entre outras competências que vão sendo desenvolvidas. O Diário Gaúcho traz dicas para os pais tornarem os livros itens de destaque na rotina da criançada.
Um momento de aconchego
– A narrativa faz parte da vida da criança desde a voz da mãe, das canções de ninar – explica Maria Aparecida Laginestra, pedagoga da equipe do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec) e coordenadora da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro.
Nesta faixa etária, é importante os pais disponibilizarem os conhecidos livros de brincar: livros de tecido, emborrachados, de plástico, que possam ser usados no banho, com muitas imagens, texturas. Esta é a fase do toque, na qual a criança precisa sentir o livro nas mãos. Portanto, os pais precisam permitir o manuseio do livro, sem a preocupação com o risco de estragá-lo. O contato com os livros é uma experiência. Outra dica importante aos pais é tornar o contato com os livros um momento de aconchego, de contato afetivo com a criança, mostrar o livro, ler o título, o nome dos autores.
Leia mais:
Veja como permitir com limites o acesso da criançada à tecnologia
Nas férias da gurizada, veja como economizar brincando
Os pequenos e a tevê: de olho no que as crianças assistem
Dicas para os pais
– Os livros para crianças na faixa a partir dos 15 meses geralmente são coloridos, só têm ilustrações, sem texto. Alguns têm texturas, emitem sons, outros têm recursos como pop-up (dobraduras que parecem saltar das páginas quando abrimos o livro). Os materiais podem ser tecido, emborrachado, plástico – devem ser macios, para evitar que a criança se machuque. É importante que fiquem numa estante baixa, ao alcance da criança.
– É bacana escolher um momento do dia para explorar os livros. Há famílias que fazem isso antes do horário da criança dormir. Os pais devem entrar na fantasia e conversar com os filhos sobre as histórias.
– Para familiarizar a criança com o mundo da literatura, uma boa dica é começar a frequentar livrarias. A maioria realiza eventos infantis, oficinas e contações de histórias. Os pais também podem apresentar as bibliotecas públicas da cidade.
– A criança terá a curiosidade pelos livros despertada se tiver leitores em casa. Vendo os pais manusearem livros e jornais, a criança se sentirá instigada. Essa aproximação que começa com os livros é continuada posteriormente na escola.
– Para crianças a partir dos três anos, os livros já podem ter frases simples – o texto em caixa-alta é mais apropriado para quem está para ser alfabetizado.
– Entre os três e quatro anos, as crianças costumam querer repetir as histórias de que mais gostam. Isso é comum, porém é importante os pais oferecerem outras histórias para diversificar.
– Livros de poesia são interessantes porque a sonoridade vai ajudar posteriormente na alfabetização.
– Os pais devem observar os interesses da criança na hora de escolher a temática dos livros para identificar aquilo que desperta a curiosidade.
– Independentemente da idade, é possível contar histórias para todas as crianças. Os pais devem optar por histórias curtas, nas quais os pequenos prendam a atenção. O gosto é algo que pode ser educado, lapidado, por isso é importante proporcionar a experiência à criança.
Apaixonado pelo livro
Cayke, de dois anos, não solta o livro nem na hora do banho. A mãe, a dona de casa Letícia de Oliveira Nogueira, 22 anos, do Bairro Restinga, na Capital, separa uma hora todas as tardes para que ele e o irmão mais novo, Lucas, de dois meses, tenham contato com as figuras e palavras. Com a demora no desenvolvimento da fala do filho mais velho, que não formava sílabas até um ano e meio, uma tia lhe recomendou que lesse para eles e improvisou um livro, com colagens de figuras de bebês e animais, para que Cayke fizesse associações entre o que era familiar do cotidiano dele. Logo, surgiram os primeiros "nenê" e "au-au", reconhecendo a si mesmo e aos cachorros da família nas páginas.
– Ele começou a ler do jeito dele. Por mais que não entenda, ele lê pra mim todo dia, aponta as figuras, interage. Percebi que ele começou a diferenciar fotos de animais e vi que o livro fez muita diferença no início da fala – relembra Letícia.
Onde vão, carregam consigo a sacola cheia de livrinhos. Ao ver o livro "Papai!", de Philippe Corentin (Cosac Naify), não tinha espaço para mais ninguém. "Sauro, sauro!" apontava para a mãe, reconhecendo o dinossauro no exemplar que carregava. Outro livro, emborrachado e colorido, também é o xodó do menino. Aperta, passa a mão, vira de cabeça pra baixo, sente o livro mesmo sem saber as palavras. Lê do jeito que sabe por enquanto, com as mãos.
* colaborou Camilla Pereira